CAPÍTULO TRÊS

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Entrei em meu carro, furiosa e logo toda a minha fúria transformou-se em lágrimas. Bati no volante com força e senti minha garganta fechando, enquanto os soluços e as lágrimas se manifestavam de forma involuntária. Não consigo entender como deixei minha vida chegar a este ponto. Como perdi o controle até do meu relacionamento. Meu namorado e eu mal nos falamos, não nos relacionamos bem e estamos sempre brigando. Não quero perdê-lo, mas como manter um relacionamento tóxico para os envolvidos?
Eu queria saber a fórmula para um relacionamento perfeito, infelizmente ainda não existe.

Após conseguir controlar um pouco minhas emoções, dirigi até o meu pico favorito da cidade onde sempre venho para refletir e pensar sobre minhas ações. Nada me faz tão bem quanto a natureza, não sei como explicar, eu só... me sinto conectada a ela e sinto sua lealdade a mim.

Eu não fazia ideia de que poderia perder tudo em um simples instante. Me sinto uma egoísta por agir dessa forma com minha mãe, mas eu simplesmente não posso ignorar o fato de que ela me ignorou e em sua lista de prioridades, eu com certeza desci para o último nível. Ela realmente esqueceu que sou sua filha? Isso não pode acontecer, eu não quero que aconteça. Mas também não posso permitir que ela se vá sem antes pedir perdão. Se eles agiram dessa forma, com certeza falta pouco tempo e só queria poder ser menos rancorosa e aproveitar tudo da melhor maneira possível.

Depois de alguns instantes senti uma grande vontade de chorar, algo me dizia que uma coisa muito ruim estava para acontecer e eu sabia, bem lá no fundo que tinha relação com minha mãe, mas eu não queria acreditar. Não podia acontecer algo assim tão cedo, ainda preciso dela. Preciso do cheiro dela, de seu abraço, seu colo, seus beijos, perder minha mãe agora significa perder minha vida. Significa absolutamente tudo que tenho.

Entrei em meu carro, ainda tentando segurar o choro e coloquei uma música¹ baixa para que eu fosse escutando no caminho para casa, é a minha música favorita e cabe perfeitamente a este momento. Liguei o carro e sai cortando toda a interestadual em direção a minha casa para pedir desculpas e tentar aproveitar todo tempo que puder com minha mãe.
Essa reflexão me fez rever meus conceitos, minhas prioridades. Minha birra não pode dominar este momento, não posso viver sem minha mãe, mas quero poder aproveitar cada minuto ao seu lado.

Cerca de dez músicas depois, eu estava estacionando na rua em frente minha casa, já que o carro do Leonardo estava na entrada da garagem, o que é estranho, se for parar para pensar. Ele já deveria ter ido para o hotel onde ele está hospedado há muito tempo. Visitas não podem ficar o dia todo na casa de uma pessoa.

Quem ele pensa que é?

Entrei em casa pela porta da cozinha e enquanto eu limpava minhas botas no assoalho, ouvi eles conversarem:

— Ela vai fazer 16 anos, Léo. Você precisa contar a ela.

— Eu não vou meter minha filha nessa confusão. As forças especiais estão prontas, o rei mandou alguns vigias para observarem de tocaia na floresta e mandamos um agente disfarçado para tentar fazer eles virem até nós. — Falou irritado.

— Mas e a profecia? — Perguntou.

— Que se dane a profecia, ela... — Ele parou de falar no instante em que pisei em um assoalho meio solto que rangeu.

— Filha, é você? — Perguntou mamãe.

— Sim. — Falei e entrei na casa. — Do que vocês estavam falando?

— Estávamos falando de um caso do seu pai. — Respondeu com um sorriso culpado no rosto.

Meu pai é policial na cidade onde ele mora, então ele tem muitos casos de assassinato e isso é bem bizarro, já que estamos falando de uma pequena cidade que fica no interior dos Estados Unidos.
Minha mãe estava mentindo, eu sabia. Ela sempre mentiu muito bem, mas ela tinha seu caguete e eu o conhecia muito bem,  então resolvi entrar no jogo. 

— Tudo bem. — Sorri e fui para o meu quarto, com um pouco mais depressa que o necessário.

Quando entrei, bati a porta para que meus pais pudessem ouvir e ter privacidade. Sentei em minha cama e peguei o computador que estava na cabeceira, o abri e loguei na rede social para conferir todas as novidades no mundo das celebridades. Depois de checar algumas notícias, digitei na URL a chave de busca do site de músicas e coloquei uma música que me fizesse dançar e terminar a noite de um jeito legal, ou diferente do que havia começado. Coloquei o computador em cima da cama e me levantei para dançar. Dancei levemente enquanto andava pelo quarto até chegar no guarda roupas e peguei meu pijama. Depois de dançar mais um pouco e trocar de roupas, me joguei na cama e peguei no sono.

🌒🌓🌔🌕🌖🌗🌘

— Filha! 

Ouvi minha mãe bater frenéticamente na porta e virei para o lado oposto, resmungando que não queria levantar.

— Marianna! — Percebi que ela estava furiosa.

— Fala, mãe!, —  Gritei de volta, irritada por ela ter gritado comigo.

— O Vector está aqui. Não quer falar com ele?

Resmunguei alguns xingamentos ao Vector por ele ter aparecido aqui sem me avisar e por ter interrompido meu sono.

— Eu já estou indo. — Avisei com pouco ânimo.

— Não deixa o menino esperando, hein Marianna! — Falou irritada.

Eu, involuntariamente costumo deixar o meu namorado esperando todas as vezes que ele vem sair ou que vamos nos ver. Ouvi ela se afastar pelo corredor e coloquei o travesseiro contra o meu rosto para conter um grito. Levantei, contra minha própria vontade, e segui até o banheiro para lavar meu rosto. Vi que estava apresentável, calcei minhas pantufas e desci para a sala, onde ele estava sentado me aguardando.

— Oi. — Falei seca, quando cheguei ao último degrau da escada. — Espero que tenha notado no pijama.

— Desculpe. Podemos conversar? — Na sua voz tinha um pouco de arrependimento. 

— Sim, vamos até o meu quarto. — Avisei com um pouco de calma e subi as escadas até o meu quarto, onde ele entrou logo em seguida, encostou a porta e se acomodou em uma cadeira que tinha na escrivaninha.

O observei sentar e fiquei esperando ele dizer a primeira palavra. Ele ficou me olhando, talvez um pouco ressentindo e logo falou:

— Eu vim me desculpar. 

Eu fiquei esperando ele continuar por alguns segundos e ele abaixou a cabeça.

— Eu fui grosso com você e também não compreendi o que você sentia. Me desculpe. — Falou triste. 

Eu respirei fundo e comecei:

— Olha não vou negar que estou muito brava com você, ou que estou ressentida. Não seria eu se não dissesse isso. — Ele assentiu e eu prossegui com a fala. — Mas eu entendo seu altruísmo, embora meio exagerado as vezes, e entendo também que você seja assim. Eu te conheço, meu amor e sei que você se preocupa muito com o que penso de outras pessoas. Também devo me desculpar. Eu acho que eu e minha mãe já estamos bem. Então, obrigada por me fazer refletir. — Dei um sorriso fraco e ele sorriu de volta.

— Realmente está tudo bem? — Perguntou com um pouco de animação contida. 

Concordei com a cabeça em resposta e ele abriu um grande sorriso e veio me abraçar. 

— Odeio ficar brigado com você. — Disse baixinho no meu ouvido.

Dei uma risada concordando e o beijei.

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1 - Música da cantora Christina Perry, Human. Vide mídia.

A Herdeira da Lua [New Version // SLOW UPDATE]Onde histórias criam vida. Descubra agora