CAPÍTULO NOVE

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— Senhorita Moore esse é o seu armário, número 398. Aqui está a chave e não a perca, a multa é de 15 dólares. — Me entregou a chave e sorriu.

Que falsa!

— Obrigada. — Um sorriso cínico se formou em meus lábios.

— E essa é a sua sala para as aulas de inglês, é bem de lado do seu armário. — Apontou para a porta à nossa frente.

— Ah, mas que conveniente. — Resmunguei e meus olhos reviraram quando ela se virou para abrir a porta.

— O que disse?

— Ah, que eficiente! — Sorri.

Grrrr. Essa mulher me irrita!

— Bom, venha que vou lhe apresentar a sua turma. — Falou enquanto entrava na sala.

Ela pediu licença à professora que estava escrevendo no quadro e pediu um minuto da atenção dos alunos. Confesso que eu estava bastante nervosa com essa história de novata. Odeio mudanças, mas pelo visto não posso mudar nenhum dos acontecimentos dos últimos meses.

— Crianças, essa é a nova aluna, Marianna Moore. — Apontou para mim e me encolhi envergonhada.

— Seja bem vinda senhorita Moore! — A professora disse sorrindo e muito animada, por sinal.

O que essas pessoas dessa cidade tem? Parece que é tudo arco-íris por aqui. Todo mundo fica feliz o tempo todo, mais que saco.

— Você pode sentar ao lado do senhor Mitchell. — Apontou para uma mesa no meio da sala.

— Eu aqui! — Disse o Mitchell apontando para si mesmo e eu me esforcei para conter o riso.

Parece um panaca, mas até que é bonito. Acho que acabei transpassando meus pensamentos para minha expressão, porque ele deu um pequeno sorriso e ficou um pouco ruborizado.

Quando eu estava indo para o meu lugar, um garoto invadiu a sala correndo e gritou pedindo licença a professora e a diretora. Tudo aconteceu muito rápido, me virei para ver quem era e quando percebi, senti o impacto do seu corpo contra o meu e nós dois caímos no chão e toda a turma começou a rir.

— Ah seu idiota! — Gritei irritada. O empurrei e ele caiu para o lado. — Você não olha por onde anda não?

— Você que é a cegueta. Fica na frente por quê? — Se levantou.

— Se você não prestou atenção, cegueta, eu estou no corredor. — Respondi de maneira sarcástica.

— Ih, a novata é irritadinha. — Algum engraçadinho disse isso e todos na sala riram.

— Dá para você sair da minha frente, seu idiota?

— Calma aí irritadinha. — Se abaixou para pegar meus livros que caíram no chão.

Os outros meninos da sala começaram a falar várias baboseiras. Diziam que ele já estava apaixonado e que precisaria virar domador de leões para ficar comigo. Outros diziam que eu era a próxima a cair no encanto desse babaca e essas falas só me deixaram mais estressada.

Quando ele se levantou pra entregar meus livros e nossos olhares se cruzaram, uma expressão de choque se formou em seu rosto. Fiquei tentando entender o que o levaria a ter essa reação se nunca havíamos nos visto antes.

— Moore e Williams, para os seus lugares agora. — Disse a diretora e sua voz parecia impaciente.

— Sim diretora. — Concordou, me entregou meus livros, pegou sua bolsa e seguiu para seu lugar.

Ainda fiquei parada por alguns segundos tentando entender o que havia acontecido e a voz da diretora ressoou pelo ambiente mais uma vez, mas agora somente o meu nome havia sido pronunciado. Então fui para o meu lugar e me sentei onde a professora indicou.

— Não esquenta, o Harry não é esse babaca o tempo todo não. — O meu colega de mesa falou e deu um sorriso. — O meu nome é Bernard, mas todos me chamam de Ben.

— Mari. — Sorri e olhei para o quadro negro, onde a professora escrevia o livro que deveríamos ler durante o semestre escolar.

🌒🌓🌔🌕🌖🌗🌘

Durante o decorrer do dia, eu e o Ben ficamos juntos. Ele me ajudou a encontrar as salas para as aulas e prometeu que me levaria para conhecer a cidade antes do jantar.

Confesso que fiquei encantada com os olhos azuis daquele garoto e seu cabelo castanho escuro com cachinhos de anjo me derrubou. Talvez algum dia eu tenha a oportunidade de ser abraçada por aqueles braços enormes enquanto trocamos algumas carícias.

Perdi a noção do tempo enquanto ficávamos na sala de aula. As aulas eram tão entediantes, há muito tempo não via algo assim. Aqui nessa escola os alunos precisam de um pouco de ação e não de quietude. Essa cidade já é bizarra por si só, não precisa de uma escola com alunos comportados, mas acho que posso dar uma agitada aqui.

Depois de longas horas o sinal para a saída tocou e o Ben e eu nos despedimos com um beijo no rosto, ele me disse que seu pai havia pedido que ele passasse na mercearia para ajudar a arrumar o estoque e eu disse que o encontraria no horário que havíamos marcado, às dezesseis horas para o nosso passeio pela cidade.

Arrumei meus livros e comecei a andar pelos corredores tentando encontrar meu armário, até que me dei conta que, além das moscas e dos nerds na biblioteca, eu era a única no prédio, mas achei estranho a sensação que tive de estar sendo seguida, então olhei para trás e vi apenas a sombra de um garoto no final do corredor, provavelmente mexendo no celular, continuei andando, mas a sensação permanecia. Até chegar no armário olhei para trás mais algumas vezes, mas ainda assim não havia ninguém lá.

— Devo estar ficando louca. — Balancei a cabeça e me assustei com a voz que respondeu:

— É, acho melhor ir no psiquiatra. — Ele deu uma risada e eu fiquei possessa de raiva.

— Por que você não vai à merda? — Lancei um olhar furioso e me virei para abrir meu armário.

— Você poderia ser um pouco mais educada, não acha? — Ele segurou a alça da mochila e encostou nos armários ao lado.

— O que você quer? — Falei ao bater à porta do armário com força.

— Que você não quebre os armários, de preferência, mas estou mais interessado no seu nome. — Ele sorriu e apareceram duas covinhas em seu rosto e, cá entre nós, eu amo covinhas.

— Não. — Falei e saí batendo o pé.

— Qual é irritadinha! — Gritou enquanto tentava me alcançar.

— Me esquece garoto!

— Me diz logo seu nome e eu te esqueço com todo prazer. — Ouvi uma risada cínica e me virei para olhar em seus olhos.

— Garoto, vai embora. Qual a dificuldade de entender que eu não quero conversa com você? — Tinha tanta raiva em minha voz que ele recuou um pouco.

— Tudo bem, — ele pigarreou — mas só por enquanto.

Me virei furiosa e saí andando pelo corredor em direção a saída.

— Eu não desisto fácil, irritadinha! — Gritou alto o suficiente para que eu ouvisse mesmo depois de passar pela saída.

Revirei os olhos e falei:

— Quem espera, nem sempre alcança. — Dei de ombros e segui pelo meu caminho.

Mas não pude parar de pensar que talvez essa escola seja mais interessante do que eu penso.

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⏰ Última atualização: Jul 18, 2021 ⏰

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