CAPÍTULO QUATRO

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Após nossa conversa e um pequeno momento de íntimidade, descemos para a cozinha e fui surpreendida por um choque que antigiu meu corpo em cheio. Senti minha visão turva e por um momento perdi o equilíbrio. Tudo começou a girar em câmera lenta. Vi o Vector correr e abaixar para ajudar, mas eu estava presa em um transe.

Era minha mãe.

Ela estava no chão.

Então corri em sua direção e me joguei sobre meus joelhos. Eu não imaginava que aquilo poderia acontecer assim, ainda mais nesse momento. Foi tão rápido que mal sabia o que fazer.

- Liga para a emergência! - Grito para o Vector enquanto ele me olha em choque. - Agora! - Volto a repetir, mas dessa vez com lágrimas no rosto.

Enquanto eu tento acordá-la, volto a viver momentos da minha infância entre minhas lágrimas e aos poucos minha visão vai ficando mais nítida. Consigo visualizar o meu primeiro ralado que foi feito quando caí do balanço no parquinho. Eu chorava enquanto corria em sua direção e ela me esperava com os braços abertos e seu olhar terno que ela dava especialmente para mim. Como eu me sentia segura quando ela me pegava em seu colo, afagava meus cabelos e me dizia que iria fica tudo bem;

- Minha pequena bruxinha, ficará tudo bem.

Então, sentia seus braços tão macios e ternos me envolvendo em um abraço que me transmitia segurança. Ah como eu amava permanecer daquele jeito com ela, tão juntinha e tão perto. Mas agora ela está morrendo em meus braços e não faço ideia do que posso fazer para impedir isso.

- A ambulância chegou. - Ouvi a voz de Vector soar terna no ambiente.

Então a porta se abriu e vários paramédicos com roupas brancas e vermelhas invadiram a cozinha fazendo perguntas que eu não conseguia responder, então desabei em lágrimas e soluços.

- Por favor, salvem minha mãe. - Implorei em meio às lágrimas.

- Ela irá ficar bem. - Respondeu uma paramédica loira.

Assenti concordando e tentei ficar estável, mas nada me acalmaria agora, além do abraço da minha mãe.

- Iremos para o Hospital Memorial de Denver se quiser ir para lá. - Disse a loira, que tinha no seu uniforme escrito "Schimitt", em sua placa de identificação.

Assenti freneticamente e sorri seco agradecendo. Ela abaixou a cabeça e após eles saírem logo ouvi as sirenes soarem assustadoramente alto. Só então pude perceber o quão real era aquele momento.

- Amor, já liguei para o seu pai. Ele vai nos encontrar lá. - Eu o olhei nos olhos e pedi um segundo sozinha. Ele concordou, pegou as chaves, seu casaco e saiu deixando a porta semiaberta.

Eu estava sozinha. Finalmente estava sozinha. Então respirei fundo,

Uma...

Duas...

Três vezes, então me dei conta da verdade;

Eu estou sozinha.

🌒🌓🌔🌕🌖🌗🌘

Fiquei em silêncio durante todo o caminho para o hospital e lá fora chovia muito. O tempo estava triste, do jeito que eu e minha mãe amávamos, mas dessa vez era diferente. Algo estava tão... estranho. Era surreal aquele momento e aquele dia. Foi um verdadeiro dia de cão.

- Vamos? - Disse Vector ao abrir a porta do passageiro para me ajudar a sair.

Estendi o braço e agarrei sua mão com força, então desci e entramos no hospital. Leonardo já estava lá, esperando notícias minhas e da mamãe. Ele parecia muito agitado e ansioso.

- Ah filha, que bom que chegou. - Correu para me abraçar quando me viu, mas me mantive imóvel.

- Onde ela está? - Perguntou o Vector.

Eles começaram a conversar sobre o estado de saúde dela, mas a única coisa que eu conseguia ouvir era um som muito alto e agudo. A minha visão começou a embasar, tudo começou a girar e nada fazia mais sentido.

As pessoas me olhavam como se eu estivesse morrendo e o Vector dizia algo com o olhar muito triste. O Leonardo ficava dizendo algo como "eu sinto muito, eu lamento". Mas eu não queria ouvir nada do que diziam. Eu estava me esforçando para me permanecer estável e compreensiva, mas a única coisa que saiu da minha boca foi:

- Quero vê-la agora.

Eles se entreolharam e concordaram que eu poderia ir. Me ajudaram a encontrar o quarto, mas eu não estava sentindo absolutamente nada, nem o chão em que eu estava pisando. Eu estava completamente aérea. Estava extasiada.

Ao entrar no apartamento, ela estava dormindo e respirando com a ajuda de aparelhos. Eles me observaram um pouco, mas me deixaram a sós com minha mãe depois de apenas alguns segundos. Eu a olhei, analisei como ela estava e tentei entender como pessoas boas podem passar por tais atrocidades. Como coisas ruins podem acontecer com pessoas tão boas? Eu sinceramente quero entender, na verdade eu preciso, pois só assim poderei digerir de maneira mais "fácil" a situação.

- Mamãe... - Sussurrei enquanto me aproximava.

Passei a mão em seu rosto e sorri triste.

- Como isso foi acontecer mamãe? Você não pode me deixar. - Meus olhos marejaram e tudo ficou embasado novamente. - Como vou sobreviver sem você? Sem sua comida e suas broncas - dei uma leve risada. - Por favor, volta. Por mim.

Ela se mexeu um pouco na cama e logo apareceu um sorriso doce em seus lábios, após ela tirar a máscara de oxigênio.

- Filha, eu sinto muito por tudo que está acontecendo... - sua voz estava rouca.

- Mamãe... - abaixei a cabeça e as lágrimas saiam sem que eu pudesse controlar.

- Minha bruxinha, está tudo bem. - Sussurrou - Eu te amo e eu vou sempre estar com você, no seu coração e nas suas lembranças.

- Não fala isso, você não vai morrer. - Olhei em seus olhos e havia ternura, mas eu não conseguia me sentir bem.

- Filha tá tudo bem. - Ela segurou minha mão. - Eu sempre estarei com você, não esquece.

Sua voz estava rouca e ela tossia entre as palavras.

- Mamãe, eu te amo. Me perdoa, por favor, me perdoa.

- Tá tudo bem, meu amor.

Ela ergueu nossas mãos, deixou um beijo materno e então ela se foi. Assim, sem mais nem menos. Quando me dei conta, comecei a chamar desesperadamente por ela, para que ela acordasse e o aparelho que monitorava sua frequência cardíaca e pressão sistólica emitiam um som assustador e insuportável. Eu não queria e nem podia aceitar que isso havia acontecido, mas aconteceu e eu precisava engolir minha dor, mas era densa demais e espinhosa, estava me rasgando por completo.

Duas enfermeiras entraram correndo e gritando dentro do quarto e logo o Leonardo e o Vector também. Ao me ver, Leonardo me abraçou e tentou esconder o meu rosto, mas eu estava vendo eles a entubarem e pressionarem seu peito com tanta força que pensei que fossem esmagá-la, mas eu sabia que ela já havia ido. Minha mãe morreu e eu não tinha mais ninguém...

Eu estou sozinha no mundo.

•••

Olá amig@s como vão???

Eu espero que tenham gostado do capítulo, apesar do soco no peito que com certeza levaram (hahahah Sorry).

Se preparem, pois virão muito mais emoções!

Não se esqueçam de deixar sua ★ e seu feedback, isso me ajuda demais!

Amo vocês e até o próximo capítulo 🤗

A Herdeira da Lua [New Version // SLOW UPDATE]Onde histórias criam vida. Descubra agora