Broken

Capítulo 03

Deus sabe o que está se escondendo
Naqueles fracos e afundados olhos
Uma multidão ardente de anjos silenciados
Dando amor e recebendo nada de volta

Oh, pessoas ajudam as pessoas
E se você tem saudades de casa
Me dê a mão e eu vou segurá-lá
Pessoas ajudam as pessoas
Nada vai te deixar pra baixo
Oh, e se eu tivesse um cérebro
Oh, e se eu tivesse um cérebro
Eu seria fria como uma pedra e rica como o tolo
Que fez todos os corações bons irem embora

(People Help The People — Birdy)

Narração Por Olívia Mary Green\ Brooke

Rye, East Sussex, Inglaterra

Dezembro 25, segunda-feira

Consigo me olhar no espelho e não consigo ver a Olívia, cabelos loiros não existem mais, apenas um castanho médio. Lembro que sempre gostei de clarear o deixando ainda mais loiro, e fico surpresa ao ver o que acabei de fazer. Corto o meu cabelo devagar a cada mecha, os meus cabelos são bastante compridos e quero que fique até meus ombros. Preciso mudar quem eu sou, preciso mudar fora e dentro também. Mas agora só preciso mudar a minha aparência. As marcas que o Paul fez em mim podem ficar para sempre, e por um momento gosto assim, alguém pode me reconhecer sem elas. Saio de casa caminhado em direção ao estabelecimento que posso conseguir um emprego, tenho que conseguir. Ao chegar as duas horas em ponto o senhor demora a me reconhecer. Agora estou sem o capuz na cabeça, a única coisa que me entrega é a marca no rosto.

— Qual é o seu nome mesmo? — Pergunta enquanto lhe sigo até os caixas, agora o estabelecimento estar um pouco mais lotado do que de manhã, hoje é Natal e muitas pessoas devem comprar o jantar para fazer em suas casas

— Brooke — Digo o nome que estava na minha cabeça a duas horas atrás, não posso esquecer de dizer a qualquer pessoa que quiser me perguntar o nome

— Você só tem que empacotar separando os itens por categoria, alimentos, cosméticos e limpeza. E depois levar para o carro do cliente, claro que se o cliente estiver sem carro, não precisa levar para casa dele — Responde e memorizo na minha cabeça, é fácil

— Okay — Digo ao colocar minhas coisas no armário e voltar para o caixa, tento fazer tudo em pouco tempo e acabo me atrapalhando e misturando tudo

— Não, cosmético é separado — O senhor aumenta o volume da voz ao repetir pela terceira vez

Em mais algumas tentativas acerto os produtos separados, coloco no carrinho e levo para o carro do cliente. Volto e refaço tudo novamente até o estabelecimento fechar antes de anoitecer as quatro da tarde. As ruas escurece mais rápido no inverno, e aqui parece que todo mundo se recolhe ainda mais cedo.

— Fechamos cedo por causa do Natal, mas amanhã é até as oito. Não se preocupe, seu horário é até meio dia — O senhor explica e confirmo, devo procurar outro emprego para o período da tarde

— Então, estou contratada? — Pergunto e o mesmo confirma sem delongas

— Você começou hoje, até amanhã — Responde e saio do estabelecimento confirmando que duas das coisas que eh precisava foram concluídas

Mas ao sair do estabelecimento sinto como se estivesse vazia por dentro, hoje é noite de Natal e todo mundo se reúne nas suas casas para comemorar assim como na hora do almoço e jantar para assistir filmes de Natal. Agora consigo ver os meus pais assando o peru de Natal no forno da cozinha, mamãe estar terminando a salada e estou atrasada com o pudim. Consigo sentir o cheiro da nossa cozinha, cheiro de canela, abraço meu próprio corpo ao escutar algumas músicas de Natal. A capela da cidade ainda estar aberta, vou em sua direção e entro ao sentir que o clima aqui dentro é mais quente do que na minha nova casa. Não consigo chorar, não tenho mais lágrimas para derramar. Poderia fechar meus olhos de tanto cansaço e dormi aqui mesmo, mas volto para casa. Deito na cama encolhida e consigo sentir o gosto da comida, o cheiro e o abraço dos meus pais.