Bem Vindos ao Terceiro Ato

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  O amor.

Como explicar esse sentimento?

Um conjunto de descargas elétricas específicas entre as sinapses cerebrais, uma programação.

Influenciada por uma descarga de hormônios.

Ou seja, uma reação química e física.

Por que, então, ela se manifesta de forma espiritual e mágica em nossos corpos, pensamentos e cognições?

Nos faz egoístas, melancólicos, possessivos, saudosos.

O amor por nossos amigos, nossa família. Amor romântico. Cada um com sua função evolutiva e social.

E mesmo assim, é nossa ruína.

Talvez não para todos, mas com certeza foi a minha.

Os olhos fechados, braços ocupados demais enlaçando outro corpo muito querido a mim. A mente longínqua. Aquele maldito clarão verde, acompanhado das palavras mais temidas do nosso universo bruxo. O mais profundo desejo de que fosse direcionado a mim, ou a qualquer outra pessoa.

Não tive opção nenhuma. Nenhum livre arbítrio para lutar por. Mais uma vez. Reação nenhuma foi feita por essa que vos fala, pois logo após, a escuridão retornou, perene.

Lembro de rezar para todas as religiões que conhecia. Alucinar que me respondiam, me dando conforto e certeza de que meu destino era certo, e estava no caminho que haviam desenhado por mim. Uma deusa grega entregando-me sua maçã dourada, despejando um beijo carinhoso em minha testa. Muitos braços azuis enrolarem ao meu pescoço, desejando-me sorte em um sotaque hindu. Uma donzela francesa em armadura cintilante me passar sua espada.

Um círculo de mulheres guerreiras, sangrentas, boas e ruins. Todas de mãos dadas, envolvendo a minha consciência e me dando aval para meus próximos passos.

Uma jovem mãe, coberta por incontáveis panos de algodão azul tocou sua testa na minha. "Vá, minha filha. Estaremos contigo.".

Os olhos pesados, os membros falhos. Aos poucos voltava ao meu próprio corpo. Sentia-me um saco de batatas, sendo carregado sobre ombros quadrados. Uma bela metáfora para minha curta vida até então.

Assisti, de forma turva e escurecida, minha mão direita ser levantada e colada ante a um espelho adornado em ouro branco. Uma fraca luz azul invadiu minha íris, e o som de portas escorrendo sobre o chão de pedra batida se seguiu. Não tive forças para sustentar a vigilância. Voltei ao meu mundo etéreo.

A jovem mãe me encontrou novamente, sozinha. Me pôs em seu colo, chorando. Piedade, piedade, eu pedia aos céus. O que eu tinha feito de tão ruim nessa vida, ou talvez muito antes dela, para merecer viver presa às expectativas exteriores? Desejos, histórias, destinos? Em que momento eu podia ter minha própria voz? Nunca, talvez. Talvez, nunca devesse ter saído de casa. Nunca ter começado aquela pequena briga idiota, que me levou a ser expulsa da minha terra natal.

As lágrimas da mãe atingiram meu rosto, e como mágica, eu finalmente despertei por completo.

Meu coração, ainda enfraquecido, voou até minha boca à realização de onde estava. Mármore, ouro branco. Pé direito alto, sem janelas. Uma abóbada amedrontadora. A caverna. A caverna dos meus pesadelos. Meus membros e torso acorrentados ao altar ao centro.

Ao meu lado, jogado no chão como um pedaço de miúdos inutilizáveis, o corpo inerte e sem vida de meu melhor amigo e namorado. Os olhos abertos, esbugalhados e sem luz, encarando-me em uma constante expressão de pânico. Pisquei meus olhos, pensando que era apenas mais uma alucinação. Vá embora. Me levem embora. Eu não quero estar aqui! Não, não, não, não.

Projeto Reboot [Sebastian Sallow x Fem!OC]Onde histórias criam vida. Descubra agora