𝟬𝟬𝟬𝟰: 𝗧𝗵𝗲 𝗺𝗶𝗻𝘂𝘁𝗶𝗮𝗲 𝗼𝗳 𝗮𝗻 𝘂𝗻𝗽𝗮𝗹𝗮𝘁𝗮𝗯𝗹𝗲 𝗱𝗲𝗮𝗹

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Nestha arqueou a sobrancelha, em completa dúvida.

— Acordo? Que espécie de acordo você pode me oferecer, Sr. Varzand? — Cruzou os dedos sobre o tampo da mesa, não conseguia deixar de estar brava por aquilo ter vazado para os ouvidos de outros. Cassian assistiu a frustração dela crescer e se tornar uma camada grossa ao redor de Nestha.

— Minha mãe faleceu recentemente e deixou especificado em seu testamento que eu só poderei receber minha parte em sua herança se eu me casar — ele disse, num suspiro cansado. — Não me entenda mal, Srta. Archeron, eu trocaria qualquer coisa pela presença da minha mãe aqui, mas já que infelizmente os deuses não vão aceitar essa barganha, me recuso a deixar o que é meu por direito ao porco do meu pai.

— E onde exatamente eu entro nisso? — Perguntou de forma ácida.

— Eu pagarei a sua hipoteca se você se casar comigo — Cassian foi direto ao ponto, assistindo os olhos tempestuosos de Nestha se abrirem de espanto.

— Você é louco?! — Ela chiou, baixo para que nenhum outro cliente ouvisse, mas seu tom era expressivo demais para ele não notar a irritação com que ela falava. — Eu nem o conheço!

— Mas precisa de ajuda, eu preciso de ajuda — gesticulou, indicando os dois. — Nestha, não estou te pedindo em casamento por razões românticas, porque como você mesma teve a gentileza de pontuar, não nos conhecemos, porém estamos em apuros.

— Não o bastante para nos casarmos!

— Mas o suficiente para você precisar de dinheiro para manter sua cafeteria e eu para conseguir movimentar o que minha mãe deixou — disse, afastando a rigidez de sua postura. — Veja como uma situação de comum acordo, você me ajuda a receber o que é meu e eu pago sua hipoteca, basta que fiquemos casados por um ano.

Nestha arquejou visivelmente, não estava gostando nada daquela situação. Se via entre a cruz e a espada, não queria ter sido exposta daquela maneira, mas também não queria perder sua cafeteria. Porém não conseguia pensar em nada naquele momento, Cassian tinha jogado uma bomba em seu colo e esperava que respondesse imediatamente.

Mesmo que tivesse o senso prático mais apurado que conhecia, não seria possível assimilar isso tudo de uma vez só.

— Podemos conversar sobre isso em um período mais tranquilo? — O pedido arranhou sua garganta.

— Claro, claro — ele agitou a mão no ar, para em seguida coçar a barba sem tirar os olhos dela. — Gostaria de dizer que tem todo o tempo do mundo para pensar, mas temos menos de um mês para resolver isso.

Dito isso, Nestha acenou duramente e levantou, dando espaço para que ele pudesse aproveitar sua refeição tranquilamente.

Ela amontoou o cabelo no coque mais desleixado que poderia e olhou o celular, que tinha acabado de sinalizar a entrada de Emerie, Gwyn e Lucien na chamada.

— Eu estou tão furiosa! Eu poderia incendiar Velaris inteira, tamanha raiva que eu estou agora! — Esbravejou, iniciando sua rotina de skin care noturna.

— Aquele com quem você conversava era o irmão adotivo de Rhysand, não é? — Lucien perguntou, se acomodando melhor. — O que ele queria?

— Você conversou com Cass? — Foi a vez de Emerie questionar, surpresa por isso.

— Você o conhece?

— Ele é o meu chefe, Nessie — respondeu e Nestha arregalou os olhos, de novo.

— Ele é o dono da Carynthian? Eu pensei que os irmãos de Rhysand estavam integrados nos negócios da família — Gwyn comentou.

— O que ele queria?

Nestha explicou o que tinham conversado, vendo as feições dos seus amigos mudarem conforme contava o que tinha acontecido.

— Eu soube por alto que Amara impôs sobre uma herança de Cassian, mas não imaginei que fosse essa — Emerie disse. — O que você vai fazer, Nessie?

Nestha suspirou enquanto lavava o rosto.

— Não faço a mínima ideia, não posso dizer que tenho muitas opções, mas porra...

— Tire essa noite para pensar sobre, Nessie — Gwyn aconselhou. — E depois faça o que for melhor para você e para a BV.

— Apoiaremos você no que decidir, Nestha — Lucien afirmou.

Depois da conversa curta com os amigos, Nestha se sentou na poltrona em frente a grande janela do seu quarto, encarando a paisagem noturna e brilhante de Velaris. Ao seu lado, o novo romance de sua autora favorita e num salto elegante, Sirius se colocou em seu colo, ronronando por carinho. Os dedos magros dela se embrenharam nos pelos macios do gato, sentindo o corpo dele vibrar de contentamento.

Sua mente não parava de repassar a conversa com Cassian. Era uma solução inusitada, para não dizer extravagante, no mínimo! Nos últimos anos, casamento sequer passou pelos pensamentos de Nestha, seu único objetivo era tirar a Black Velvet do papel e conseguir construir seu sonho em tijolos e cimento, e agora estar posta nessa situação não era a coisa mais agradável para ela.

Era claramente um cenário que detestava, Nestha odiava quando as opções estavam fora do seu controle, quando não conseguia manejar as coisas conforme o seu critério.

— O que eu posso fazer, Sirius? — Perguntou, recebendo um miado preguiçoso em resposta. — Claro que sim, você está certo.

Emerie se mostrou mais que satisfeita em dar o telefone do seu chefe à amiga, na verdade Emerie fez questão de aparecer na cafeteria unicamente para entregar o telefone, palavras dela.

Como se Nestha não soubesse que a amiga estava sedenta por uma grande xícara de matcha com leite.

— Varzand — Nestha prendeu a respiração ao ouvir a voz profunda de Cassian ecoar pelo aparelho.

— Sou eu, Nestha — disse numa respiração. — Liguei pra saber se podemos conversar hoje, depois do expediente?

— Claro Nestha, estarei aí.

𝗖𝗢𝗡𝗩𝗘𝗡𝗜𝗘𝗡𝗖𝗘 || 𝚗𝚎𝚜𝚜𝚒𝚊𝚗 Onde histórias criam vida. Descubra agora