Havia um silêncio ensurdecedor enquanto caminhavam lado a lado.
A noite gélida iluminada, principalmente, pelas fachadas chamativas das lojas já fechadas. Ouvia-se um pequeno ruído do metal do zíper batendo contra a jaqueta de Leila e dos passos não tão apressados das duas.
Eliziane fitava Leila pelos cantos dos olhos. Achou charmoso o jeito que seu cabelo curto combinava com sigo, mesmo estando um pouco bagunçado por causa do vento forte da noite. Tentava desviar o olhar dos seus olhos cor caramelo, sentia que podia acabar ficando hipnotizada, aliás, já estava.
Saiu do seu transe quando sentiu uma gotícula, minúscula, atingir uma de suas bochechas. Depois outra, e mais outra e outra de novo. Quando se viu, o céu límpido se transformou em um enorme temporal.
Não demoraram muito pra chegar, mas estavam encharcadas dos pés à cabeça. O barulho lá fora, da chuva batendo forte contra o chão, aumentava cada vez mais, indicando, a noite vai ser longa.
Foi inevitável para Eli não observar, atentamente, cada detalhe do apartamento, não tão grande, mas bem arrumado, de Leila. Seus olhos corriam, principalmente, pelo móvel de madeira com paredes de vidro que continha diversas medalhas, troféus e fotos.
Leila adentrou o apartamento e percebeu Eli tremer mais uma vez naquela noite, dessa vez, de frio. Rapidamente, foi de encontro ao seu banheiro pessoal, pegou uma toalha e apressou-se em entregar a Eli que a olhou com expressão de agradecimento. Teria visto se não se perdesse novamente na visão do seu sorriso. Logo, Eli percebeu um pequeno bordado na toalha macia "Leilinha".
Apesar de muito tarde, Eli, temendo incomodar mais do que já havia feito, colocou o aparelho pra carregar num móvel próximo ao sofá. O aparelho não tardou a ligar exibindo, na tela inicial, várias ligações perdidas. Eli pareceu hesitar por um segundo se perdendo em seus próprios pensamentos.
- Você não precisa resolver isso hoje - Leila interrompeu seus pensamentos.
- Me desculpe, não é querendo ser ingrata, mas porque você tá ajudando uma completa desconhecida? - Eli falou temendo a resposta.
- Porque já fizeram isso por mim. Foi muito importante na minha vida. - Leila disse olhando em seus olhos.
- Inclusive, não é como se uma moça, que não deve ter mais do que 1,65 de altura, conseguisse me imobilizar e me matar. - Leila afirmou tentando quebrar o clima.
- Você não deveria confiar tanto nos outros - falou Eli seriamente.
- Eu sei. - finalizou pensativa
Ouviu-se um forte trovão lá fora. O céu estava esbravejando todo seu ódio. Ao olhar por uma janela, não veria mais nada a não ser a tempestade tenebrosa na rua solitária lá fora.
- De qualquer forma, acho q estamos presas aqui. Se quiser pode ficar hoje. - falou passando tranquilidade.
Sem alternativas e sem qualquer vontade de voltar pra casa, Eli concordou mais uma vez fazendo os olhos de Leila brilharem em uma felicidade simples.
Eli digitava abruptamente no celular e quando sentiu resolver parcialmente sua situação, pôs-se a cair na realidade de onde estava. Nunca imaginou-se em tal situação, mas ultimamente nada em sua vida estava seguindo o roteiro imposto a si.
Saindo de seus desvaneios ouviu os passos lentos de Leila.
- Deu tudo certo?- perguntou apreensiva.
- Sim, muito obrigado por tudo que está fazendo. - levantou-se ficando cara a cara com a mesma.
Leila sentiu um arrepio na espinha, talvez pela proximidade momentânea causada naquele momento e o clima no ar. Pensou ser algo de sua cabeça.
- O que acha de tomar um banho quente enquanto preparo um lugar pra você dormir? Com certeza você vai pegar um resfriado com essas roupas molhadas. - Leila a fitou com preocupação.
Eli assentiu se sentindo estranha. Ninguém nunca havia se preocupado tanto consigo assim, se sentiu vista de um jeito que nem mesmo se olhava, como se, por algum motivo, Leila tivesse grandes considerações a ela.
Leila puxou uma enorme "gaveta" abaixo de sua cama, revelando assim uma espécie de segunda cama. Apressou-se em trocar todos os lençóis e colocar o ar-condicionado no máximo, gostava de ambientes gélidos. Ouviu o som do chuveiro desligando. Empurrou, com dificuldade, o móvel fechando assim a gaveta para espaçar mais o quarto.
Perdeu qualquer interesse no estava fazendo outrora. Mirou Eliziane secando as mechas úmidas, em uma toalha com concentração, sem perceber sequer que estava sendo observada.
Olhou para a roupa gigante que emprestara, apesar dos esforços de Eliziane em dobrar a barra do tecido. E percebeu seus olhos exaustos.
- Eu separei seus lençóis, vou estar pertinho se precisar de algo. - ditou se sentando na ponta da cama.
- Obrigado Leila, garanto que vou te recompensar por tudo. - Eliziane a olhou agradecida.
- Vejo que você tá bem cansada, pensei se gostaria de comer algo antes de dormir..
- Na verdade, eu gostaria de dormir logo, admito que estou mais que exausta.
- Tudo bem. - Leila falou levantando-se puxando o móvel novamente para o lugar. Entretanto, não conseguiu. Não mediu esforços nem força para puxar, mas só a cama movia-se de lugar.
Eliziane pôs-se a puxar junto a ela, mas não obtiveram sucesso. Sentaram-se lado a lado no chão gelado, por causa da temperatura do quarto, descansando seus esforços intensos e rindo por causa do descontrole alcoólico que ainda se fazia presente no corpo de ambas.
Seus olhares se conectaram pela milésima vez naquela noite enquanto em suas faces ainda haviam resquícios da uma felicidade quase inocente. Eli sentiu a mão de Leila tocar a sua enquanto ainda encarava seus olhos cor caramelo. Estavam próximas o suficiente para sentir a respiração uma da outra, e no silêncio da noite, ouvia-se apenas o ressoar da chuva nada calma lá fora.
Sentiu-se arrepiar quando percebeu-se mais próxima do sorriso cafajeste que Leila carregava nos lábios. Encarou sua boca sentindo uma vontade nunca explícita antes, sentiu vontade de beija-la??!
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Oii gente, vou me comunicando com vocês por aqui, ok?
Espero muito que gostem da história!
Mandem feedbacks, adoro falar com vcsPor que Eliziane não quer voltar pra casa?
Será que vai rolar beijo assim de cara?Até a próxima 🤙🏼
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ATEROS
FanfictionFortes personalidades formadas com alguns traumas ao longo de suas jornadas. De um lado, Leila, uma atleta profissional de vôlei sobre pressão que faz de tudo para sair da realidade imposta para si, do outro, Eliziane, uma garota cujo padrão de vida...