Talvez eu quisesse apenas um esbarrão no meio da multidão...
Sem querer dois corpos se tocam, e a partir deste momento algo mágico acontece.
Talvez eu quisesse apenas um olhar....
Daqueles que se cruzam sem querer. Que trazem mais segredos, do que qualquer palavra que possa ser dita.
Talvez eu quisesse apenas um abraço....
Daqueles que você está distraído, e do nada, alguém lhe abraça. Como se não fossem os corpos se tocando, mas as almas se energizando.
Talvez eu quisesse apenas um beijo....
Daqueles que a pessoa chega em câmera lenta, olha nos seus olhos, aproxima o rosto do seu, e sem pedir licença beija de forma irreverente e totalmente indecente.
E assim como chegou sem esperar, se vai....
Deixando apenas uma doce lembrança, sem pesar, sem cobrança.
Talvez.
(Marlene Silva)Eu ainda sentia a mão de Leila sobre a minha. Seu rosto chegando próximo ao meu como se tudo ao nosso redor já não importasse tanto assim.
Meu coração acelerado como se já esperasse, quase como se torcesse, para que acontecesse algo. Senti minhas mãos suarem e, por um segundo, incerta se aquilo era real, tentei recuar.
Senti reciprocidade quando percebi sua mão ficando gélida em um espasmo de ansiedade. Senti certeza quando sua mão segurou a minha com mais firmeza como quem diz "fica".
Meus olhos eram encarados pelos seus como quem quer ver a alma, eu me sentia vista e a via.
Senti sua respiração contígua em minha pele e eu poderia me desmanchar ali mesmo só pela sensação do seu hálito tão próximo a minha boca.
Me peguei pensando em qual seria o sabor do seu beijo, me sentia culpada por tais pensamentos, mas ao mesmo tempo, inabalável.
Em um movimento lento senti, timidamente, seus lábios contra os meus, eram macios como havia imaginado.
Senti sua mão livre encalistrada subindo em direção a minha nuca e arrepiei ao sentir a ponta dos seus dígitos afagarem meu cabelo.
Ainda timidamente, como se a todo momento pedisse permissão, Leila aprofundou o beijo e eu consenti.
Em uma súbita atitude, serpenteei minha língua, com cuidado, para sua boca, ela aceitou. Senti seu peito subir e descer em um suspiro que soou como um gemido contido.Nossas bocas pareciam velhas conhecidas e me estranhou a forma como rapidamente se reconheceram. Sentia seu coração acelerado e sua respiração tentando controlar-se.
Fiquei em frustração quando sua boca deixou a minha, ela levantou me olhando com um sorriso travesso puxando minha mão para me juntar a ela. Não contestei.
Nos juntamos na cama macia e espaçosa de lençóis limpinhos com cheiro de amaciante. Seu corpo ajeitou-se ao meu e nossos lábios se encontraram novamente, com calma e vigorosíssimo.
Suas mãos vagueavam pelo meu corpo a fim de memorizar cada ondulação. Parou em minha cintura onde segurava mais forte, quase como fosse escapar por entre seus dedos.
Eu a puxava para mim, gostei da sensação do seu corpo pelo meu.
Ela separou seus lábios do meus descendo pela minha mandíbula em selinhos molhados até meu pescoço. Deu mais um selinho e sugou a pele, me arrepiei por inteira e , por impulso, coloquei as mãos em seus cabelos a puxando novamente para mim.
O interfone começou a tocar, levadas pelo momento, ignoramos. Então tocou uma vez, mais uma e mais uma de novo. Leila gemeu em frustração, me lançou um olhar de desculpas e levantou-se, me deixando ofegante.
Caramba... eu não acredito que me deixei levar tanto - pensei comigo mesma.
Meu coração apertou, me senti culpada instantaneamente. Isso é contra a tudo que já me foi ensinado. Se meu pai sonha, ele nunca me perdoará.
Pensei em pedir perdão a Deus, o problema é que não me arrependia do que havia feito. Pensei em sair do apartamento de Leila, mas ainda era possível ouvir a chuva lá fora. Além de ser muito perigoso.
Aliás, voltaria pela manhã no primeiro sinal de luz do sol. Moro com meus pais no condomínio vizinho a esse. Não vou mentir, já conhecia Leila de vista, mas não pensei que algum dia estaria em sua casa, usando as suas roupas, na sua cama, com seu cheiro impregnado em mim.
Minha mãe aliviou-se por estar tudo bem comigo e por eu não estar tão longe de casa. Disse que eu estou na casa de Leila, afinal, quem não conhece a Leila do vôlei? É a "celebridade" que mora mais perto da gente. Que apesar de não de ser tão famosa, vem se destacando muitoo na cidade.
Me perdi em meus pensamentos. Os minutos passaram, meus olhos começaram a pesar. Por que Leila tava demorando tanto?

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ATEROS
FanfictionFortes personalidades formadas com alguns traumas ao longo de suas jornadas. De um lado, Leila, uma atleta profissional de vôlei sobre pressão que faz de tudo para sair da realidade imposta para si, do outro, Eliziane, uma garota cujo padrão de vida...