01| between bumps in life

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A noite é uma pessoa jovem, inconsequente e com consciência curta, bem curta.

     O som abafado da boate era perceptível mesmo antes de chegar ao local. As luzes coloridas invadiam o lugar e todos presentes pareciam estar na mesma sintonia.

     Num canto largado do salão, que estava bem lotado por sinal, a jovem, alta e loirinha de cabelos curtos, virava seu quinto shot.

  - Vai com calma Leila, a noite só está começando - dizia o barman enquanto preparava outro drink solicitado.

- Mais um - disse Leila que não pareceu nem escutar o que ele dissera. A verdade é que estava engolida por seus próprios sentimentos, que pareciam gritar bem mais alto na sua cabeça do que a música da boate.

     Sua atenção se voltou a uma mulher, que simulava uma idade próxima à sua, de cabelos castanhos, que sentou próximo a ela no grande balcão do barman. Balcão esse que estava movimentadíssimo com a demanda de bebidas, apesar do barman parecer estar adaptado a tal ritmo. Por algum motivo, inaparente, sentiu estranheza ao reparar nas roupas, que aparentavam elegância e conservadorismo. Uma curiosidade veio a si, perguntando o que faria uma moça como aquela estar num lugar assim, definitivamente não parecia pertencer a esse meio.

     Não é como se ela se identificasse com o lugar, mas já se sentia habituada.

     Não bebia para esquecer algum amor, nem tampouco para sofrer por alguém. Sua única prisão era sua mente pressionada a ser o melhor que poderia ser. Mas chega uma hora que tentar ser perfeita cansa e ela se sentia afogada em sua realidade.

     Fitou a garota que parecia perdida em seus próprios pensamentos, a mesma, bebia alguma coisa rosa com gelo, mas sua cara não enganava que não tinha costume de ingerir álcool.

      Por um milésimo de segundo, quase que por descuido, seus olhares se encontraram e se conectaram. Por algum motivo ambas sentiram se reconhecer uma na outra, como se já se conhecessem de algum lugar e um sorriso de canto foi retribuído em uma espécie de gentileza mútua.

     Apesar do olhar intenso que trocaram, nenhuma palavra foi proferida. Entre drinks e mais drinks aproveitavam a companhia uma da outra.

     Leila levantou-se e foi de encontro a uma porta de madeira envelhecida envernizada, não tão perto do banco redondo em que estava. Entrou no banheiro e se encarou no espelho, abriu a torneira da grande pia e deixou a água fria tocar sua derme. Ao terminar de se secar sentiu que já não fazia sentido estar longe da sua cama aquela hora da madrugada, embora não fosse tão tarde assim.

     Saiu do cômodo fechando a porta atrás de si e pensou em falar com a garota que foi sua "companhia" de balcão durante a noite. Talvez descobriria alguma história maluca de porquê ela está ali, ou quem sabe, poderiam conversar sobre alguma coisa boba cotidiana. Mas quando passou  os olhos a procura da garota, ela simplesmente tinha sumido.

     Leila não deu importância a esse acontecimento. Se dirigiu ao balcão, pagou a conta e se retirou indo em direção a saída.

     Entretanto, ao passar para fora do estabelecimento, esbarrou em um grupo de rapazes altos e fortes, apesar de aparentarem ter no máximo 20 anos. Reconheceu ser do mesmo clube de vôlei que o seu. Estavam bêbados e agindo feito idiotas, fazendo gracinhas e piadas com alguém que parecia estar encurralado, dentro do círculo fechado que os garotos faziam.

      Leila pensou em só ir embora, sabia que os meninos eram chatos de lidar e definitivamente não estava com vontade de terminar a noite assim, mas por extinto, mesmo um pouco distante, levantou-se nas pontas dos pés e estreitou os olhos para ver quem era o coitado que ali se encontrava. Se encontrou em choque ao perceber que era a garota, que se mostrava, em puro desespero, tentando sair dali.

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