07| Embriagada em teu cheiro

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Pressentimento
"Ato de sentir antecipadamente, mais pela emoção do que pela razão, a ocorrência de um fato futuro; suspeita, desconfiança."

(•)

Eliziane's

Olho para a xícara do meu café, recém colocado, observando as pequenas bolhas de ar quente nele. Acordei hoje com meu coração apertado em uma linha tênue entre mal pressentimento e ansiedade.

Pego meu celular para, de alguma forma, me distrair. É isso que todo jovem adulto faz, né?

Entretanto, quando abro meu Instagram e o feed atualiza automaticamente, meu coração gela, com as letras garrafais, destacadas em negrito "NOTA DE ESCLARECIMENTO"...

"A jogadora de voleibol Leila Barros está, desde a última quinta-feira, afastada dos jogos em decorrência de um acidente em quadra. A jogadora está recebendo todo suporte médico que precisa, entretanto não poderá participar das eliminatórias de inverno esse ano.
Não há previsão para sua retornada."

Fico olhando para a tela, que lentamente se apaga, sinto que parei no tempo e que minha cabeça não é mais capaz de raciocinar. Um abalo repentino me atinge.

MAS ELES NÃO DISSERAM QUE ELA TÁ BEM!

O QUE É ESSE SUPORTE MÉDICO?

Será que foi grave? O que será que aconteceu? Onde ela está? Será que ela tá bem? MEU DEUS onde ela tá?

Calma Eliziane não surta - falo para mim mesma.

Minhas mãos ficam inquietas, meu corpo se esfria. Um nó se forma na minha garganta e só então percebo que, eu se quer, tenho o número dela. Porque eu não pedi o número delaaaaAAAA?

Ligo, novamente, meu celular. Hoje é sábado.. SÁBADO. O acidente foi na quinta! Meu Deus! Minhas mãos começam a suar mais ainda.

{•}

Leila's

"O trabalho poupa-nos de três grandes males: tédio, vício e necessidade."

O problema disso tudo é que por causa da minha necessidade em treinar, que virou vício, agora estou presa em uma cama, completamente, no tédio. Deu pra entender?

Você deve estar, no mínimo, curioso pra saber o que aconteceu, mas garanto que não foi nenhuma super ação de vida ou morte. Não foi um ato heróico, muito menos interessante.

Foi só uma torção que poderia acontecer com qualquer atleta, mas ninguém parece entender que agora estou bem.

Tudo bem, a queda foi feia, fiquei inconsciente durante um tempo. Tenho pontos na testa, um tornozelo inchado e dolorido e alguns poucos hematomas. Mas eu vou ficar bem.

- Filha.. - ouço uma voz grave se aproximar e logo em seguida três batidinhas na porta

- Hum..?

Desde que fui dispensada dos jogos não tenho mais vontade de fazer nada. Então, estou passando meus dias no meu quarto, olhando a luz que passa pela janela e atinge a parede branca sem graça. Os treinos eram minha serotonina, eram não, ainda são.

Minha mãe veio para o meu apartamento na cidade assim que soube do acidente, mas não pôde ficar muito, pois acabei interrompendo sua agenda de viagens.

Meu pai insistiu muitíssimo para ir com ele para casa deles, na verdade, ainda está insistindo.

Ele veio cuidar de mim, como pai-médico ele se sente na obrigação, mas não preciso dizer muito para saber que ele também está voltando, né? Nem o culpo, a profissão exige muito de si, mas ele está aqui, ele sempre está aqui.

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