CAPÍTULO 1 - LILI REINHART

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LILI PAULINE REINHART

Acho que desde que me conheço por gente sou acostumada a receber desprezo, sou familiarizada com o sentimento desde que percebi a discrepância na forma como minha mãe me "amava" e na forma que meu pai me amava. Entendo que tudo que dou às pessoas é o que recebi na vida: desprezo. E apenas para as pessoas mais próximas e realmente dignas eu demonstrava o máximo que conseguia. A verdade é que amor era algo que em todas as minhas relações amorosas foi fingido, assim como os orgasmos que só aprendi a ter quando comecei a conhecer meu corpo com maestria.

Com 28 anos eu poderia dizer que era bem sucedida, ocupava um cargo de renome na Petrovask, graças ao meu pai, mas ocupava. Eu sabia da minha competência e, embora tenha entrado em um cargo inferior, só atingi uma das lideranças graças ao meu empenho. Bem sucedida é uma expressão estranha para uma mulher que sempre teve tudo, mas nunca teve nada. Todas as coisas ganharam sentido quando eu finalmente decidi me libertar das amarras, quando embarquei nessa loucura, quando me permiti sentir, aí compreendi que ser bem sucedida não era nada comparado a ser amada. Uma coisa não compensava a outra, eram pesos e medidas diferentes, embora sua carreira jamais fosse acordar em uma manhã e dizer que não te amava mais.

Essa história foi só uma parte pequena da minha vida, mas que envolveu partes significativas de quem eu fui, de quem eu era e de quem eu seria. Ela me moldou e no final eu não era a Lili do começo. É díficil começar do começo, onde seria a do começo? Onde terminou a antiga Lili e começou a nova? Talvez para algumas questões precise de mais do que de algumas frases, é complexo, é doído é feio, mas sou eu. É a minha história. É a nossa história. O nosso amor épico que teve meio, inicio e...

Felizes para sempre?

Acho que finalmente sei onde nossa história começa.

Com meus passos firmes e certos, num salto agulha e dentro de uma saia lápis, faltando exatos 5 minutos para o fim do expediente do dia e para o início do meu mês de descanso, as férias. Trabalhava há 5 anos na área administrativa da Petrovask, estava a 2 no meu cargo atual, chefe do setor de investimentos e movimentações referente ao mercado, apesar de estar alí inicialmente por indicação do meu pai, permaneci e cresci por mérito, embora somente os chefes reconheçam isso, não era a pessoa preferida dos funcionários que respondiam a mim.

– O senhor Petrov já está te aguardando. – Lola é rápida e suas expressões permanecem congeladas enquanto dita a próxima humilhação.

Banks Petrov era o dono da Petrovask e, apesar de velho e quase aposentado, o homem colocava diariamente suas funcionárias em saias justas e humilhantes. O assédio era constante, brincadeirinhas, às vezes toques, expedientes exaustivos para aquelas que o recusassem, era o ser mais desprezível que eu conhecia e queria me ver 5 minutos antes do fim do meu expediente.

Agora 4.

Assim que toquei a maçaneta fria da porta eu congelei.

Levantei meu queixo e engoli, ignorando o aperto em meu peito. Quando a sala se abriu para mim, caminhei até a mesa com as mãos para trás, o nervosismo me fez tremer, se meu cabelo estivesse solto, com certeza já teria tirado e colocado ele atrás da orelha milhares de vezes. O homem beirava os 65 anos, a cara enrugada tal qual uma uva-passa me encarou, o desejo estava alí, e um arrepio de nojo me tomou instantâneamente. Faltam poucos minutos.

– Por quê a demora? Tem 15 minutos que pedi para Lola te chamar. – Seu tom era grave e intimidador, porém não me deixei afetar e respirei fundo calculando com cuidado o que dizer.

– Estava orientando os estagiários. Desculpe a demora. – As palavras pareciam sapos pulando da minha boca, não parecia certo alí.

– Tanto faz. Vamos precisar fazer um corte na empresa, você já estava ciente, eu espero, fez a lista? – Questionou. Estendi a lista com os nomes e depositei sobre a mesa, fiz ela semanas atrás sem qualquer dificuldade, minha relação com aquelas pessoas era estritamente profissional, sabia que teria que demitir alguém ocasionalmente, não transformei aquilo em problema e me tornei indiferente ao assunto. – Ágil, isso é bom. – Ele tinha os cotovelos apoiados na mesa enquanto lia a lista, o palitó um pouco bagunçado, a cara de cansado, o próprio cão chupando manga. – Bem, não queria ser eu a te dar a notícia, mas não tem outra forma. – Ele pegou a caneta que estava no canto da mesa e escreveu algo na folha, quando acabou a estendeu para mim. Meu nome era o último da lista dessa vez.

ઇઉ𝗜𝗻𝗱𝗼𝗺𝗮𝗱𝗮ઇઉOnde histórias criam vida. Descubra agora