CAPÍTULO 6 - COLE SPROUSE

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Quando se nasce no mundo em que nasci, a sobrevivência se torna algo recorrente, você já nasce com os instintos aguçados, logo cedo percebe que sua vida não é tão comum e convencional como das outras crianças. Meu bisavô que me contou certa vez o que eu seria, o que eu deveria ser, foi ele também que vendeu minha mãe pra esse monstro.

Meu pai me iniciou muito cedo, desde que aprendi a andar e falar ele fazia questão de me levar para as ações nos galpões, conforme eu crescia ele me fazia assistir suas lutas corporais com os pobres homens que mais tarde morreriam. Quando Tunner veio morar conosco ele me iniciou oficialmente, eu tinha 10 anos e Tunner 5, aquilo consistia em matar um homem que nem mesmo lembro o rosto, a única coisa de que me lembro é de uma tatuagem em seu peito, uma mão agarrada a uma faca afiada que sangrava, cravei alí a faca. Fiquei em silêncio o resto da semana.

Acho que a iniciação de Thony consistia em foder alguma parte da minha cabeça de forma irreversível. Anos mais tarde ele me fez assistir ao assassinato de nossa mãe.

De uma forma bem doentia ele me transformou em alguém forte e de pulso firme, com instintos bons, desejo insaciável e controlador. O infeliz me preparou tão bem que com apenas 30 anos eu tinha um nome forte no submundo, uma fama de não só mulherengo mas também cruel. Muito cruel. Ele me criou dolorosamente bem para sair de situações como essa.

O homem parecia ansioso enquanto mexia no celular, tremia um pouco e estava sozinho, amadoramente sozinho. É muita imbecilidade acreditar ser capaz de capturar o capo de Chicago com atitudes tão mesquinhas. Ele aguardava reforços, sabia que não podia me transportar sozinho e eu sabia que não só os dele como os meus já estavam a caminho. O botão que apertei repetidas vezes do carro não tinha qualquer intuito se não mandar um sinal para a segurança de que algo estava errado, a essa hora eles já devem ter rastreado o ponto em que fui capturado, além de uma varredura completa pelas redondezas.

– Você é o novo executor, estou certo? – Minha cabeça latejava e eu sabia precisar mantê-lo alí até os reforços chegarem. – O último não teve um destino muito legal. – Ironizei e ele desviou o olhar do celular para me encarar.

– Sua fama não condiz em nada com o que realmente é. – Provocou de volta. – Nem precisei fazer uma armadilha, eu só tinha que te vigiar e acabei ganhando na loteria. – Sorriu.

– E você realmente acreditou que ia ser fácil me sequestrar? – Minha risada ecoou o casebre caindo aos pedaços que ele me trouxe. Como estava desacordado quando cheguei, não consegui identificar com precisão se estávamos mais entranhados em Chicago ou nos limites da cidade. Seu sorriso some e ele se aproxima desferindo no mínimo 3 socos que me fazem cuspir sangue aos seus pés, minhas mãos estão amarradas atrás da cadeira, doem pouco, já enfrentei dores piores.

– Game over, Sprouse. Pra você, para seu império, até para seu anjo. – Levantei meu rosto encarando suas feições duras e maxilar marcado, adoraria quebrá-lo com um movimento firme e rápido, seu nariz torto em vários pontos prova que já teve esse fim.

– O que você sabe sobre ela? – Tentei não transparecer desespero ou curiosidade, ele me privaria de qualquer informação se soubesse.

– O que todo o submundo aos poucos começa a saber. Em breve você também saberá. – Ele inclina a cabeça para a direita e sorri vitorioso.

– Se encostarem nela eu juro que...

– Nem você pode protegê-la. E pelas coisas que ouvi, quem vai precisar de proteção é você.

Alí estava um prenúncio do futuro. Embora eu não a conhecesse, internamente eu sabia que seria caótico, que seria doído, que não éramos pra ser. Que as coisas que eu planejava silenciosamente para nós jamais se concretariam, que o destino arquitetou sua chegada, sua permanência e sua partida com maestria, com amor, prazer e dor, muita dor.

ઇઉ𝗜𝗻𝗱𝗼𝗺𝗮𝗱𝗮ઇઉOnde histórias criam vida. Descubra agora