009 - DELEGACIA.

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RAPHAEL VEIGA.

Caroline havia passado a festa toda como se estivesse agoniada com algo, eu já conhecia ela e sei que ela sempre foi uma amante de festas, ela se auto-declarava "inimiga do fim". Mas na festa de ontem a noite, ela parecia querer qualquer desculpa para se distanciar de todos e ficar vidrada em seu aparelho telefônico.

— Você realmente não aproveitou ontem - falo enquanto pego dois copos, a garota estava com uma jarra de suco natural em mãos. A entrego os copos e ela serve um pouco do líquido amarelado para nós.

— Você acha? - ela questiona, mas sem tirar sua atenção do copo recém preenchido com o líquido - eu estava meio cansada.

Fico a observando por alguns segundos, ela olhava para todos os lugares menos para mim.

— Fala logo.

— Falar o que?

— Eu te conheço muito bem, Viturino - cruzo meus braços.

Ela não diz nada, apenas pega seu celular em seu bolso — que continha uma capinha transparente com uma polaroid sua e Maria, sua mãe — e desbloqueia o mesmo com Face ID, logo me entrega seu celular, de início não entendo o que havia ocorrido, mas logo ela murmura pedindo para que eu abrisse a primeira conversa.

[ . . . ]

— Eu já te disse que não irá adiantar nada irmos a polícia - ela falou pela quinta vez.

Nesse exato momento, estávamos dentro do carro, eu dirigia nervosamente até a delegacia mais próxima.
Assim que Caroline me mostrou a tal conversa, falei que deveríamos ir direto a delegacia.

— Temos que pelo menos tentar, Viturino - falo, meu olhar focado nas ruas movimentadas de SP - você deveria ter me falado ontem.

— Falar que um estranho está ameaçando publicar vídeos íntimos meus? Eu não iria estragar seu clima, sei que se eu falasse você iria surtar na hora - ela se mantinha calma demais com a situação, era até estranho.

— Por que você está tão calma?

— Eu já recebi diversas ameaças assim, sabe quantas foram reais? - ela pergunta e eu nego com a cabeça - nenhuma. E você acha mesmo que eu vou gravar vídeo meu pelada e mandar pra alguém? Nem morta!

Meu olhar intercalava entre as ruas e a garota que falava tudo calmamente, para que eu possa compreender tudo.

— É, pensando por esse lado - dou de ombros.

Em alguns minutos, chegamos a delegacia. Desço do carro e Viturino faz o mesmo, mas ela para ao seu celular notificar alguma coisa. Já que a garota estava a minha frente, me aproximo ao ver ela me chamar e coloco minha destra em seu ombro, senti a garota arrepiar sobre meu toque mas ignorei.

Escuto um barulho atrás de mim e olho para trás, mas era apenas o som dos carros andando pelas ruas, quando eu iria virar meu rosto novamente para ver o que havia na mensagem, ela me interrompe:
— Não olha!

Fecho meus olhos por impulso.

— Tampa com a mão - ela pede, se eu estivesse de olhos abertos provavelmente a olharia cínico.

— Sério? - dito, tampando meus olhos com minha canhota.

Um silêncio se faz presente, e eu só estava ficando mais curioso ainda para saber o que era.

— Você estava certo - ela diz baixinho - ainda bem que já estamos aqui em frente...

— Calma... Mas você não disse que...

— É, eu disse! - ela fala, escuto um barulho que deduzo ser ela apagando a tela do celular e logo coloca sua mão na minha canhota, retirando-a de meus olhos - mas não foi eu que gravei! É da câmera do meu quarto.

Suíte 14 - Raphael Veiga.Onde histórias criam vida. Descubra agora