Prólogo

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31 de Outubro de 1981

31 de Outubro.

Aquele era para ser um dia feliz. Deveria estar sendo de todas as formas o dia mais feliz do ano, era o aniversário do gêmeos Anseris. Cygnus e Cygnis completavam hoje dois anos de idade. Mas esse nem de longe havia sido um dia feliz, muito menos o mais feliz.

Já estava anoitecendo e Katherine continuava a andar em círculos pelo quarto dos gêmeos, pensando em um milhão de coisas ao mesmo tempo.

Ela respirou fundo, enraivecida, e se jogou no sofá esfregando as mãos no rosto. Kathy desde a infância nunca conseguira ficar quieta por muito tempo e estar trancada naquela casa em Godric's Hollow não estava a ajudando em nada, ela estava enlouquecendo.

Seu olhar vagou até parar nas duas crianças que brincavam em sua frente, sentadas no tapete circular em que ela há poucos estava andando em volta. Todo o sentimento de inquietação se foi, aquelas duas crianças de cabelos negros como o pai e olhos azuis como os dela, eram o seu bem mais precioso. Faria de tudo por eles, até ficar trancada em uma casa por anos para vê-los crescer.

Vê-los crescer.

Seu coração se apertou ao imaginar que talvez não pudesse fazer isso, e então o sentimento ruim em seu peito retornou. Sua garganta criou um nó e seus olhos se encheram de lágrimas, no fundo ela sabia o mal que estava prestes a acontecer.

Um estampido alto ecoou por toda a rua fazendo-a dar um pulo no sofá. Ela correu até a janela e ergueu um pedaçinho da cortina. 

Era ele. 

Lá estava Voldemort, o bruxo mais temido de todos os tempos, ele havia chegado e andava lentamente em direção a sua casa.

O ar faltou nos pulmões de Kathy, o nó em sua garganta se intensificou e seus olhos marejaram. Todo o sentimento de ódio e traição querendo extravasar de uma vez só começou a crescer cada vez mais dentro de seu corpo. Ela queria gritar, queria chorar, queria poder quebrar tudo que via pela frente, mas não podia. Tinha que ser forte pelo seus filhos.

Correu até os gêmeos que agora a encaravam confusos e os colocou no berço, pegou sua varinha a segurando firme e murmurou um feitiço, selando a porta do quarto. Não serviria por muito tempo, mas ajudaria.

Ela se virou para os gêmeos, que seguravam a mão um do outro, tentando passar segurança para o outro, e sussurrou:

— Cygnus, Cygnis, mamãe e papai ama muito vocês dois, espero que saibam disso — Kathy sussurrou depressa, observando bem cada traço do rosto dos filhos. Aquela poderia ser a última vez — Algum dia, eu não sei, pode parecer que isso não seja verdade, ma–

Ela foi interrompida pelo o estrondo da porta debaixo sendo arrombada.

Lord Voldemort havia chegado, fazendo o desespero crescer dentro da alma de Kathy. Uma lágrima solitária rolou pelo seu rosto.

— Vocês só precisam confiar um no outro e ouvir seus corações. Principalmente você Cygnis, faça o que achar ser o certo e não o que os outros mandarem você fazer. Eu amo muito vocês dois.

— Mamãe — Cygnus gemeu com a voz chorosa e fina.

O baque surdo de uma porta caindo aos pedaços no chão ecoou pelo quarto. Kathy ergueu a cabeça, segurando forte sua varinha e se virou para encarar o homem a sua frente. Sua aparência era tão modificada por sua magia negra que quase não parecia humano, sua pele era branca como o osso e as pupilas vendidas como a de um gato.

Kathy arrumou sua postura e permaneceu com o rosto sério. 

— Vá embora! — Gritou erguendo sua varinha para ele.

Ela tentou não pensar no medo que sentia de não poder ver seus filhos crescerem, de não poder leva-los para Hogwarts quando chegasse o momento ou vê-los se formar. Tudo em que pensava era em mantê-los vivos para vivenciarem tudo isso.

— Não seja tola Kathy, por mais que eu aprecie sua coragem, você não pode me derrotar. Sabe que eu quero apenas a menina, me dê ela e eu a deixo ficar com o outro.

A sua expressão gélida era intimidante e sua voz fria e ressoante causava calafrios em Kathy.

— Saía da minha casa, Voldemort! Você não irá encostar em nenhum de meus filhos!

Um jato de luz vermelha irrompeu de sua varinha. Voldemort facilmente bloqueou seu feitiço, fazendo-o bater em um dos quadros na parede, atravessando-a.

O rosto de Voldemort se contraiu de raiva, ele soltou uma risada fria e revidou o feitiço.

Os dois começaram um duelo.

O quarto ficava cada vez mais destruído a medida que os jatos de luz aumentavam, iluminando todo o quarto com verde e vermelho. O choro baixo dos gêmeos era completamente abafados pelos móveis se quebrando e os feitiços sendo ricocheteados.

Voldemort ficava cada vez mais impaciente e nervoso toda a vez que um novo jato de luz surgia na varinha de Kathy. 

Por um breve momento ele vira sua vitória, mirou por baixo do braço dela, um sorriso crispando seu rosto:

— Avada Kedavra! — Exclamou.

Kathy tomada pelo medo de perder seus filhos, sem pensar duas vezes, pulou corajosamente no meio da maldição com um grito estridente. Os gêmeos viraram os rostos, as testas coladas uma na outra para não verem a cena em sua frente, mas eles ouviram, aturdidos, o corpo inerte de sua mãe cair com um baque no chão, sem vida.

Voldemort também caiu com um baque do outro lado do quarto, sentindo uma dor excruciante. Extremamente confuso, ele se levantou e cambaleou por entre os escombros até perto do berço dos gêmeos. Os dois estavam encolhidos, se abraçando e chorando baixinho.

Essa era a sua chance, ele ergueu a varinha, sua mão tremia involuntariamente, aumentando a sua raiva. Segundos se passaram e ele continuava apenas apontando a varinha para os gêmeos, toda vez que pensava em mata-los a dor excruciante voltava.

Ele comprimiu os lábios, abaixou a varinha e se virou atravessando os destroços que sobrara do quarto a passos rápidos, cambaleantes e furiosos, desaparecendo na escuridão do corredor.

Anseris - Os Gêmeos Esquecidos『1』Onde histórias criam vida. Descubra agora