Fazia dias desde a última vez que os gêmeos puderam sair. A chuva era tanta que parecia que o céu não aguentaria e desabaria sobre suas cabeças. E, para ajudar, o orfanato estava uma loucura.
A diretora McLennan enlouqueceu de vez. Queria de todas as formas aquele orfanato podre brilhando de cima a baixo, nem que para isso tivesse que usar as crianças de faxineiras.
Claro que os gêmeos já sofriam punições o suficiente para servirem de empregados também, então de uma forma ou de outra, sempre conseguiam escapar da limpeza.
Todos tinham suas teorias sobre o que estava acontecendo. Mas a mais óbvia e mais famosa, que rodava até por entre as monitoras, era que receberiam um convidado e ele talvez adotasse uma criança. Esse boato, porém, só foi confirmado em mais uma das manhãs chuvosas, no café da manhã.
Madame McLennan entrou na sala de jantar com a mesma cara feia de sempre. O cabelo marrom, começando a ficar branco, presos em um coque alto. Ela usava o mesmo vestido extra grande preto desbotado de sempre, o único que ainda servia nela. Os gêmeos arrumaram sua postura na mesma hora.
— CALADOS! — Gritou sem necessidade, ninguém ousava falar em sua presença — Bom dia, crianças.
— Bom dia, Madame McLennan — Todas elas responderam em uníssono.
— Amanhã receberemos uma visita importante no orfanato. Sejam educados. Não se comportem como animais. Não vistam-se como mendigos. E muito menos falem se não forem chamados. Se tiverem sorte, ele levará dois de vocês embora. Não me façam passar mais vergonha do que eu já passo com vocês — E olhou diretamente para os gêmeos no fim da mesa. Uma onda de risadinhas encheu a sala. — Estamos entendidos?!
— Sim, Madame McLennan — Todos responderam.
Ela sorriu mostrando os dentes amarelos e se retirou da sala.
O resto do dia inteiro não se falava de outra coisa. Todos estavam animados que finalmente alguém poderia ir embora, e suas chances estavam duplicadas. Não se podia ir mais a lugar algum sem escutar alguém falando sobre o visitante misterioso, ou em como eles acreditavam, sentiam, que era a sua vez de ir embora. E aquilo estava começando a irritar os gêmeos.
O dia seguinte foi ainda pior. Todos estavam a flor da pele, nervosos e animados, não conseguiram nem comer o café da manhã direito e os gêmeos adoraram isso. Quanto mais comida sobrasse para eles, melhor.
A tarde todos estavam reunidos na sala de descanso trajando sua melhor roupa. As garotas se maquiavam e penteavam uma as outras. Os garotos ficavam de canto agindo igual bobocas e de vez em quando, dando em cima de uma ou outra garota.
Já os gêmeos, estavam sentados em uma poltrona afastados de todos. Eles moviam levemente a cabeça apontando para os outros e quase não mexiam a boca enquanto sussurravam. Em compensação a tanta sutileza, eles riam tão alto que poderiam ser ouvidos da entrada do orfanato.
O motivo disto era a maquiagem das garotas. Nenhuma delas sabia o básico sobre se maquiar e todas disputavam fortemente uma vaga de emprego com o palhaço.
— Por que eles não estão se arrumando? — Uma garotinha pequena perguntou.
— Porque eles sabem que nunca vão ser adotados, Eleanor — Ellen respondeu. Ela era alta, tinha olhos castanhos e cabelos cacheados, por algum motivo ela se achava superior às outras crianças e demonstrava isso colocando os outros para baixo. E o principal alvo dela eram os gêmeos.
— Tenho certeza que eles prefeririam bem mais adotar alguém como eu e você, Eleanor, do que os demônios de duas cores. — Ela aumentava cada vez mais o tom de voz para que todos pudessem escutar.
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Anseris - Os Gêmeos Esquecidos『1』
Fanfiction‖ LIVRO UM ‖ Cygnus e Cygnis Anseris eram apenas dois irmãos órfãos que moravam em um orfanato sujo e esquecido no fundo da Inglaterra. Eles jamais poderiam imaginar que por trás de suas vidas tão monótonas um cruel assassinato havia os marcado há d...