04 - Aaron Campbell

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Fazia dias desde a última vez que os gêmeos sairam, a chuva era tanta que parecia que o céu não iria aguentar e cair sobre suas cabeças. E para ajudar o orfanato estava uma loucura.

A diretora McLennan enlouqueceu de vez. Queria de todas as formas aquele orfanato podre brilhando de cima a baixo, nem que tivesse que usar as crianças para limparem.

Claro que os gêmeos já sofriam punições suficiente para servirem de empregados também, então de uma forma ou de outra sempre conseguiam escapar da faxina.

Todos tinham suas teorias sobre o que estava acontecendo. Mas a mais óbvia e mais famosa que rodava até por entre as monitoras, era que receberiam um convidado e ele talvez adotasse uma criança. Esse boato, porém, só foi confirmado em mais uma das manhãs chuvosas, no café da manhã.

Madame McLennan entrou na sala de jantar com sua cara feia de sempre. O cabelo marrom, começando a ficar branco, presos em um coque alto. Ela usava o mesmo vestido extra grande preto desbotado de sempre, o único que ainda servia nela. Os gêmeos arrumaram sua postura na mesma hora.

— CALADOS! — Gritou sem necessidade, ninguém ousava falar em sua presença — Bom dia, crianças.

— Bom dia, Madame McLennan — Todas elas responderam em uníssono.

— Amanhã receberemos uma visita importante no orfanato. Sejam educados. Não se comportem como animais. Não vistam-se como mendigos. E muito menos falem se não forem chamados. Se tiverem sorte, ele levará dois de vocês embora. Não me façam passar mais vergonha do que eu já passo com vocês — E olhou diretamente para os gêmeos no fim da mesa. Uma onda de risadinhas encheu a sala. — Estamos entendidos?!

— Sim, Madame McLennan — Todos responderam.

Ela sorriu mostrando os dentes amarelos e se retirou da sala.

O resto do dia inteiro não se falava de outra coisa. Todos estavam animados que finalmente alguém poderia ir embora, e sua chance estava duplicada. Não se podia ir mais a lugar algum sem escutar alguém falando sobre o visitante misterioso, ou em como eles acreditavam que era a sua vez de ir embora. E aquilo estava começando a irritar os gêmeos.

O dia seguinte foi ainda pior. Todos estavam a flor da pele, nervosos e animados, não conseguiram nem comer o café da manhã direito e os gêmeos adoraram isso. Quanto mais comida sobrasse para eles, melhor.

A tarde todos estavam reunidos na sala de descanso trajando sua melhor roupa. As garotas se maquiavam e penteavam uma as outras. Os garotos ficavam de canto agindo igual bobocas e de vez em quando dando em cima de uma ou outra garota.

Já os gêmeos, eles estavam sentados em uma poltrona afastados de todos. Eles moviam levemente a cabeça apontando para os outros e quase não mexiam a boca enquanto sussurravam. Em compensação a tanta sutileza, eles riam tão alto que poderiam ser ouvidos da entrada do orfanato.

O motivo disto era a maquiagem das garotas. Nenhuma delas sabia o básico de maquiagem e todas se pareciam com um palhaço.

— Por que eles não estão se arrumando? — Uma garotinha pequena perguntou.

— Porque eles sabem que nunca vão ser adotados, Eleanor — Ellen falou. Ela era alta, tinha olhos castanhos e cabelos cacheados, por algum motivo ela se achava superior às outras crianças e demonstrava isso colocando os outros para baixo. E o principal alvo dela eram os gêmeos.

— Tenho certeza que eles prefeririam bem mais adotar alguém como eu e você, Eleanor, do que os demônios de duas cores. — Ela aumentava cada vez mais o tom de voz para que todos pudessem a ouvir.

Anseris - Os Gêmeos Esquecidos『1』Onde histórias criam vida. Descubra agora