Minha cura - Joaquín Piquerez

01.

Joaquín Piquerez

Desde que minha ex mulher se foi, eu tenho perdido total sentido da vida. Eu só segui em frente, pela minha filha, Alice. Uma menininha tão linda, forte e saudável, de apenas 3 meses. Não consigo acreditar que sua mãe tenha nos deixado tão cedo, então, tive que aprender a me virar.

Tecnicamente, eu não cuido dela sozinho. Tenho uma rede de apoio, que são meus pais e minha irmã.

Pelo que eu saiba, minha irmã convidou uma amiga dela para o churrasco que vai ter hoje aqui em casa. Minha mãe está empolgada, então ficou andando de um lado para o outro arrumando a casa.

Termino de trocar de roupa e passo no quartinho de Alice, para ver se estava tudo bem. Já que ela não tinha acordado, deixei a mesma dormindo e liguei a babá eletrônica pelo meu celular.

Desço as escadas e encontro minha irmã está na sala, esperando a amiga chegar. Sigo em direção a área de lazer, ajudando meus pais a organizarem o resto das coisas.

Isabelly Cavalcante

Meu nome é Isabelly Cavalcante e tenho 23 anos. Não sou de fazer muitas amizades, mas hoje, minha amiga me convidou para um churrasco na casa dela. Então, eu aceitei, já que ultimamente estávamos muito próximas.

Chego em sua casa e toco a campainha, esperando alguém vir me atender.

— Oii Isa, tudo bem? Seja bem vinda! – Ela fala me abraçando.

— Oii Cami, muito obrigada! – Sorrio retribuindo o abraço.

— Vamos entrar, minha família está doida para te conhecer! – Seguimos em direção à área externa.

— Essa aqui é a Isabelly, minha amiga! – Cami fala me apresentando a eles.

— Muito prazer Isabelly. Me chamo Daniel, e aquela ali é minha esposa, Claudia! – Sorri.

— E aquele ali é meu outro filho, Piquerez! – Olho para a direção que Claudia aponta.

Assim que nossos olhares se encontram, sinto um choque percorrer pelo meu corpo.. Mas, rapidamente volto à realidade.

— O prazer é meu conhecer vocês! – Respondo sorrindo.

E assim ficamos, conversando sobre diversos assuntos, trocando várias ideias.. Até que, o uruguaio levanta, dizendo que já voltava.

Continuei conversando com Cami sobre o novo semestre da faculdade, o que iríamos cursar etc..

Do nada, Piquerez aparece com um bebê no colo. Tento não demonstrar minha cara de surpresa, e Cami parece ler meus pensamentos sussurrando para mim:

— Ela é filha dele.. – Sorri e eu aceno levemente.

— Parece que alguém está com fome. – O pai conversa com a bebê.

— Meu filho, sente-se lá na sala. Aqui fora está muito barulho. – Piquerez concorda com a mãe e entra.

Alguns minutos depois:

— Amiga, onde é o banheiro? – Pergunto e assim que a mesma me explica o caminho, sigo até meu destino.

Depois de ter feito minhas necessidades, passo pela sala, e Piquerez está andando de um lado para o outro com a filha chorando inquieta em seus braços.

Talvez eu tente ajudar? Não conheço ele, não quero que eles tenham uma impressão que eu sou intrometida. Ignoro meus pensamentos e me aproximo deles lentamente.

— É..Piquerez né? Desculpa, não quero ser intrometida, mas, posso pegá-la? Talvez ela se acalme... – Pergunto olhando pra ele, que parece meio sem graça, mas entrega a bebê para mim.

— Que bebê mais fofa.. Qual o seu nome lindinha? – Converso com ela e seu choro vai cessando.

— Ela se chama Alice.. – Piquerez responde.

— Você pode pegar um remédio? – Me viro para ele.

— Pra que? – Ele pergunta.

— Porquê ela está sentido cólicas?.. – Respondo como se fosse óbvio.

— Mas... Como você sabe? – Ele pergunta indo até a cozinha e eu sigo seus passos.

— Ela está encolhendo as perninhas, veja.. – Tiro a manta que cobre Alice e mostro a ele. O mesmo trás o remédio e pingo algumas gotas em sua boca.

— Protinho! Agora essa princesinha pode dormir tranquila! – Falo a entregando para o pai.

— Obrigad- – Antes mesmo que ele possa me agradecer, Alice começa a chorar. – Talvez ela não queira sair do seu colo, desculpa.. – Ele abaixa a cabeça.

— Está tudo bem, eu não me importo de ficar com ela! – Respondo sorrindo, voltando a segurá-la.

— Ela nunca gostou do colo de outras pessoas.. – Piquerez fala sorrindo.

— Joaco, você viu a Isa... – Cami para de falar assim que entra na sala, e vê uma cena um tanto quanto diferente em seu cotidiano.

— Serve essa aqui? – Respondo sorrindo para ela.

— O quê... – Ela parece confusa.

— Eu estava saindo do banheiro quando encontrei os dois aqui na sala. Ela estava chorando muito, então me disponibilizei para ver se ele precisava de uma mãozinha! Não é? – Falo intercalando meu olhar entre os irmãos.

— Sim.. – Piquerez parecia envergonhado, não sabia como reagir diante daquele situação.

— Vamos lá para fora! Meus pais querem saber onde vocês se meteram.. – Cami fala e eu sigo ela, com a bebê em meus braços.

— Meu filho, ela mamou? – A mulher se cala assim que seus olhos vão em minha direção. – Como?...

Repito a mesma coisa que expliquei para Cami.

— Minha neta nunca se sentiu tão acolhida assim, nem com o próprio pai... – Ela parecia emocionada, e o semblante de todos ali presentes na mesa, se tornou triste.

Eu fico confusa, mas resolvo ficar quieta, com certeza, se trata de um assunto delicado.

— Vamos ouvir um pagode? – Claudia fala se levantando da mesa e ligando o som.

— Aí sim! – Daniel responde e quase todos, levantam da mesa para dançar.

Alice parece despertar aos poucos, se acostumando com a claridade em sua volta.

Fico observando o quanto ela se parecia muito com o pai, o rosto, o sorriso, os olhos, as bochechas... Perdida em meus pensamentos, uma risadinha é capaz de me despertar.

— O que foi princesa? – Olho pra ela sorrindo.

— Acho que ela gostou de você Isabelly... – Piquerez se vira para mim, do nada...

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