A PROVA

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ANABELA

saiu do teatro completamente atordoada. As palavras, as poucas e frias palavras daquela moça azulada passavam por sua cabeça como uma brisa gelada, soprada pela noite e pelo medo - um medo ancestral, um medo maior do que todos os medos. Os gatos continuavam em volta do poste de iluminação no meio do pátio olhando para algo ou alguém que definitivamente não estava ali. Um deles, o menorzinho, tinha um olho só e seguiu Anabela até a porta do teatro.

Marcelo estava tão feliz que nem tocou no assunto da conversa de Anabela no meio do balé. Achava que ela estivera falando com Luciana e passara do ponto no tom de voz. Luciana sabia que não houvera papo nenhum com ela e por isso continuava achando aquilo bem estranho, mas resolveu só tocar no assunto no dia seguinte pela manhã:

- Você pirou de vez, Bela? Começou a falar de repente, bem alto, no meio do balé. O que foi aquilo? A menina criou coragem e contou tudo sobre a bailarina

azul, as perguntas, os modos dela, os passos, tudo. E estava aliviada por falar com alguém, depois de passar a noite sonhando com aquela moça diáfana e gelada. Luciana ouviu até o fim. Incrédula, mas ouviu.

-Eu estava lá e não vi nenhuma bailarina azul. Pode ser problema de vista, ou pode ser porque você estava emocionada pelo seu pai, sei lá... Já sei, era fome! Você fica com essa mania de não querer engordar, fica sem comer e acaba vendo coisas. Eu com fome vejo até o Conde Drácula verde. Agora esquece essa história e vamos fazer alguma coisa de interessante para acabar com isso. Eu, hein! Que papo estranho...

Anabela concordou. Era domingo, dia de cinema, e o dia passou rápido com tanta diversão. As duas saíram, encontraram outros amigos, conversaram e riram muito. Tudo certo, tudo como sempre foi. Anabela já estava esquecendo a noite do balé e voltando a colocar os pés no chão. Melhor esquecer. Não havia nada a fazer com as lembranças absurdas daquela noite.

Luciana decidiu dormir na casa de Anabela novamente para irem juntas ao colégio no dia seguinte. Quando chegaram em casa, havia um senhor esperando por elas. Era um dos fotógrafos da noite anterior, que levava um envelope com fotos da solenidade.

Enquanto Anabela abria a porta de casa, Luciana recebeu o envelope e perguntou curiosissima se poderia abrir.

- Claro! - disse Anabela, entrando em casa sem notar que Luciana ficara lá fora, sentada no banquinho, com uma das fotos na mão, completamente pálida. No canto direito, ao lado de Anabela, aparecia uma leve e translúcida bailarina azul, uma inacreditável bailarina azul flutuando no ar.

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A BAILARINA FANTASMAOnde histórias criam vida. Descubra agora