A manhã chegou rápido, trazendo consigo o desânimo e a zero expectativa do meu primeiro dia no colégio. Depois de uma noite agitada, dormindo em uma cama empoeirada em um quarto amarrotado de caixas empilhadas, me preparei para enfrentar o desconhecido.Tomar um banho gelado pareceu o único despertar para a realidade da mudança. As gotas frias caíam sobre minha pele, fazendo-me sentir um arrepio que contrastava com o calor abafado do ambiente. Ao sair, vesti uma muda de roupas simples que consegui encontrar em meio à bagunça. Uma calça jeans azul, uma camiseta branca básica e uma jaqueta de couro preta.
Diante do minúsculo espelho na parede do banheiro, dei vários pulos tentando enxergar minhas roupas que passavam longe de ser fashion, ainda mais com minha jaqueta de couro favorita que, apesar das marcas do tempo, ainda mantinha um certo ar de rebeldia.
Alinhei os fios negros do meu cabelo, tentando domar a rebeldia da franja que deixo de lado por já estar batendo em meu olho. A cor tão escura do meu cabelo fazia minha pele clara ressaltar, assim como meus olhos azuis herdados do meu pai. Eram olhos que refletiam uma completa incerteza, sobre tudo na vida.
Desci as escadas após pegar minha bolsa já me dirigindo para a porta.
— Não vai tomar café? — Minha mãe aparece atrás de mim, com um olhar preocupado.
— Tô sem fome — Respondi rapidamente, girando a maçaneta da porta.
Antes que eu pudesse abrir completamente a porta, minha mãe se aproximou e encostou nela, bloqueando minha saída.
— Ei, só quero que saiba que vai dar tudo certo, tudo bem? — Ela tentou me transmitir confiança, mas havia um leve tremor em sua voz e um brilho de apreensão em seus olhos escuros, semelhantes aos meus cabelos negros.
Encarei-a por um momento, captando a sinceridade por trás do sorriso acolhedor, mas também percebendo a sombra de dúvida que pairava ali.
— Por que não come um pouco? Eu preparei café. — Ela sugeriu, tentando me fazer reconsiderar.
— Eu odeio café, mãe. — Respondi abrindo a porta e saindo.
[...]
O dia hoje amanheceu completamente diferente da noite anterior, a cidade estava uma calamidade e hoje o sol nasceu tão vivo e forte quanto nunca foi.
Os céus, que antes estavam cobertos por nuvens escuras e pesadas, agora exibiam um azul límpido e radiante. A luz do sol refletia nas poças d'água deixadas pela chuva da noite anterior, transformando-as em pequenos espelhos brilhantes.
A cidade em questão parece ser um verdadeiro refúgio verde, cercado por uma abundância de árvores que superam em número e presença qualquer construção urbana.
As ruas estreitas são ladeadas por imponentes árvores, cujas copas se entrelaçam formando um dossel verde. O verde intenso das folhas cria um contraste marcante com o cinza das calçadas e ocre das fachadas das casas.
A quietude desta Cidade supera minha Cidade natal mas é uma das únicas coisas que eu não me importo, por enquanto, em Heatherfild.
A caminho do colégio, me vi passando por diversas cafeterias, e sem mesmo querer, não resisti e entrei em uma delas, optando por me sentar em uma mesa no fundo, ao lado da janela. Era uma localização meticulosamente escolhida, como costumava dizer meu pai. Eu até posso quase imaginá-lo aqui, sentado ao meu lado, compartilhando sua paixão pelo gosto ardente e amargo do café.
Sentar na mesma mesa de cafeterias desconhecidas, é como se eu pudesse senti-lo mais próximo a mim, é como se ele ainda estivesse aqui.
Enquanto me envolvia na atmosfera acolhedora da cafeteria, um garoto de pele clara, cabelos castanhos alinhados e olhos caramelos se aproximou da minha mesa, segurando uma caderneta com um sorriso simpático nos lábios.
— Bom dia, gostaria de pedir algo? — Sua voz era gentil e educada, despertando-me de meus devaneios momentâneos.
— Ãnn? Ah, não, não. Obrigada. — Saí do transe abruptamente, levantando-me apressadamente da mesa.
— Calma, você esqueceu... isso, nossa. — Sua voz suave me fez voltar a olhar para trás, surpreendida com o tom de urgência.
Ao me virar, percebo que ele havia se levantado, segurando minha agenda particularmente secreta de desenhos. Um arrepio de nervosismo percorreu minha espinha enquanto corro em sua direção para recuperar o caderno.
— Ei! — Exclamo, pegando o caderno de suas mãos antes que ele pudesse folhear mais páginas.
Ele coça a cabeça, seus olhos caramelos brilhando com um misto de curiosidade.
— Você desenha muito bem. — Ele elogia, tentando aliviar a tensão que pairava no ar.
— E você é um enxerido. — Retruco, e sem mais delongas, saio da cafeteria apressadamente, deixando-o para trás.
No lado de fora, respiro fundo e olhei as páginas que ele havia visto. Eram os rascunhos dos meus sonhos estranhos, imagens que eu havia capturado em momentos de inquietação. Fechei minha agenda e a guardei de volta, percebendo apenas agora que minha bolsa estava aberta. E assim continuo a caminhar em direção ao colégio.
[...]
Parada em frente ao imponente prédio do colégio, minha atenção é capturada pelo enorme letreiro no alto da entrada, que brilha com o nome "Instituto Sheffield" em letras douradas.
Alunos e alunos passavam pelo portão e se acumulavam no enorme gramado. O ar está impregnado com o zumbido de conversas e risadas, criando uma atmosfera irritante típica do início de um novo semestre.
— E lá vamos nós, Elyn, viva ao último ano. — Murmuro tediosa para mim mesma, finalmente passando pelo portão.
Caminho sem rumo pelo gramado, olhando a tela do meu celular, que de acordo com o email enviado pela diretoria, eu devo encontrar com uma tal de Delilah,responsável por me apresentar ao colégio.
Continuo a andar quando sou bruscamente esbarrada por alguém, quase sendo levada ao chão pelo impacto.
— Olha por onde anda! — Grito, com meu tom de voz carregado de indignação.
— Aí desculpe, querida. Espera aí...Eliana?— Escuto uma voz melosa
Quando olho para o lado vejo uma garota de pele tão clara que parece brilhar sob a luz do sol, cabelos dourados e olhos tão azuis quando o céu.
— Por acaso você é um cospley da Barbie? — Pergunto em um tom de sarcasmo com uma expressão de surpresa
— Oque disse? — Ela aperta os olhos, sem entender completamente a referência.
Nego com a cabeça sorrindo ironicamente.
— Quem é ela amiga? — Uma garota de cabelos ondulados e castanhos, pele clara e olhos castanhos como seu cabelo, pergunta.
— A garota que tenho que apresentar ao colégio, prazer Eliana sou a Delilah já deve ter ouvido muito sobre mim. — Ela solta uma risadinha convencida, colocando a mão no peito como se fosse uma celebridade.
— É... Não. — Quebro o clima e a mesma para de rir no mesmo instante - E me chamo Elyn.
Delilah e a garota ao seu lado se entre olham com a sombrancelha arqueada.
— Então, vai me mostrar o Colégio ou não? — Cruzo os braços com um sorriso forçado e simpático nos lábios
— Claro. — Delilah responde de forma direta e concisa, em uma única palavra, sem muita empolgação aparente. — Até mais tarde, Amara — Elas se despedem e Delilah segue andando a passos firmes
— Foi um prazer, Amara — Aceno balançando os dedos com um sorriso.
É...acho que isso pode ser divertido.
Continua...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Harmonia Elemental - As Crônicas De Kandrakar
Fantasía(LIVRO PAUSADO POR TEMPO DETERMINADO) Em um mundo mágico onde segredos ancestrais e poderes elementais colidem, quatro destemidas adolescentes do mundo dos humanos são escolhidas para uma missão épica: proteger a harmonia do universo como as lendári...