4 - Maria Clara

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Acordo assusta e dou um pulo. O local era diferente então me lembro de todo o ocorrido. Lembro - me também que não dormia assim faz tempo. Me jogo na cama novamente e suspiro. Eu não quero acordar, não quero ter que voltar a minha vida de merda, e principalmente não quero voltar a me sentir amedrontada aonde quer que eu vá. Não quero ter que esperar alguma surpresa toda vez que for sair de algum lugar. Não quero mais essa vida.

- Está bom aí? Uma voz grossa e rouca pergunta.

Então me lembro da noite anterior. Dos braços fortes ao meu redor e principalmente do meu salvador.

- Aqui está muito bom. Não durmo assim a meses.

Digo ainda jogada em sua cama, sem me importar em estar sendo incoveniente. Que se foda! Se quiser ele que me tire. Penso e sorrio.

- Por que sorrir? Pergunta curioso.

- Hmm nada. Digo e me sento.

Ao canto, numa cadeira de couro e bem confortável está o meu salvador. Acho que não existe blusas em seu armário. Por que novamente ele está sem camisa, os cabelos molhados como se tivesse acabado de sair do banho e uma bermuda preta. Gotículas de água ainda escorriam pelo seu corpo e nesse momento desejei lamber cada uma delas. O homem era espantoso, mas ao mesmo tempo e sexy, gostoso. Então me lembro do meu inferno particular e desisto. Eu sequer deveria pensar nisso. Roberto disse que ninguem nunca iria me querer, e eu não sou doida de colocar uma vida em risco por minha causa, do jeito que meu marido está doido ele e capaz de matar eu e todos que se envolverem comigo. Meu processo de separação está sendo lento demais, espero que meu marido não tenha nada haver com isso, prefiro acreditar que e por que a justiça do meu país realmente e uma bosta.

- Vai me contar o que aconteceu? Por que você estava preste a ser devorada? Perguntou mais uma vez o homem misterioso.

- Meu marido anda brincando de gato e rato comigo. Estou no processo de divórcio e isso está me custando a minha paz.

- E por que você não corre atrás dos seus direitos?

- Por que eu já fiz isso, ele sequer pode se aproximar de mim e olha só? Ontem foram cachorros, mas eu já tive cobras no meu quarto, perseguição, agressão, e nada e feito. Eu estou a quase uma semana trabalhando sem parar, por que lá ele não entra então lá eu fico segura, estou a dias parando só pra cochilar, não consigo mais comer direito, pois tenho medo do que ele possa ser capaz de colocar na minha comida.

Digo tudo de uma vez e suspiro. Me jogo na cama novamente e me encolho.

- Ele só faz isso quando estou na rua sozinha ou em casa sozinha. Ele não costuma entrar nos locais em que estou que tenha pessoas. Já troquei minha fechadura duas vezes e ele entra lá como se ainda fosse o dono.

Rio amargurada.

- Ele realmente ainda está sendo meu dono, pois mesmo separada dele, ele está com poder sobre minha vida. E eu não aguento mais isso. Me separei dele pra ter paz, liberdade e continuo do mesmo jeito quando era casada.

- O que acha de ficar aqui no Motoclube? Aqui temos quartos individuais como este com banheiro e tv, mas a cozinha e lá em baixo, com todos juntos. Disse me fazendo o olhar.

- Não posso. Eu tenho a minha casa e...... Não sei. Queria continuar lá, queria poder ter minha vida sem precisar de alguém. Suspirei.

- Ele não vai te permitir isso, aqui e pela sua segurança, mas se quiser continuar na sua casa tudo bem, porém a partir de hoje eu te protejo.

Disse ele convicto. Pensei em sua oferta, mas eu estaria colocando sua vida em risco.

- Não posso colocar você em risco. Disse baixinho.

- Eu só vou dizer uma vez e eu espero bem que você me escute. Sua proteção está sob minha responsabilidade, você está num moto clube, e eu não sou o cara bonzinho. Eu sou o cara que vai decidir se o seu marido de merda vive ou não. E até que eu tenha certeza que você vai ficar bem, permanecerei onde você estiver. A decisão e sua.

A decisão e sua... A decisão e sua... A frase ecoou em minha mente e eu não soube o que fazer ou o que responder. A decisão e minha, da última vez que tomei uma decisão importante como essa, eu trouxe o caos para minha vida. Eu achei que estaria me livrando e só me afundei ainda mais. O homem era um assassino, ele decide quem vive e quem morre. Ou seja mais o que for. Você está num motoclube. Várias informações que eu não sei o que pensar. E se ele decidir que eu não valho a pena? Ele vai simplesmente me matar também? Porra o cara e um assassino! Será que ele e capaz mesmo de decidir sobre a vida de uma pessoa? Eu não duvido, e não sei o que esperar.

- Você vai me matar?

Perguntei e ele ficou me olhando como se eu tivesse algum problema? Eu não sei o que pensar.

- Se achar que eu não valho a pena? Você vai me matar?

Reformulei minha frase e ainda assim ele ficou me encarando.

- Eu não machuco pessoas inocentes. Eu irei sair daqui, procurar seu marido e deixar que ele me conte sua versão da história.

- Então se ele for convincente o suficiente você ficará ao lado dele, a errada será eu.

Disse já tendo a certeza de sua resposta. E apenas nesse momento tive medo. Tive medo por estar onde estou e principalmente por estar com este homem. Tive medo por que meu protetor viraria meu assassino. Por que o homem que eu achei gostoso e comestível, carregaria meu corpo sem vida.

- Não vamos pensar nisso agora né. Você já tem um ponto por que eu vi toda a ação ontem. Acredito em você. Mas prefiro dar ao seu marido o benefício da dúvida.

Ainda assim tive medo. O que poderia dar errado? Ele apenas facilitaria a vida do meu marido me matando. Eu já estava cansada mesmo. Cansada de viver fugindo. Cansada de ter medo. E foi com esse pensamento que tomei minha decisão.

Dante. MC - Lobos Onde histórias criam vida. Descubra agora