Não estou nem aí

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Mais tarde, às 19 horas, jantar. Meus pais saíram. Edric e Emira estão do outro lado da mesa. Comemos macarrão com um pouco de carne. Não sei bem que carne é. Não consigo me concentrar.

— Amity, o que houve? — Edric balança o garfo na minha direção. — O que está havendo? Tem alguma coisa acontecendo.

— Azura, é isso que está acontecendo — falo. — Mas ninguém liga. Todo mundo está sentado falando sobre coisas que não importam e fingindo que tudo não passa de uma baita piada engraçada.

Ed e Em olham para mim como se eu fosse maluca. Bem, eu sou.

— É muito esquisito que a Azura não tenha sido denunciada — diz Emira — Tipo, mesmo com aquele lance em Osso Burgo. A Azura nem foi citada. As pessoas parecem não estar levando Azura muito a sério...

Edric suspira e a interrompe.

— Independentemente de a Azura fazer coisas boas ou não, não há motivos para a Amity ou quem quer que seja se envolver. Não é problema nosso, certo? Os professores ou a polícia não deveriam estar fazendo algo a respeito? É culpa deles se não se importam em fazer nada.

E é nesse momento que eu percebo que também os perdi.

— Pensei que vocês dois fossem... melhores do que isso.

— Isso o quê? — Emira ergue as sobrancelhas.

— Isso com que as pessoas se preocupam o tempo todo. — Aperto as mãos, levando-as à cabeça. — É tudo falso. Todo mundo está fingindo. Por que ninguém liga para nada?

— Amity, sério, você está...

— SIM — grito. — SIM, ESTOU BEM, OBRIGADA. MAS. E. VOCÊ?

E saio dali antes de começar a chorar.

.

.

.

Está claro que os gêmeos contaram aos meus pais, não que eles se importem, mas de alguma forma quando eles chegam em casa, nem sei que horas, batem na porta do meu quarto. Não respondo, e eles entram.

— O que foi? — pergunto. Estou sentada na cama tentando conectar as palavras e transformá-las em frases na espectativa de ler uma página de algum livro nos últimos trinta e sete minutos mas parece impossível, meu laptop está sobre a minha cama feito um gato adormecido, com a página do meu blog emitindo sua luz azul fraca.

Meu pai observa minha parede por bastante tempo. Não dá mais para ver a tinta por baixo. Virou uma colcha de retalhos de impressões dos posts da Azura, centenas deles.

— O que está acontecendo, Amity? — indaga meu pai, desviando os olhos do painel.

— Não sei.

— Seu dia foi ruim?

— Sim. Como sempre.

— Olha, não precisa ser tão melodramática, Amity. — Minha mãe suspira, parecendo decepcionada com alguma coisa. — Anime-se. Sorria.

Dou uma risada forçada.

— Minha nossa.

Ela suspira de novo. Meu pai a imita.

— Bem, deixaremos você com seu segredo — diz ela. — Se vai ser sarcástica...

— Ha. Ha. Sarcástica.

Uma vida (quase) solitária Onde histórias criam vida. Descubra agora