Saída

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     O fogo queimava minha pele tanto quanto a minha alma. Porém eu não sentia nada, minha mente estava nublada, cansada, logo meu cérebro se prontaria em fazer a dor parar...e me fazer desmaiar.

E estava dando certo.

Se não fosse aqueles olhos opacos.

Mortos.

Vermelhos e familiares.

Me encarando, como meu pecado.

E então... Tudo ficou preto.


Alguns dias atrás...

Uma luz ofuscante me fez acordar. Abri os olhos e os cobri com a palma da mão. Mergulhei meu rosto no travesseiro o escondendo.

     — A bela adormecida ainda não acordou?

A voz de Blood entrou pelos meus ouvidos e saiu pelo outro, suspirei cansada.

    — Vá embora...

A cama chacoalhou quando ele se sentou colocando seu peso nela, abri os olhos ainda com ramela e o encarei, atenta.

     — Não se cansa de brincar de esconde-esconde com ele?

Blood vestia uma jaqueta de couro cor vinho, tão escura como vermelho, as mangas estavam arregaçadas mostrando seu antebraço moreno e cheios de veias escuras. Não havia nada por baixo da jaqueta.

Sabia a quem ele estava se referindo.

Estou escapulindo de Miguel em cada maldita passeada nessa cidade. Evitando nosso encontro. Na noite anterior bati a cabeça com tudo na parede tentando correr pelo escuro, era como se O'hara sentisse meu cheiro.

      — Não acho que isso seja da sua conta.

Respondi secamente apoiando os cotovelos na colcha e me levantando. Ainda vestia a fantasia de ontem, ela ainda cheirava a terra molhada e sujeira. Eu precisava urgentemente de um banho.

Sua mão pegou meu queixo e o levantou, me obrigando a encara-lo.

      — Eu não gosto de brincadeiras Solzinho... E não gosto de saber que está brincando comigo...

Os olhos de Blood eram tão amarelos que pareciam brilhar, principalmente quando estava com raiva...

Sua mão deslizou por minha cintura enquanto me puxava para perto.

Não posso dizer que eu e ele não fomos alguma coisa, nem que eu não usei seu corpo nesses cinco mêses para esquecer o de outro homem...
Mas era tudo um jogo, e ele sabia disso. Mas eu não queria joga-lo agora.

Girei meu corpo e empurrei seu peito, o fazendo cair de costas para a cama, arrumei meus cabelos os afastando do rosto.

     — Temos um acordo Blood, cumpra sua parte que continuarei cumprindo a minha.

Não toque em Miguel ou eu mato você.

Sai de cima dele e caminhei indo em direção ao banheiro.

Escutei sua risada alta enquanto ele cobria seu rosto com as duas mãos.

Me atrevi a dar uma última olhada nele, que permanecia deitado, agora de braços abertos.

      — Você realmente me da uma puta de uma te-

Fechei a porta não me deixando escutar o resto da frase. Tirei as roupas e liguei o chuveiro, o toque da água em minha pele era tão aconchegante quanto o cheiro de casa.

Casa...

O'hara havia me prometido isso não é...?

Pensei em um motivo para não aceitar, havia repensado isso tantas vezes quatro dias atrás que quando não pensava... Parecia que faltava alguma coisa.

Agua e veneno~ Miguel O'haraOnde histórias criam vida. Descubra agora