VIII

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Enid acorda na cama de Wednesday. Deve ser um pouco desconcertante, já que ela não consegue se lembrar exatamente como chegou aqui, mas não é. A lareira está acesa, lançando luz bruxuleante e sombras sobre a sala. Os cobertores são chutados até seus pés, e sua cabeça está apoiada na fenda entre os dois travesseiros de Wednesday. Eles cheiram como ela, picante-doce, e Enid inala profundamente por um momento, aproveitando tudo isso. O calor do fogo, os lençóis sedosos de Wednesday, o silêncio da sala cavernosa.

Quando finalmente se senta, ela enxuga primeiro os olhos e depois a boca. Tem pasta de dente com crosta ali, embora ela não se lembre de ter escovado os dentes antes de dormir. Ela não consegue se lembrar de muita coisa, na verdade, além da música forte do show, uma quantidade confusa de luzes dançantes e uma única imagem de Bianca limpando o sangue de sua boca.

Isso é tudo que ela tem. Isso e álcool. Muito álcool. Ela se lembra disso com mais força, a queimadura horrível, a adorável ausência de peso. E também há raiva em sua memória, mas não na dela.

— Wednesday? — Enid liga. Ela passa a mão pelo cabelo, os dedos ficam presos, uma dor aguda passando por ela quando os puxa pelo emaranhado de qualquer maneira.

A porta do banheiro se abre. O banheiro de Wednesday é o mais bonito da casa. É todo chão de pedra e balcões brancos puros e a maior banheira que Enid já viu. O cabelo de Wednesday está molhado quando ela sai, fechando a porta atrás de si. Ela está vestido com as roupas de Enid, o moletom e a camiseta, a preta com o buraco perto da barra. Os ombros dela pendem um pouco, mergulhando na gola, revelando sua clavícula de uma forma que a faz parecer muito magra e extremamente saltável, ao mesmo tempo.

— Bom dia. Como você está se sentindo?

Enid pega o cobertor, puxando-o até o estômago. Ela puxa o material, os olhos em seus movimentos em vez de Wednesday. — Escala de um a dez, quão louca você está?

— Vinte. — Responde Wednesday, sem emoção. Ela vem até a cama, e Enid corre para abrir espaço para ela, mesmo que ela apenas se empoleira na beirada, de volta. — Você me assustou pra caralho. Eu pensei que você fugiu ou algo assim, por um tempo lá. E então eu notei que Bianca também tinha ido embora, e isso me assustou ainda mais. Você percebe que ela poderia ter matado, certo? Nem mesmo de propósito, ela é apenas um idiota imprudente.

— Acabamos de ir a um show. — Tenta Enid, debilmente defensiva. — Nada aconteceu.

Apenas um show. — Repete Wednesday. — Então, por que você estava louca quando voltou para cá?

Enid estremece, feliz por Wednesday não estar olhando para ela. — Ok, e um clube. Mas foi  bom.

— Eu sei disso. — Wednesday rebate. — Obviamente. Você está aqui agora, não é? Mas... porra, um pequeno erro e você não teria voltado. O mundo é perigoso, Enid, e você não entende o quão vulnerável você é.

— Mas eu  não sou. — Enid argumenta. — O quê, porque eu sou humano? Assim como a maioria da população, Wednesday! As pessoas morrem todos os dias, mas nem todos! As pessoas não se escondem em suas casas para sempre porque podem ser atropeladas por um ônibus quando saem. As chances de algo assim acontecer são muito pequenas para passar a vida inteira se escondendo por causa disso.

— Eu  sei. — Ela resmungou. Enid pode dizer, apenas pela sua postura, que ela está beliscando a ponta do nariz. — Você realmente não acha que eu entendo isso?

— Então... então eu realmente não vejo qual é o problema. — Admite Enid. — Eu realmente não sei. E todos vocês dizem que estão preocupados comigo revelando seu segredo, anunciando ao mundo que, ei, vampiros existem. Mas você sabe que eu não faria isso, Wednesday. Não me diga que você não, porque nós duas sabemos que isso  nunca  aconteceria.

Lover Dearest | Versão Wenclair Onde histórias criam vida. Descubra agora