Capítulo 1

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Eu amava Nalu. Ele era meu melhor amigo de infância, sempre estivemos juntos tanto física quanto mentalmente. Mas agora ele estava distante. Não era algo estranho, ele sempre ficava assim depois de uma briga com os pais, eu entendia, ele queria seu espaço. Mas agora era diferente, ele não estava apenas distante, estava estranho comigo, e eu não sabia o porquê.

Olhei para ele sentado no mesmo banco que eu, mas na ponta contrária à minha, com os braços cruzados, os dedos tamborilando a pele preta clara com pequenos brilhos mágicos azuis saindo das pontas. Seu olhar estava janela a fora, observando os moradores da pequena vila que acabávamos de entrar, que também observavam a carruagem chique em que estávamos.

Sua expressão estava fechada, as sobrancelhas grossas levemente estreitas, os olhos azuis claros — mesma cor de seus cabelos longos e crespos — pareciam distantes. No geral ele estava tenso, mas eu não sabia o porquê.

Não era a missão. Nalu nem ao menos queria de fato estar ali, só estava para agradar aos pais, me acompanhar e ganhar alguns pontos para o Jovem Aprendiz. Mas fora a missão, eu não conseguia pensar em mais nenhum motivo para seu comportamento.

Virei o rosto para fora quando a carruagem parou, e respirei fundo quando as portas dos dois lados foram abertas, Nalu descendo pela direita e eu pela esquerda. Haviam dois Guardas com o brasão de sua família do lado de fora. Enquanto descia ouvi o que abriu a porta para Nalu comprimenta-lo, enquanto o que abriu para mim pôs o pé na minha frente, me fazendo tropeçar e quase ir ao chão. Lhe dei um olhar de desgosto e ele me retribuiu com um sorriso maldoso e o mesmo olhar de desgosto.

"Imbecil" pensei me recompondo e me virando. Me encontrei com Nalu em frente a carruagem, ele passou o braço por meus ombros me puxando para perto, fazendo um arrepio subir pela minha espinha e confusão tomar a minha mente. Ele mal estava olhando na minha cara e agora isso?

Fomos guiados pelos Guardas em direção ao resto do grupo, que consigui avistar em uma praça não muito longe. Haviam outros Guardas com eles, e apesar dos uniformes serem o mesmo, era fácil identificar quais pertencem a família de Nalu e quais não. Os Guardas da vila tinham vestimentas mais simples, com tecidos mais baratos, enquanto os da família de Nalu se vestiam e se portavam como reis, com seus narizes empinados e olhos frios e julgadores.

Olhos esses que se voltaram todos para mim quando nos avistaram chegando, eles nem ao menos disfarçaram a cara de desgosto ao me ver. Disfarcei com uma expressão impassível, eu já estava acostumada apesar de sempre me atingir, sempre disfarçava, eles não precisavam saber que me incomodavam, se sentiriam melhor assim.

O chefe deles, Duna, é o que me olhou com mais desgosto, mas disfarçou quando Nalu que estava distraído observando a vila percebeu e lhe deu um olhar severo. Duna acenou para ele desviando o olhar sem levar muito a sério. Ele era o subchefe da Guarda da família e concordava com tudo que os pais de Nalu falavam, o que colocava ele quase como um irmão mais velho de Nalu, que servia de exemplo e poderia repreendê-lo sem haver consequência alguma por isso.

Nalu olhou para mim, se certificando de que eu estava bem, disfarcei o melhor que pude, lhe dando um sorriso, ele retribuiu fazendo um sentimento de esperança crescer em meu peito, mas rapidamente virou o olhar, fazendo esse sentimento se quebrar.

Algo estava muito errado aqui, Nalu não ficava assim comigo mesmo quando precisava de um tempo. Será que ele estava bravo comigo? Eu tinha feito alguma coisa? Talvez estivesse me culpando por ele estar aqui já que a ideia foi minha?

Não tive muito tempo para pensar nisso, antes que todos os Guardas se virassem em direção a um homem em trajes mais finos que se aproximou com um sorriso bajulador.

— Guarda da lua, sejam muito bem vindos à vila da lagoa. Meu nome é Malum. Fico feliz que tenham recebido nosso chamado e vindo ajudar. — Sua voz estridente e calorosa demais me fez querer coçar o ouvido, mas eu me segurei. Duna assentiu fazendo uma mesura respeitosa com a cabeça, e notei sua leve expressão de desgosto quando se abaixou.

— Nossa casa quem agradece a chamada, meu senhor, meu nome é Duna, e peço que por favor, nos guie, não queremos perder tempo.

Malum sorriu, estendendo o braço em uma direção, enquanto dizia:

— É claro, por favor, me sigam.

E então ele se virou, nos guiando enquanto falava baboseiras sobre as riquezas e prestígios da vila que ninguém estava prestando atenção.

Eu observei os Natures ao redor, dos mais velhos aos mais novos, que nos olhavam ora com curiosidade, ora com esperança, e quando Duna cortou o assunto de Malum, perguntando:

— E sobre a criatura? Nos fale sobre ela — os Natures olharam com medo, os burburinhos cessaram, as crianças se esconderam atrás dos adultos e expressões de pesar tomaram o rosto de todos.

Essa mudança não passou despercebida aos nossos olhos e Malum nos deu um sorriso triste, que eu não sabia dizer se era realmente triste ou falso, e disse:

— Podemos conversar sobre isso no meu escritório?

Vendo a reação dos Natures, Duna apenas assentiu, e seguimos o resto do caminho em silêncio. Entramos em uma grande casa no final da vila, ainda seguindo a mesma estética de manter as cores reais das madeiras, mas um pouco mais refinada e maior. Por fora ela era bastante bonita e leve, mas por dentro se mostrou ser bastante sombria, era como se tivéssemos entrado em outra dimensão. Tinha bastante iluminação, mas por que parecia tão escura?

Talvez fosse o imenso silêncio, ou as faces frias dos empregados, que nos cumprimentavam sem nenhuma cordialidade, apenas acenando e depois voltando aos seus afazeres sem nem ao menos nos olhar nos olhos.

Observei os quadros nas paredes, de seus ancestrais, nenhum deles se parecia muito com ele, exceto pela postura refinada, uns mais leves, outros mais falsos. Meus olhos se estreitaram um pouco em curiosidade quando chegamos ao final do corredor, faltava um quadro ali, e havia sido retirado recentemente pelas marcas na parede. Me perguntei o porquê.

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