COISAS EGOÍSTAS › joji

capítulo 9

Próximo das 23h, Alice saia de um dos quartos da UTI em direção ao posto de enfermagem no fim do corredor, esticando os braços para o alto para aliviar a tensão. Não era sua primeira vez fazendo plantão no hospital, mas estava cansada como se fosse. Mesmo com poucos pacientes para cuidar, por conta do seu "encontro" no sábado e indo direto para o trabalho no dia seguinte, não conseguiu descansar o suficiente para passar 36 horas seguidas em serviço.

No posto com as outras enfermeiras em pausa, escorava o corpo contra o balcão, fechando os olhos e ouvindo o tick do relógio contando o tempo que faltava para poder ir para casa.

— É tão legal estar aqui, não é, Alice-chan? Plantão é demais! Não vejo a hora de contar aos meus pais que finalizei um plantão. — uma voz difícil de confundir disse a sua frente. Era a primeira vez que o jovem Kenta participava de um plantão tão longo e a mais velha desconfiava que ele deveria ter se enchido de açúcar para estar tão animado assim próximo do horário de serem liberados.

Depois de algumas semanas trabalhando diretamente com Kenta, estava gostando mais do garoto. Ele era bem fofo, comportado e atencioso, conversando sempre com seus pacientes para deixá-los confortáveis, assim como ela gostava de fazer. Kenta lembrava um pouco Hijon, em sua inocência e dedicação. Era um pouco difícil acreditar que estava apaixonado (ou pelo menos tinha uma quedinha) por Yuko, a mais amarga e pessimista alma no hospital.

Alice concordou com sua fala e permaneceu de olhos fechados esperando que o tempo passasse mais rápido. Seu desejo, entretanto, não era a realidade.

— O que vai fazer quando chegar em casa? Acho que ainda vou ficar acordado por mais tempo e assistir os programas da madrugada. Nunca fiz isso antes, acredita?

Kenta continuava tagarelando ao fundo e Alice não prestava atenção em mais nenhuma palavra saindo de sua boca ou barulhos em sua volta. Ainda estava atenta para um chamado de ajuda, mas aprendeu a filtrar as conversas desinteressantes.

Não só estava cansada fisicamente, como mentalmente. Sua irmã estava chateada por não ter ido ao almoço de dia das mães em Kyoto, mesmo que tivesse avisado com antecedência tanto para ela quanto para Jun (que entendeu perfeitamente sua ausência). Sabia que Naomi não estava mesmo irritada consigo, e sim com a situação em que foi colocada. Tendo Jun e sua noiva Yang Zi em casa, sabia que seus pais jogaram comentários ao longo do dia sobre o casamento dos dois e as decisões do casal sobre a festa. Não só isso, também devem ter reclamado de Asahi por algum motivo e como Naomi deveria agir como mãe do Yui. Nada disso era anormal nas reuniões de família, todas iam para assuntos detestáveis e desconforto em sala. A diferença é que, quando os irmãos estavam juntos, parecia muito mais fácil lidar com os pais difíceis que tinham e Naomi estava morrendo de saudades de abraçar os irmãos e reclamar de seus pais com eles.

Alice também morria de saudades dos seus irmãos e das longas conversas que tinham quando podiam se encontrar, embora não se arrependesse de ter organizado seus horários de trabalho para que coincidissem com o encontro em família. Eles teriam outras oportunidades em breve e sua cabeça não estava boa para mais problemas.

O plantão estava ajudando a manter sua cabeça ocupada, mas ocasionalmente um flash de seu encontro com George e companhia apareciam em sua mente. Ele mandou algumas mensagens brigando de forma jocosa devido a sua saída inesperada do shopping e como ele queria que tivessem passado um pouco mais de tempo juntos. Ele começou a elogiá-la de boa amiga e como Sayo estava feliz por tê-la conhecido, que estava doida para que saíssem juntas novamente e Alice não soube mais o que responder. Lembranças repentinas da troca de carinho e sorrisos do casal sempre invadiam seus pensamentos de forma inesperada. Quando tentava relaxar e esses pensamentos vinham, ela abria os olhos para afastá-los.