capítulo 2

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— Eu vou zerar essa prova, você pode ter certeza disso. — dizia Hijon se afastando da mesa de centro e se encostando no sofá atrás dela enquanto soltava um ar de frustrada.

Era sábado à noite mas Alice não gostava de dar a si mesma descansos após uma semana de trabalho exaustivo. Além de enfermeira, Alice tentava atuar como professora quebra galho nos finais de semana e estava agora dando aulas de kanji e hiragana para Hijon.

A taiwanesa veio para o Japão há 1 ano sabendo menos que o básico da língua em busca de terminar sua graduação e quem sabe mudar de vida. Sua família era humilde e sua formação acadêmica estava sendo desperdiçada onde vivia, lhe dando assim a opção de ir ao Japão tentar algo melhor e uma chance de ajudar sua família há distância. Ela trabalhava em uma boate agitada em Osaka então conseguia uma quantia considerável de dinheiro para enviar a sua mãe e seu irmão, sobrando o suficiente para se manter com uma vida simples.

Hijon tinha conhecido Yuko e Alice através de sua residência como interna de sua faculdade, que tinha uma parceria com o hospital e regularmente levava os alunos para visitas de pesquisa. Devido a dificuldade em aprender o idioma, ela tinha repetido algumas matérias no último semestre e ainda não podia estagiar, mas fazia o possível para não ficar para trás.

Tanto Alice quanto Yuko, a outra ponta desse triângulo, se juntavam uma vez por semana para dar aulas para a menina. Hijon era muito esforçada e energética, parecia estar ligada na tomada sempre e Alice demorava para acompanhar.

— Você é capaz de fazer isso, eu já te disse várias vezes. — Alice havia voltado a sentar em sua frente na mesa depois de pegar um copo de água na cozinha. — Você tem tempo o suficiente para estudar para a prova, você vai conseguir!

— Eu não sei o que faria sem vocês me ajudando. — Hijon usou sua carinha mais fofa e estendeu o braço para Alice segurá-lo. — Desculpa acabar com os seus sábados te fazendo vir aqui repetir as mesmas coisas sempre.

— Não é como se tivéssemos mais o que fazer nos sábados, sinceramente. —  disse Yuko pela primeira vez desde que começaram a aula. — Ou qualquer outro dia da semana.

Se Hijon era o pico de energia do trio, Yuko era a quietação completa. Ela detestava qualquer coisa que a obrigasse por um sorriso no rosto sem motivos e tinha um olhar muito intimidador, ninguém desconfiava que ela trabalhava cuidando de outras pessoas todos os dias. Yuko já estava no hospital a mais tempo que Alice mas não havia terminado seu treinamento e feito a prova final, nunca explicando muito bem o motivo para essa demora.

Para Alice era fácil ver o lado meigo de Yuko, você só precisava se aproximar lentamente e ganhar a confiança dela. Quando as duas conheceram Hijon, Yuko a convidou para dividir um apartamento para que ela gastasse menos dinheiro e pudesse economizar para enviar para sua família. Ela era um anjinho também.

— Algumas de nós tem opções, sim. Você, por exemplo, podia estar saindo com aquele estagiário novo do Makihara. Ele não pediu o seu número? Vocês precisam me explicar essa história direito. — disse Alice.

Yuko estava deitada no sofá passando o dedo pela tela quando começou a revirar os olhos ao ouvir o assunto que resolveram levar à tona. Baseado em sua personalidade, não era difícil perceber que ela era do tipo que odiava se tornar o tópico de uma conversa.

— Não tem o que explicar. O estagiário cara-de-idiota do Makihara pediu o meu número e eu neguei. É tão difícil assim as pessoas te deixarem trabalhar em paz e sossego naquele lugar?

— Bem, você considera mandar ele enfiar o celular naquele lugar um simples 'eu neguei'? — completou Hijon. — O coitadinho ficou todo envergonhado e nem conseguiu responder, só saiu meio desatordoado de perto dela. Eu também não saberia onde enfiar minha cabeça depois dessa.

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