capítulo 4

166 14 7
                                    

Era segunda-feira e Alice se sentia exausta do seu intenso final de semana. O encontro com George foi de fato algo além do comum de seu dia-a-dia e o rapaz não deixou de rondar seus pensamentos desde então. Não podia negar que não era tão desconfortável quanto imaginava pensar no que estava por vir agora, parecia menos assustador pensar nisso do que em todo o resto que acontecia ao seu redor.

Na manhã seguinte ao seu encontro, sua mãe ligou solicitando que fosse para uma visita o mais breve possível. Normalmente não acharia isso um absurdo, mas sabendo que está a um passo da porta para terminar o seu estágio e as pessoas mais preocupadas com ele eram seus pais, não sentia vontade nenhuma de visitá-los. Seus discursos iriam de questionamentos sobre o por quê não disse antes que já tinha passado por sua cerimônia de finalização ao inevitável agora pode estudar para ser uma médica de verdade, como se enfermagem não fosse o suficiente. Mesmo afirmando que não era nada urgente e só queriam ver como a filha estava, Alice tinha conhecimento de que essa era uma armadilha para ursos e ela não saberia escapar. Podia tê-los convencido de que estava ocupada pelo resto do mês, mas era infalível que uma hora ou outras teria que encará-los.

Falando em término de estágio, isso também estava ajudando a tornar sua segunda-feira mais cansativa. Faltavam agora poucos dias e ela ainda não tinha nenhuma reação ao que deveria ser o melhor momento de sua vida, nem mesmo lembrava que faltava pouco tempo. Quantas complicações...

Alice e Yuko andavam lentamente até a mesa de centro da cafeteria do hospital para desfrutar de suas refeições. Neste momento, elas conseguiram tirar o mesmo horário de pausa e por em dia todos os assuntos atrasados da semana anterior. Essa também era a melhor maneira de Alice se distrair de tudo que a rodeava.

— Yuko, por acaso você deixou um pouco para os outros médicos ou toda a comida do refeitório está no seu prato? — perguntou Ayaka já sentada na mesa que agora ocuparia as duas. A supervisora de Alice sempre almoçava no horário normal, então não restavam muitas oportunidades para que se sentasse com as mais novas, como acontecia agora. O correto seria que Alice almoçasse sempre com ela já que não podia trabalhar sem sua supervisão, mas isso ninguém precisava saber. — O seu prato deve pesar o mesmo que você.

— Não é como se eu não estivesse fazendo um favor aos outros clínicos comendo toda essa gororoba. — disse a alta ao por o prato sobre a mesa, sentando ao lado de Alice e de frente para Ayaka. Antes que a supervisora pudesse a repreender, Yuko revirou os olhos e murmurou um desculpa. Não é como se já não fosse comum ouvir seus comentários sinceros.

— Mais alguns anos e você irá se acostumar com essa gororoba que está enchendo sua barriguinha. — riu Ayaka, dando uma colherada em seu pudim de morango e enchendo o rosto de arrependimento. — Queria ter o corpinho que vocês tem para comer tantas porcarias e não engordar. Não deveria ter me dado o prazer de saborear uma sobremesa agora, mas esse pudim é tão delicioso que não pude resistir.

— E o que tem de mal em engordar um pouco, Ayaka? — disse Yuko com sua boca cheia de arroz e peixe. — Não me diga que está mais uma vez pensando em começar alguma dieta idiota.

— Se eu crescer mais uma misera grama, esse botão aqui sai voando pelo outro lado do refeitório. — apontou ela para o uniforme, dando mais uma risada para amenizar o clima. — Engordei 2kg semana passada e nem mesmo sai da minha dieta comum, isso está me matando.

— Está sendo muito dura consigo mesma, não acha? Seu prato está praticamente cheio e não é como se tivesse tanta comida nele. — disse Alice pela primeira vez na conversa. Sua mão largou o garfo e foi em união a mão de Ayaka para mostrar seu apoio. — Quer outro almoço? Mais uma sobremesa? Eu busco para você. — ela ameaçou levantar apenas para ser puxada de volta por Ayaka com a mão que a segurava. Yuko segurou o riso e só balançou a cabeça com fala da amiga.

COISAS EGOÍSTAS › jojiOnde histórias criam vida. Descubra agora