capítulo 7

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O cheiro adocicado de camélia saía dos cabelos de Alice e misturava-se com as outras flores primaveris que completavam o Castelo de Osaka e os outros inúmeros perfumes dos jovens que transitavam pelo lugar. Uma canção que parecia uma cantiga de ninar era tocada perto da entrada e várias crianças corriam pelo gramado segurando serpentinas de carpa tentando ver quem conseguia fazer o peixe voar mais alto, por mais confusa que essa colocação seja. O parque estava mais cheio do que nunca e era de se esperar, a golden week faz com que todos - incluindo ela - queiram sair de casa mesmo que seja só para ver quantas pessoas tem na rua.

Não era de seu costume aproveitar o feriado desde que deixou de ser criança, por isso não sabia como deveria aproveitar bem o dia agora como adulta. Quando se é criança, dez dias de folga do colégio parecem suprir toda a chateação que é ter que fazer deveres de casa ou acordar cedo para uma aula da qual nem gostava. Não que dez dias de folga não fossem atrativos para adultos, mas no específico caso dela, nunca fazia ideia do que fazer nesse tempo. Aprender algo novo? Parecia pouco tempo para conseguir em apenas um feriado. Sair com sua família? Parecia muito para um dia só. Mas mesmo que estivesse num tumultuado de desconhecidos caminhando pelo parque mais popular de Osaka em seu dia de folga, ela até que conseguia se sentir calma e pensar em apenas aproveitar o momento.

No seu celular, ela recebia a mensagem de que sua companhia tinha acabado de chegar pelo mesmo portão que passou alguns minutos atrás. A imagem colorida cobria sua vista enquanto tentava buscar por um rosto familiar em distância e mesmo que não estivesse tão longe de onde o rapaz estava, com tantas pessoas vestidas para a ocasião, não era difícil encontrar George sendo um ponto de roupas escuras no meio de tanto rosa. Eles sorriam timidamente um para o outro e Alice sinalizava para que ele virasse e assim os dois poderiam se encontrar no meio do parque.

Ela sentia um pouco de frio na barriga em pensar que não tinha mais como voltar atrás. Alice estava ali mais uma vez saindo despretensiosamente com seu ex-namorado e as consequências disso nem mais rondavam sua cabeça. É claro que eles estavam voltando aos bons termos e poderia dizer que ele era seu amigo, mas para onde iriam depois disso? Em sua mente, suas intenções pareciam claras, mas as dele não. Independente disso, ela estava tomando a liberdade de não pensar nisso neste dia e só deixar as coisas fluírem. Mas ainda que tivesse esse pensamento libertador e despreocupado, o frio em sua barriga não deixava de crescer.

— Você trouxe uma coberta? — Alice questionou assim que parou na frente de George.

Eles não se cumprimentaram com abraços ou apertos de mão, só começaram a falar normalmente como se já tivessem se visto antes e não como se George tivesse passado todo mês fora.

— Não esperava que fôssemos nos sentar no chão, não é?

No início, quando aceitou o convite de George para o encontro, a garota tentou não manter isso em sua cabeça como algo certo de que iria acontecer. Não que pensasse que ele estava brincando ou só tentando parecer legal, mas imprevistos acontecem e não queria ficar no aguardo de um dia que possivelmente não iria chegar. Mas ela ficou.

Alice não sabia dizer em palavras o quanto ansiou pelo pequeno encontro que teriam no último dia do feriado e como estava animada para conversar sobre tudo que aconteceu nesse meio tempo. Todos os comentários de George sobre como queria voltar logo para Osaka e como ele tinha algo surpreendente para contar lotavam o chat de mensagens que eles trocavam a cada momento. Era como uma regra responder suas fotos das ruas do Brooklyn ou das comidas estranhas que ele levava para jantar no estúdio toda manhã quando acordava para o trabalho. O fuso horário não ajudava para que tivessem conversas longas e profundas, entretanto, os pequenos momentos trouxeram uma grande diferença para os seus dias monótonos. Seu trabalho lotava sua cabeça de ideias constantes, ela não dava um passo sem pensar no que precisava fazer em seguida, mas com toda a situação dos seus pais resolvida e o bom trabalho que estava fazendo, era como se tivesse sobrado um pequeno espaço na sua rotina onde ela podia sonhar acordada e, neste momento, a idealização de como o encontro de hoje seria e o que poderia acontecer era o que distraía sua mente.

COISAS EGOÍSTAS › jojiOnde histórias criam vida. Descubra agora