O clima não estava tão frio mas Alice agradeceu aos deuses ao atravessar a porta do restaurante e sentir o calor pelo qual foi recebida, colocando logo o seu casaco de lado e encontrando um lugar longe da entrada para se sentar. Essa era a primeira semana de primavera então os ventos frios e incessantes ainda atacavam a cidade enquanto os últimos rastros de neve derretiam para dar espaço as delicadas cerejeiras que iriam florescer.
Essa era definitivamente sua época do ano favorita. O calor e o frio estavam no modo mais agradável possível, ela não tinha que se preocupar em usar roupas extremamente quentes ou em como era possível suar até mesmo com vestidos abertos. As ruas ficavam lotadas de pessoas em roupas claras e floridas e era encantador passear pelo Parque do Castelo e observar a beleza do lugar. Bem, ele era lindo em qualquer estação, mas na primavera parecia ter um toque especial.
Na última semana, Alice e George tiveram uma breve conversa pelo telefone sobre possivelmente se encontrarem e ela agora esperava por ele no New Darumi, lugar onde costumavam frequentar constantemente quando ainda namoravam. George nunca foi um excelente cozinheiro, portanto recorria ao restaurante quando era a sua vez de cuidar dessa tarefa doméstica e nunca foi algo para se reclamar. Eles tinham uma variação pequena de pratos? Sim, curry e arroz, basicamente. Mas as memórias de todas as noites que passaram juntos ali ainda eram boas e aconchegantes, nada enjoativas. O lugar era visivelmente pequeno e pouco frequentado, mas nunca pareceu tão apertado e sufocante quanto nesse único momento.
As mãos de Alice suavam um pouco com a espera. George já havia informado que estava no fim da rua, a caminho do restaurante, e a qualquer segundo ele entraria pela porta para cumprimentá-la. O frio em sua barriga nem mais lhe incomodava, já que estava com ele desde a primeira vez que se viram semanas atrás. Sua maior preocupação agora era se manter calma e lembrar de todas as coisas que queria dizer e todas as que não queria citar. Não era necessário mencionar sua infeliz vida nos últimos anos em comparação as incríveis coisas pelas quais ele deve ter passado. Não que ela quisesse se fazer de coitada, muito pelo contrário, ela ficava feliz por ele ter alcançado todos os seus sonhos. Sua desfortuna era, na verdade, com sua própria situação. O que ela poderia dizer que soaria mais importante do que qualquer coisa que aconteceu a ele?
A porta foi aberta e mesmo sendo fechada quase no mesmo segundo, não impediu o ar frio de tomar o pequeno local. Alice já estava contorcendo o corpo em uma bola para tentar se manter aquecida do súbito vento enquanto George foi andando em sua direção com um grande sorriso em seu rosto. Ele parecia esperar por um abraço enquanto ela permanecia sentada sem entender de que forma interações humanas funcionavam, com seu braço estendido para apertar sua mão, como se fossem desconhecidos. Mais uma vez, eles estavam estranhos um com o outro. Menos do que da primeira vez, menos do que quando estavam pelo telefone, mas ainda sim, estranhos.
— Oi. — disse George, tomando a mão de Alice para apertar. — Eu não te fiz esperar muito tempo, fiz?
— Não, eu cheguei minutos antes de você. — ele tinha um sorriso animado no rosto e ainda segurava sua mão mesmo após se cumprimentarem. Ela encarou por um tempo significativo o aperto e fez com que ele percebesse seu desconforto para soltá-la. — Você quer pedir algo agora?
George sentia que já tinha começado com o pé errado mas mantinha seu sorriso no rosto, tentando transparecer que estava tudo bem e ele também conseguiria passar o resto do dia sem fazer alguma outra besteira.
Ele saiu muito mais cedo do que deveria de casa para esse "encontro" e definitivamente não foi para chegar antes do combinado. George fez várias pausas no caminho, pensando se deveria mesmo fazer isso e logo se arrependendo de sua ideia. "Não posso simplesmente largá-la lá sozinha e não dar nenhuma explicação", ele pensava. Mas algumas desculpas passavam por sua cabeça igualmente. Quando decidiu por absoluto que não podia ser um idiota, precisou fumar dois cigarros enquanto olhava para o fim da rua que já conhecia de memória. No momento em que a viu entrar no restaurante, sabia que era o que precisava mesmo fazer.
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COISAS EGOÍSTAS › joji
RomanceÉ muito egoísmo desejar que seu ex-namorado não seja mais o seu ex? ────────── 🌸 › george miller + personagem original › tw / menção de ambiente hospitalar › 1º lugar em #joji - #georgemiller - #88rising - #japan-based › história escrita por @bethe...