Escolhas

371 50 37
                                    

Passava pouco do meio dia quando Luciano chegou ao castelo. O caçador vestiu seu capuz e procurou a primeira sombra que poderia se esconder.

- Tititi – Luciano deu alguns tapinhas no ombro, mas sem desviar o olhar da estrutura de pedra.

Como esperado, Azriel se materializou no ombro dele.

- Azi, consegue entrar?

O roedor apenas fez que sim com a cabeça e desapareceu nas sombras. Luciano acompanhou atentamente com o olhar até que ele sumisse de vista.

Os minutos se passaram e Luciano começou a ficar apreensivo, não era pra isso demorar tanto, Azriel costumava ser rápido reconhecendo o ambiente, ele sabia que a ausência da cauda poderia influenciar na velocidade do amigo, mas ainda assim, não era pra demorar tanto tempo.

Quando quarenta minutos se passaram e a ratazana não voltou ele soube que algo tinha dado muito errado. O caçador iria invadir o castelo mesmo sem saber o que lhe esperava, ainda mais agora com a possibilidade de algo ter acontecido com o rato.

Depois de procurar por algum tempo, e ainda tentando ser o mais furtivo possível, Luciano encontrou uma saída de esgoto que vinha do castelo, mesmo que não tivesse o melhor cheiro do mundo, era por ali mesmo que ele iria. A entrada tinha barras de ferro fortes, impedindo que alguém que fosse maior que um rato passasse por aquele espaço. Então o moreno segurou as barras e se concentrou, ele respirou fundo, logo uma sensação de formigamento começou nas costas e se espalhou por todo o corpo. Por baixo da roupa algumas luzes douradas escapavam. Ele puxou o ar mais uma vez antes de puxar com tudo a as barras, de início parecia não ter força o suficiente, mas ainda assim ele continuou se concentrando, logo a barra estralou, e então, quebrou. Ele precisou fazer aquilo mais algumas vezes para que tivesse espaço o suficiente para entrar.

A passagem era fétida e escura, a única luz do ambiente era a que saia por baixo das vestes de Luciano, no escuro, aquela iluminação dourada familiar trouxe um calor para o coração do caçador, ele não percebeu, mas seus olhos naturalmente escuros tinham um alo cor de ouro envolta da íris. O caçador conseguiu andar pela escuridão sem muita dificuldade, ouvindo atentamente qualquer possível ameaça. Logo ele chegou até o local que deveria ser um armazém, não tinha ninguém do lado de dentro, ele atravessou a passagem estreita que o ligava a sala ao esgoto. Era possível ouvir uma respiração humana do lado de fora. O caçador se concentrou.

Um, apenas um guarda estava na frente do armazém, ele pegou uma das adagas de caça, sendo o mais silencioso possível. Mesmo que estivesse focado em chegar até a porta sem que sua presença fosse escutada, ele não pode deixar de reparar no que tinha dentro do armazém. Partes de maquinas, muitas partes, fios, espelhos, vidro e potes, muitos potes de vidro, o problema era o conteúdo desses inúmeros recipientes. Ele observou a variedade de partes humanas preservadas, principalmente sistema nervoso central e olhos. Uma sensação angustiante invadiu o peito de Luciano, o que quer que estivesse sendo feito naquele local era algo horrível, como ele pode, como ele pode aceitar ajudar uma pessoa como aquele rei. Quantas pessoas morreram pelas mãos dele? O que essas pessoas sofreram antes de morrer? De alguma forma o caçador sentia que aquilo era culpa dele, mesmo que, logicamente, ele soubesse que não. Mas ainda assim, seria ele quem colocaria um fim naquilo tudo. Nem que isso custasse sua vida.

O caçador logo chegou a porta de madeira simples, ele olhou com atenção o trinco e constatou que estava destrancada, fechando os olhos por um momento e focando na audição mais uma vez, ele notou que o guarda estava na frente da porta, sozinho, e respirava tranquilamente, era possível até ouvir os batimentos calmos. Perfeito, ele estava desavisado e indefeso.

O guarda não teve tempo de reação quando a porta atrás de si se abriu, uma mão cobriu sua boca e uma lâmina atravessou seu pescoço. Luciano segurou o homem até que ele finalmente morresse e mais nenhum som de alerta pudesse ser emitido. O caçador verificou se existia alguma chave ou qualquer coisa útil, no corpo caído no chão, mas não encontrou nada.

BénédictionOnde histórias criam vida. Descubra agora