Um sonho diferente.

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Capítulo 09

Eu acordo num sobressalto, confusa.
Pensando em ter ouvido vozes gritando o meu nome e me dizendo algo que eu não conseguia compreender.
Me sento sobre o colchão fofo e cumprido ao meu tamanho.
A atmosfera estava diferente... Parecia que algo estranho estava acontecendo.
Tiro a coberta de cima de meu corpo, sentindo um calor se instalar no quarto. Coçando os olhos, olho aos arredores do quarto, que era claro. Em suas paredes haviam prateleiras de ursos e bonequinhos. Na cômoda que havia ao lado da cama recostada na parede, tinha um pequeno espelhinho que me mostrava o reflexo da entrada do quarto. Eu observo a porta fechada, parecendo tremer levemente.
Achei que era coisa da minha cabeça, então decido me levantar para olhar de perto.
Não havia nada, então pensei estar enganada. E sem pensar muito naquilo abro a porta escura com a maçaneta gradativamente quente.

Meus olhos imediatamente foram cobertos por uma névoa inacabável, uma fumaça escura rondava e cobria todo o corredor até uma escadaria. As paredes logo ao final do corredor estavam... carbonizadas. Totalmente e completamente destruídas.
Os quadros pegavam fogo ao chão, o sofá havia sumido tão repentinamente. Eu voltei o meu olhar ao outro lado do corredor onde eu estava.

Logo no teto chamas se alastravam em direção a todos os cômodos que havia naquele andar.
Foi então que me dei conta do que estava acontecendo. E que eu estava correndo um grande perigo.
De repente uma formigação preenche meu corpo, subindo de meus pés até a ponta dos dedos das mãos, me deixando nervosa. Quando sinto meu corpo se esforçar, numa tentativa falha de sair daquele lugar, de deixar aquela casa e fugir do fogo consumidor que engolia cada canto e cada pedaço.
Me lembrei rapidamente dos meus pais. Eu não podia os deixar aqui de modo algum. Então, finalmente corro. Vou até a primeira porta que havia alí, e adentro o enorme quarto com um piano velho se decompondo aos poucos.
Eles não estavam alí. Com a garganta seca e olhos se enchendo d'água, retrocedo desesperada, e com muita coragem vou até o final do corredor, onde se tinha um último cômodo. Puxo a maçaneta árdua com todas as minhas forças, mas antes mesmo que eu pudesse abrir-la, sinto algo me tocar. E envolver seus braços compridos envolta de meu corpo pequeno e frágil.
Ele me puxou, até que eu não estivesse mais ao alcance daquele quarto, e me arrastou pelo corredor.
Uma dor tão intensa invadiu meu coração naquele momento, e em meu estômago residia pura aflição, e medo.
E quando pensei que o fogo iria nos afetar, não estávamos mais dentro da casa. Agora eu podia ver a imensidão de chamas vivas e violentas se alimentarem com avidez do pequeno monte de tralhas que havia se restado do lugar.
Logo uma lágrima rasa escorreu de meu olho, ponderando sobre meus lábios.
Vigas despencavam no chão espalhando faíscas para todo lado... E lá estava ele. O de cabelos ruivos, observando tudo aquilo. E mesmo um pouco distante, eu pude enxergar algo. Bochechas altas e firmes se erguerem naquele rosto, sendo iluminadas pela luz do fogo.

Eu estava vidrada naquela feição, me perguntando quem era ele, e por que estava sorrindo diante do meu sofrimento. Quando, uma voz me chamou. Uma voz suave que portava algum tipo de comoção... Uma voz que me confortou, e depois daquilo....

[ ... ]

Abro meus olhos, respirando devagar. Sinto lágrimas mornas rolarem pelo meu rosto inesperadamente. Toco-as percebendo que minha pele estava quente.
Olho ao a redor do meu quarto. Que agora não podia ter meus montes de livros, plantas e até algumas coisas que eu julgava serem necessárias. Como as velas perfumadas, ou inúmeros posts sobre séries e bandas colados por toda parte.

Eu sento na cama, limpando as lágrimas e suspirando.
É a segunda vez nessa semana que sonho com essas cenas, em que eu podia ver todo o cenário antes de estar fora da casa.
Na primeira noite, quando acordei subitamente nervosa e suando frio, eu corri para escrever aquilo no meu caderno.
Descrevi os corredores carbonizados, as maçanetas quentes e por fim a voz que ouvi. Eu ainda estava confusa, mas isso permitiu eu criar mais diversas teorias em minha cabeça.

SANGUE REAL ㅡ  Livro 01Onde histórias criam vida. Descubra agora