capítulo 2

62 12 0
                                    

O bar em que a pequena festa de boas-vindas aconteceu era pequeno e tranquilo comparado aos demais bares da região boêmia da cidade. Um local recluso e de iluminação amarelada, excelente para um clima intimista e aconchegante. A música não era muito alta e o cardápio oferecia diversos drinks exóticos. Lugar ideal para gastar tudo o que tinha e muito mais.

Como em tudo em sua vida, Péon se viu como o único ômega do ambiente, mas estranhamente se sentia confortável ali, afinal, os dois amigos recentes deixavam o clima agradável e quase o fazia esquecer que era um ômega entre dois alfas que exalavam uma aura de dominação. 

Era de certa forma divertido observá-los esteticamente. Narciso tinha um rosto másculo, queixo quadrado, olhos de um castanho que contra a luz ganham um tom avermelhado, os fios de cabelo eram curtos e penteados para trás em um belo topete, o corpo era largo e firme como uma rocha, contrastando incrivelmente bem com sua personalidade amigável e seu jeito cômico de levar a vida. 

Já Ícaro tinha traços mais delicados e suaves, entretanto, o olhar afiado era como uma navalha pronta para fincar no peito do primeiro que o incomodasse, o cabelo era igualmente negro como os seus olhos e seus fios eram mais ondulados. 

Aos poucos, Péon percebeu as semelhanças entre eles, ambos tinham tatuagens, entretanto, as de Ícaro se concentravam em seus braços e eram com traços finos e pouco chamativos, enquanto as de Narciso se espalhavam esporádicas por seu corpo, com linhas grossas e uma presença profunda de preto. 

Os dois alfas pareciam intimidantes a primeira vista, apesar de Narciso perder completamente o ar intimidador ao abrir a boca, já Ícaro só o aumentava ao dizer algo. 

Péon beliscou alguns petiscos enquanto pensava sobre os dois novos amigos que fizera. Seus ouvidos tentavam captar o que estava acontecendo ao seu redor, contudo, eram tantas conversas que não conseguia se focar em nenhuma delas, afinal, nenhum assunto parecia mais interessante do que ficar analisando os traços de personalidade e aparência dos amigos. Exceto quando uma fofoca sobre certo ômega se iniciou bem ao seu lado. 

— Em todos os lugares que trabalhei, e olha que foram muitos, meu patrão sempre foi um alfa ou um beta. Ainda não me acostumei a servir um ômega — comentou um dos betas da empresa enquanto bebericava de seu drink, sua voz já dava pintas de embriaguez. 

— Gladiolus deve ser a única empresa da cidade liderada por um ômega. Até que é legal pensar assim… Estar em destaque no mundo corporativo por um detalhe. 

— Mas já ouviram os boatos por aí? Sobre Aphelios? 

Péon se inclinou levemente para o lado para escutar melhor, mal podia se conter quando o assunto era fofoca de escritório. Um dia sua curiosidade o colocaria em encrenca, contudo, só pensaria nisso depois de ter a história completa em sua mão. 

— Dizem que ele só chegou onde chegou depois de transar com maiorais do ramo… Não acho que ele está errado se for verdade… Convenhamos que ele não é um ômega de se jogar fora — continuou o homem que se inclinou para trás e olhou para o teto com ares sonhador. — Eu juro, se eu tivesse um cara daqueles na minha cama, eu daria o mundo se ele pedisse. 

— O último romântico da terra. Se toca, nem em um milhão de anos o chefe deitaria com um pé rapado como você que nem tem onde cair morto — debochou o beta dando um leve empurrão no outro enquanto caia na gargalhada. — Se alguém quiser dormir com você é lucro. 

— Não custa nada sonhar… Queria poder te responder algo, mas a situação está tão ruim que chega a ser verdade… Será que eu sou tão ruim assim? — questionou e seu olhar perdido vagueou pelo local até encontrar Péon atento a conversa. — Ei, novato, você iria pra cama comigo se eu tivesse grana? 

Peônia azulOnde histórias criam vida. Descubra agora