capítulo 12

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A ligação recebida por Narciso foi rápida e o semblante sempre tão alegre e extrovertido dele vacilou intensamente. Seus olhos pareciam um pouco mais opacos que o habitual e Ícaro se aproximou, tocando-lhe a face com extrema ternura a qual Péon e Aphelios não estavam acostumados a presenciar. 

O alfa normalmente mais sério encostou sua testa contra a de Narciso e deixou que suas respirações lentamente se sincronizassem por mimetismo. Ele sabia que Narciso o imitaria de maneira inconsciente e usaria disso para ajudá-lo, ao menos um pouco.

— Era uma ligação do hospital? — perguntou Ícaro em um tom baixo e linear, sem demonstrar qualquer alteração ou emoção por sua voz, apenas uma branda calmaria envolvente. Não queria piorar a situação e sabia o quanto seu próprio tom o afetava, o quanto suas reações e sentimentos o influenciavam.

— Era… Ele teve uma queda de pressão súbita e desmaiou por alguns minutos… Eu só… — Narciso ergueu levemente o rosto até que estivesse alinhado ao de Ícaro, seus narizes se roçaram levemente com o movimento, mas nenhum deles fez menção de que passaria disso, apenas se mantiveram perto com pequenos toques suaves e de grande impacto em seus corpos. 

— Você quer visitá-lo, não é? Eu vou com você… Nós precisamos ir agora. Desculpem-nos por não podermos ficar mais… — explicou Ícaro se aprontando para partir o mais rápido possível. 

— Nós vamos com vocês — afirmou Péon decidido a não deixar os colegas de trabalho irem sozinhos tão visivelmente abalados. 

Não tinha qualquer ideia do que aconteceu, mas sabia que alguém importante para Narciso estava no hospital e que ele precisava ir para lá o mais rápido que pudesse. 

— Obrigado pela oferta, mas estou bem… De verdade, não precisam alterar o trajeto por mim — afirmou Narciso, mas sua voz sempre alegre estava vacilante. 

— Nós insistimos — reiterou Aphelios, o que acabou por surpreender Péon que não esperava que seu chefe fosse concordar em acompanhá-los. — E mesmo que discorde, estou de carro e não vejo problema algum com perseguições ao volante. 

— Céus, você está há um passo da psicopatia… 

Narciso não mais negou a ida dos outros dois e logo seguiam para o hospital. Os quatro adentraram para a ala dos quartos depois de muita insistência em permitirem que todos subissem juntos com a solução de que apenas dois entrassem no quarto do hospitalizado por vez. 

Narciso e Ícaro entraram e Péon e Aphelios ficaram no batente da porta esperando. 

Havia um senhor de idade sobre a cama, os braços magros ligados aos medicamentos e as máquinas que mediam constantemente sua pressão e batimentos.

— Vô… Que bom que está vivo… Quando me ligaram mais cedo, eu… Pensei tanta coisa… Eu não quero te perder — falou Narciso e se aproximou da maca, apoiando o corpo com cuidado para abraçá-lo. — Sempre que eu vejo o número do hospital brilhando na tela do meu celular, sinto que meu coração pode parar… 

— Neto bobo… Não se preocupe com isso… Como eu poderia morrer sem realizar meu sonho de ver meu mais querido e precioso neto se casar com sua pessoa amada e ser feliz pelo resto de sua vida? Ainda pretendo viver enquanto tiver esse corpo moribundo e meu desejo de te ver construir uma família linda e abençoada — comentou o velho erguendo o braço para dar fracos tapinhas nas costas. — Um homem que mantém seu sonho vivo também permanece vivo… Vejo que trouxe alguns amigos… 

— Sim, eles são colegas do trabalho e o Ícaro, você o conheceu quando éramos mais novos. 

— Colegas de trabalho? Você é tão jovem e já está trabalhando. Seu pai é realmente um cara exigente — brincou o homem mais velho dando uma risada fraca. — O garoto que mora na casa ao lado? Lembro que viviam brigando como cão e gato… Resolveram suas desavenças? Venha cá, garoto, deixe-me vê-lo de mais perto. 

Peônia azulOnde histórias criam vida. Descubra agora