capítulo 7

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As coisas no escritório estavam estranhamente estranhas, se é que existia outra palavra para definir aquele sentimento dúbio e vacilante que se instalava sorrateiro pelas frestas das portas. 

Aphelios pensava em como deixou as coisas com Péon chegarem naquele ponto. O ômega mais novo fazia todos os seus caprichos com muito empenho, mesmo que nem ao menos tivesse pedido. Nem ao menos sentava em seu escritório e o ômega lhe servia com uma xícara de café e biscoitos e, com certa frequência, se ajoelhava aos seus pés para lhe chupar. 

O chefe não conseguia recusá-lo e sentia-se mimado em aceitar aquelas regalias que seu subordinado lhe oferecia por livre e espontânea vontade. Talvez se negasse, pedisse para que parasse, aquela relação cessasse, entretanto, as palavras ficavam presas em sua garganta junto aos gemidos que não podia expor em um ambiente profissional. 

Estava enlouquecendo e ficava cada vez mais evidente para si. Porra, Péon o tratava na palma da mão e na ponta da língua quente e habilidosa, como poderia desvincular-se daqueles lábios famintos? 

Nenhum alfa ou beta tivera tanta dedicação consigo do que Péon. O ômega estava sempre disposto a entregar o seu máximo em todas as vezes e o olhar com ares de ansiedade, o complexo de quem só quer agradar a todo instante. 

Ele era tão fofo que realmente parecia um crime lhe negar qualquer coisa e Aphelios sabia que tinha que colocar um limite naquilo, deveria findar o que quer que estivessem construindo.

Péon era seu subordinado e não deveria manter aqueles encontros casuais, se pudesse chamar assim, que por vezes aconteciam em sua sala e outras em seu carro. 

Era errado, definitivamente, entretanto, não conseguia recuar quando estavam frente a frente. 

Aphelios não era um ômega de ceder a ninguém, os outros que cediam a ele, contudo, aquele homem estava bagunçando sua cabeça com aquelas atitudes tão inusuais. 

Não conseguia tirá-lo de sua mente e passava parte de seu dia dividido em tentar compreendê-lo e parte tentando se focar em seu trabalho. 

— Ei, chefinho, sei que vai negar, mas como não custa nada perguntar, quer ir para o happy hour com a gente? — questionou Narciso quando Aphelios passou um tanto avoado pelo escritório. 

— Vamos sair hoje? Por que não avisaram antes? — perguntou Péon com um leve bico em seus lábios. — Eu deixei meu cartão com a minha mãe para fazer compras. 

— Relaxa, Péon, seus pais vão te bancar hoje — pontuou Narciso e indicou a si próprio e a Ícaro. 

— Não vou bancar ninguém. 

— Não precisa, eu pago para vocês depois, eu prometo — decretou Péon e um olhar iluminado se prostou em sua face como forma de convencimento. — E eu nem bebo tanto, então, juro que não gastarei muito. 

— Nosso filho é muito bonzinho, Ícaro, como pode dizer não para ele, hm? Vem, o papai banca.

— Desde quando se tornaram tão próximos do Péon assim? — questionou Aphelios cruzando os braços em frente ao peito. 

— Oh, alguém está se mordendo de ciúmes, é? Ou é inveja por ele ficar mais com a gente do que com você? — provocou Narciso abraçando o ômega mais jovem com um sorriso provocativo direcionado para Aphelios. — Diferente de você, o Péon é um ômega legal que sabe se divertir e aceita vir com a gente para o happy hour. 

— Ciúmes e inveja de você? O máximo que eu poderia sentir é dó — respondeu Aphelios erguendo levemente o queixo com sua resposta atravessada e seu olhar tomou uma aura competitiva e provocativa. — Não sou mais um jovem sem rumo na vida para ficar indo para bares beber a noite toda sem preocupações. 

Peônia azulOnde histórias criam vida. Descubra agora