Capítulo um

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Aziraphele estava pensativo, nostálgico e melancólico. Muriel o observava em silêncio enquanto ele analisava cada parte daquele ambiente. As estantes e seus livros, os móveis, tudo em seu devido lugar, sem sequer uma única mudança meticulosa.

Aziraphele soltou um suspiro triste cheio de pesar, parecendo perdido em seus próprios pensamentos, em sua própria culpa.

- Obrigado. - Foi o que conseguiu dizer após sair de seus devaneios.

- Pelo o que? - Muriel relaxa ao ver que Aziraphele finalmente resolveu falar alguma coisa.

- Por cuidar da minha livraria. - Ele se vira para Muriel e sorri fraco. - Que bom que nenhum livro foi vendido.

- Ah, não foi nada. - Muriel sorri envergonhado e orgulhosa de si. - Crowley me disse que eu não podia vender os livros. - Menciona inocentemente.

O semblante de Aziraphele voltou a aquele olhar perdido e triste.

- Ele... Você ainda vê ele? - Questiona limpado a garganta, tentando não transparecer sua angústia

- Ele as vezes vem aqui. Ele disse que queria saber se estou lidando bem com a terra. - sorri. - Vocês não são mais amigos? Ele sempre tenta evitar esse assunto. - Questiona preocupado em uma expressão triste.

- É complicado, talvez esteja certo de que... Não somos mais amigos... - Aziraphele desvia o olhar de Muriel respirando fundo.

- Oh, não. - Muriel aproxima. - Mas por que? Você não quer mais ser amigo dele?

- É claro que sim. - Aziraphele responde indignado pela pergunta. - Mas acho que ele sequer quer me ver de novo... - Diz em um tom triste e amargo.

- Por que ele não iria querer? Você sempre deixa ele menos raivoso. - Diz achando graça.

- É. - Sorri solidário.

Aziraphele aprecia sua inocência, sem a completa noção do quanto aquela briga que tiveram pesou na relação dos dois, no que sentiam e no que poderiam ser.

- Eu acho melhor eu ir. - Aziraphele conclui. - Eu só... Eu precisava estar aqui de novo. Eu tenho uma coisa que... Talvez não seja como eu pensava, eu só queria garantir que está tudo bem por aqui. - Ele sorri para não preocupar Muriel.

- Mas você não vai ver o Crowley? Talvez ele apareça hoje, ele sempre vem depois de alguns meses.

- Melhor não. Se ele está bem, está tudo bem. - Aziraphele se aproxima de Muriel. - Pode cuidar dele por mim? Eu não tive a oportunidade de te pedir isso antes.

- Eu posso fazer isso. - Tenta o confortar. - Ah, mas ele vai ficar triste em saber que você estava aqui e nem conseguiram se ver. - Fala decepcionada.

- Não precisa contar isso a ele. Muriel. Por favor. - Súplica.

- Tudo bem... Você vai voltar outro dia?

- Eu não sei. Eu espero que sim, mas não sei se eu posso.

- É claro que pode! A livraria ainda é sua, só estou aqui porque Metatron me pediu. - Diz animado, esperançoso.

- Eu- - O som da porta da frente soa, interrompendo a iniciação da frase.

Apesar de nada ter mudado em sua livraria, Muriel sentiu a liberdade de colocar um sininho de aviso na porta, achava aquele som adorável, assim como todos os sons que já ouviu da terra.

Mas esse som não foi agradável para Aziraphele, não ao ver quem era o causador dele, quem havia aberto aquela porta.

Crowley, o ser que de todos os outros era o que mais queria ver, mas não podia ser notado.

Os olhos de Aziraphele vão de encontro aos de Crowley, que estão cobertos pelos seus óculos escuros, do qual ele não teve nem tempo de retirar ao paralisar tão rapidamente quanto entrou.

Ele estava diferente, seu cabelo comprido até as costas, bagunçado como se não se importasse em arrumar, com uma barba começando a se manifestar. Ele parecia cansado, tão perdido quanto Aziraphele estava.

- Crowley... - Aziraphele foi o primeiro entre os três a falar alguma coisa.

- Aziraphele. - Disse tentando soar indiferente. - O que faz aqui?

- Eu... Eu só estava de passagem. Eu já estou indo. - Diz engasgando suas palavras.

- Certo... - Responde quase sussurrando. Ainda não acreditava que estava o vendo novamente.

- Isso é bom! Agora que os dois estão aqui, Aziraphele pode ficar mais um pouco. - Muriel chama a atenção de ambos, tentando o convencer a ficar mais uma vez.

- Não. - Crowley respondeu depressa como um reflexo. - Eu também já estou de saída. - É só o que diz ao levantar o olhar de volta para Aziraphele.

Não era possível ver seus olhos, mas sabia que ele estava magoado, devastado, mesmo depois de ter se passado um tempo desde da última vez que se viram.

Quando Crowley se virou para ir embora, Aziraphele queria ter o segurado, falado o que está entalado em sua garganta a tanto tempo desde o dia em que foi embora.

Não se sabe exatamente as palavras, não aprendeu nada sobre estes sentimentos turvos e como expressa-los, mas sabe que tudo o que quer, é sentir a presença de Crowley mais uma vez.

Mas não sentia que tinha esse direito, não podia dizer nada, tudo o que queria ele sequer podia oferecer, era melhor desse jeito.

Então deixou que lhe fizesse a mesma coisa que o fez, ir embora.

- Adeus, Muriel. - Ele respira fundo segurando as lágrimas e se forçando a sorri. - Foi bom ver você. - E então desaparece da mesma forma que havia aparecido, deixando tudo pra trás novamente.
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Vou continuar em outro capítulo 🙏

Reencontros não são felizesOnde histórias criam vida. Descubra agora