Não Incluir Ninguém na Minha Bagunça

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-Ei, irmã, o que foi? - perguntou Maiara abraçando forte sua gêmea e tentando acalmá-la.

Maraisa não conseguia responder, as lágrimas rolavam cada vez com mais intensidade e ela soluçava muito.

Fazia algum tempo que Maiara não via sua gêmea tão mal. A última vez que Maraisa ficara assim tinha sido no dia da morte de Marília. É verdade que, de vez em quando, Maraisa chorava por causa da amiga, mas naquele momento ali ela estava muito abalada e a ruiva ficou muito  preocupada.

Maiara pegou nas mãos da sua irmã e foi levando-a até a sala e sentou com ela no sofá.

-Senta aqui do meu lado e vamos conversar. Você e o Fabrício brigaram, é isso? Ou aconteceu alguma outra coisa?

Maraisa continuava chorando sem parar.

-Se for algo com o Fabrício, você sabe que é só uma briga, irmã. Logo vocês estão bem. Não fica assim- dizia a ruiva passando a mão nos cabelos da irmã.

Maraisa tentou acalmar-se. Ela queria muito contar o que estava sentindo, mas, ao mesmo tempo, sentia vontade de fechar-se e resolver aquela bagunça emocional sozinha. Ela não era boa com essas coisas de expor seus sentimentos.

-A gente terminou- disparou a morena, depois de alguns minutos.

Maiara ficou sem reação por uns instantes. Depois, abraçou a irmã e limpou algumas lágrimas que caíam.

-Vocês acabam voltando, irmã.

Maraisa, então, contou toda a história para a irmã: do pedido de casamento, da cobranças e acusações do Fabrício, da sensação de fracasso e da decisão de ser sozinha.

Maiara ouviu tudo com muita atenção. Assim que sua gêmea terminou, ela falou decidida:
-Irmã, você merece coisa muito melhor do que o Fabrício. E vou te falar mais: antes do que você imagina você vai encontrar o seu felizes para sempre. Pode confiar.

-Maiara, eu já nem acredito mais nisso. Não dou certo com ninguém. Meu negócio é ser sozinha mesmo. Acho que já me conformei.

-Maraisa!

-Só falei a verdade- disse a morena dando de ombros e limpando as últimas lágrimas.

Maraisa também tinha um mecanismo de auto defesa muito eficaz. Ela não se permitia ficar abalada por muito tempo. Pelo menos, não na frente dos outros.

-Irmã, temos a campanha do Boticário amanhã. Tá lembrada?

-Eu sei, Maiara, vou pedir pro Bruno caprichar na maquiagem para esconder essas olheiras. Sei que estou horrível.

-Você já vai para seu quarto? -perguntou a ruiva.

-Vou, acho que vou ver alguma série.

-Eu poderia ir com você, mas o Matheus está lá no meu quarto.

-Êh, Maiara véia! Aproveita! -disse a morena rindo.

Maiara ficou vermelha de vergonha.
-Para, Maraisa!

-Você está sendo menina veneno ou Cristo Redentor?

-MARAISA!

-Tô brincando! Vai lá que seu namorado está te esperando.

-Mas você vai ficar bem?

-Vou, irmã. Fica tranquila! - disse a morena dando um beijo na bochecha da ruiva.

Maiara subiu as escadas correndo, enquanto Maraisa foi até a cozinha tomar um copo de leite.
Olhou no celular e já eram mais de dez da noite, e ela subiu para o quarto. Ligou a TV e procurou uma série, mas nada a agradou. Tentou ler, mas seus pensamentos estavam longe.

De repente, seu celular começou a tocar. Ela teve um arrepio só de pensar em quem poderia ser do outro lado. Pegou o celular e não deu outra: era o Fabrício. Hesitou uns instantes decidindo se o atenderia ou não. Não atendeu, mas ela sabia que ele ficaria insistindo até que ela atendesse.

Colocou o celular na mesinha de cabeceira e pegou o livro de novo.

O celular tocou mais duas, três vezes e na quarta, ela pegou o celular furiosa, sem nem olhar quem era.
-O QUE VOCÊ QUER?

-Oi, nossa, Maraisa, me desculpa. Você deve estar ocupada, né?

Maraisa ficou desconsertada, não era o Fabrício e ela havia sido extremamente grosseira. Era uma pessoa que ela conhecia muito bem.

-Oi, Fernando. Pensei que fosse outra pessoa. Eu não olhei para tela para conferir quem estava ligando. Me perdoa.- disse ela totalmente envergonhada.

-Me desculpe estar te ligando. Eu só queria jogar conversa fora. Podemos conversar?

-Fernando, olha, sabe o que é? Eu tenho que dormir cedo porque amanhã tenho que gravar para o Boticário.

-Você está fugindo de mim...Você nunca dormiu cedo que eu sei.

-Não é isso. É que hoje não sou uma boa companhia nem para conversar. Me perdoa...

-Aconteceu alguma coisa?

-Não, nada importante.

-Se precisar conversar, estou aqui-insistiu ele.

-Prometo que amanhã estarei melhor e a gente conversa.

-Vou ficar esperando, então.

-Tá bom, Fernando.

-Maraisa, você tá lembrada que, semana que vem, vou até aí, né?

-Estou, sim.

-Certo. Estou ansioso para te ver. Um beijo.

-Até amanhã- respondeu ela secamente.

Maraisa desligou o celular sentindo algo estranho. Era um misto de medo, confusão, angústia e solidão. Chegou a se arrepender de não ter desabafado com o amigo, mas para ela não era fácil se abrir. Ficou uns momentos pensativa imaginando o motivo do Fernando ter aparecido justo agora na  vida dela, justo em um momento em que ela estava toda arrebentada e ficou imaginado se aquelas mensagens e aquela ligação seriam só por amizade.

-Ele é seu amigo. Normal te ligar, às vezes-disse ela em voz alta.

Acontece que fazia quase um ano que eles não se falavam. Ela continuou a achar tudo muito estranho, mas não queria ter mais uma preocupação e resolveu deixar pra lá.

Olhou o celular c notou que Fernando havia mandado uma mensagem de voz no WhatsApp, uns instantes atrás. Resolveu checar o que era, pois poderia ser algo importante.

O que ouviu foi ele cantando o seguinte trecho de uma música conhecida:
"Você está aí sozinha, eu também estou sozinho então vamos juntar".

Maraisa ouviu a mensagem umas  três vezes. Ele cantava bem e ela sempre admirou isso nele. Mas, de repente, caiu em si: aquilo era uma cantada e Fernando, pelo jeito, não estava de brincadeira. Começou a rejeitar qualquer possibilidade de dar uma chance para ele. Ela não queria mais ninguém em sua vida.

-Você está fechada para balanço, Maraisa! - disse em voz alta para se convencer disso.
Mas, no fundo, ela sabia que aquilo já estava mexendo com ela.

O celular tocou mais uma vez, e era Fabrício. Ela não atendeu. Desligou o aparelho, ligou a TV e, depois de algumas horas, pegou no sono.

Foi acordada, no dia seguinte, com algumas batidas na sua porta.
-Acorda, cantora! Cheguei para arrumar seu cabelo e fazer sua maquiagem para a campanha. Esqueceu?

Maraisa deu um pulo da cama. Já eram duas da tarde e ela estava atrasada. Não havia tomado banho, nem comido nada e a campanha estava marcada para às cinco.

Abriu a porta para o amigo que entrou esbaforido.
-Credo! Que cara é essa, Maraisa?

-Ai, amigo, nem te conto...

-Ah, mas vai me contar tudinho.

-Minha vida está uma bagunça, Bruno.

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