CAPÍTULO 1

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                  LAURA GOMES

                 UM ANO DEPOIS

Ainda consigo sentir o formigar dos lábios de Ramon nos meus. Sei que ele não me beijou e que, com certeza, um beijo é muito melhor e mais interessante do que o selinho que dei nele, mas isso não diminui a emoção que senti: seu cheiro masculino, seus braços fortes e musculosos, suas mãos calejadas. Como eu desejei ter mais de Ramon. No entanto, depois daquele dia, ele se afastou de mim. Isso me entristeceu; demorei a chamar sua atenção novamente.

Agora estou sentada em um banco debaixo de uma árvore, há horas, observando o redondel onde Ramon está domando Star, uma potra que chegou aqui há alguns meses. Ela está prestes a ser treinada na pista em algumas semanas. Sua mãe é uma mangalarga que já disputou vários campeonatos, torneios e até mesmo participou de uma Olimpíada internacional. Eles acreditam que ela será uma campeã como a mãe.

— O que está passando nessa sua cabecinha oca, Laura? — Rose e sua implicância.

— Estou olhando Ramon treinar Star. — falo, desviando meu olhar do redondel.

— Sei, vou fingir que acredito que você está olhando para a égua e não para quem está adestrando ela. — ela bate seu ombro no meu.

— Não comece, Rose. — ela dá de ombros e morde os lábios.

— Não está mais aqui quem falou. — continuo olhando fixamente para onde Ramon está correndo livremente com Star. É lindo vê-lo montar, domar e adestrar. O engraçado é que eu nem gosto de montar cavalos; isso sempre foi com Eloá. Ela sim tem o dom de lidar com cavalos, e sua paixão por adestramento é linda de se ver. Minha irmã agora está bem e feliz em BH, e eu não poderia estar mais contente por ela. Só queria que eu também tivesse sorte no amor.

Há algum tempo, sou apaixonada por Ramon. No meio de nós, trocamos farpas e discutimos; até o forcei a me beijar, o que foi um tremendo erro. Acho que isso só atrapalhou, fazendo com que ele se afastasse ainda mais, me chamando de criança, ou dizendo que tenho idade para ser sua filha. Isso me deixa furiosa.

Eu sei que ele me deseja; ele me olha de um jeito estranho e morre de ciúmes do Caio. Assim como teve ciúmes de Walter quando o mesmo chegou com João Pedro. Ele só não quer admitir, o que me deixa frustrada.

— Tem uma baba escorrendo do lado esquerdo, Laura; você deveria limpá-la. — olho para ela, querendo bater nela.

— Rose! — ela começa a rir.

— Já disse como você pode fisgar esse homem, mas você não me ouve. Só fica aí com essa cara de tacho. Reaja, amiga; mostre que é uma mulher decidida. — ela fala, me fazendo querer tomar coragem e arriscar.

— Se isso não der certo, vou ficar arruinada, Rose. — passo a mão por meu rosto.

— Mas se você não se arriscar, pode se arrepender depois. — mordo minha unha, pensando na ideia dela. É muito arriscado. Poderia dar errado de tantas maneiras. Assisto ele levantar a camisa e limpar o suor do rosto, e seu abdômen maravilhoso fica exposto. Acompanho o movimento e desejo poder tocar sua pele, sentir como seria ser beijada e tê-lo tocando em mim.

— Me conte aí como é o seu plano. — sei que posso me arrepender amargamente, mas estou disposta a tentar tudo para tê-lo.

        ALGUNS DIAS DEPOIS

A noite está fria hoje. Às vezes, gosto de sair de casa por um tempo, respirar o ar frio lá fora. O vento nos meus cabelos me faz bem. Às vezes, fico pensando na proposta do meu pai de ir estudar em BH. Eu me apaixonei por Ramon quando tinha aproximadamente 17 anos. Eu via a interação dele com a minha irmã e até ansiava por aprender a montar apenas para tê-lo por perto, para ter a amizade e cumplicidade que ele tinha com Eloá. Era tão lindo de se ver que, às vezes, me deixava enciumada. Os anos foram passando e a paixão, que era para diminuir, aumentou ainda mais. Nos pequenos gestos, nas trocas de olhares, nos sorrisos ou palavras trocadas. Às vezes, penso em desistir dessa ideia maluca de chamar atenção dele. Caio, depois daquela noite no bar, nunca mais tocou no assunto de me beijar e está namorando há algum tempo. Fico feliz por ele; a garota é muito gente boa. Não podemos fazer nada quando o coração insiste em bater por quem não deveria. Estou perto do redondel, próximo à cerca que dá para fora da fazenda, e sigo em direção à estrada. Já passa das nove da noite; meus pais já foram para o quarto, mas eu me sinto tão sozinha. Às vezes, sinto falta da Eloá, das nossas conversas e risadas, da Natália sempre aqui. A vida parecia mais fácil. Olho para o céu, e está todo estrelado. Me distraio olhando para cima e, quando dou por mim, uma caminhonete para do meu lado. O vidro fumê não deixa ver quem está atrás do volante, mas conheço bem a caminhonete de Ramon, um monstro de carro, tão selvagem quanto ele. Ele baixa o vidro e olha para mim com o olhar mais intenso que já vi. Não digo nada, hipnotizada por seu olhar. Ele aperta o volante e parece querer arrancar com o carro. Cansada de ser boba e de sempre esperar migalhas dele, continuo andando. Ele demora um tempo até dar a partida e sumir na estrada. Continuo minha caminhada, tentando não me importar por vê-lo sair; com certeza, irá encontrar alguma mulher. O que me surpreende é que ele para logo à frente e desce do carro. Paro de andar e o assisto caminhando ao meu encontro. Seu costumeiro chapéu, botas e jeans apertado com uma jaqueta jeans: o conjunto completo fazendo ele ser irresistível para qualquer mulher. Ele para a poucos metros, e seu perfume invade meu nariz, me fazendo querer suspirar.

Irresistível Cowboy (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora