Capítulo 8

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             RAMON FABBRI

         VÁRIOS MESES DEPOIS

Estou há horas sentado em meu escritório, contemplando a extensão de terras do Haras Smith Equestrian Center. São quilômetros de arenas para cavalos, desde grama até areia e áreas cobertas. Este lugar é um verdadeiro paraíso para os amantes do mundo equestre, e tudo o que aprendi nesses meus mais de 12 meses aqui é indescritível. Desde a criação até a doma, tudo é completamente diferente do que estava acostumado no Brasil. Foi uma grata surpresa e, de certa forma, recompensador. Andrew foi quem me ajudou a me encontrar, cheguei aqui tão perdido, devastado pela dor que causei a Laura, e sei que jamais serei perdoado. Tudo o que pude fazer para aplacar um pouco a dor em meu peito foi me dedicar intensamente ao trabalho.

Quem diria que um peão caipira como eu estaria neste lugar? Conseguindo reconhecimento como um dos melhores profissionais do hipismo, sendo prestigiado no Festival Winter Equestrian por ter treinado o conjunto vencedor. Isso me enche de orgulho, sem falar no prêmio em dinheiro. Tudo parece caminhar para eu permanecer aqui para sempre, ser bem-sucedido como sempre sonhei, ganhar prestígio, prêmios, reconhecimento e, é claro, dinheiro, muito dinheiro. Sou bem remunerado pelos trabalhos extras que presto aqui. No entanto, ainda sinto um vazio tão grande em meu peito, algo que não se cura, mesmo que eu já tenha tentado de tudo. Ele continua aqui, corroendo-me a cada dia mais, mesmo quando finjo não senti-lo. Meu passado também me atormenta, lembrando-me do que não posso ter, destruindo tudo o que tento guardar de bom. Eu não sou bom, não posso me arrepender, não depois do “favor” que fiz a ela, eu não poderia fazê-la feliz.

Recebi outra proposta de contrato, desta vez mais longo, de 5 anos. No entanto, não aceitei. Não poderia, não sem ver minha família. Além disso, preciso assinar os documentos da minha mais nova fazenda. Sim, consegui, estou fechando negócio para comprar um haras. Estou pensando em aceitar a parceria com Andrew, o que me daria quase a mesma quantidade de terras que rivalizaria com o haras de Osvaldo. No entanto, não pretendo montar um haras, mas sim um centro hípico. Quero apenas treinar cavalos e hospedá-los. Planejo construir uma extensa área de lazer, com piscinas, preservar as matas ao redor e erguer uma casa um pouco menor, próxima à cachoeira em minhas terras. Para isso, precisarei voltar ao Brasil.

Durante todo o tempo que estive aqui, tirei apenas 2 dias de folga. O trabalho amortecia a dor e me fazia esquecer. Agora, com uma baixa no turismo na região, terei a oportunidade de finalizar a compra da fazenda e visitar minha família no Brasil. Se eu decidir voltar para assinar outro contrato de 5 anos, isso me dará tempo para pagar o valor das terras e construir as instalações para hóspedes. No entanto, se aceitar a parceria com Andrew, não precisarei esperar tantos anos.
Estou tão absorto em meus pensamentos que não percebo a porta se abrir, nem que alguém entrou. Estou de costas, mas ouço o suspiro de Andrew.

— Acredito que esteja contando os dias para voltar ao seu país de origem. — ele comenta indo até o bar e se servindo de uma dose de uísque. Andrew, ao contrário de mim, veste ternos sob medida e chapéu, o que o diferencia dos CEOs, são exatamente o chapéu na cabeça e a fivela no cinto. Quem imaginaria que o cara pegava no pesado, treinando cavalos e até mesmo ajudando no trabalho braçal dos peões.

— Não com o mesmo interesse de meses atrás. Quem eu desejava ver, pelo menos de longe, não estará lá. — isso me traz um gosto amargo à boca. O que eu esperava, afinal? Depois de usá-la e abandoná-la, que ela me esperasse?

— Você não sabe se ela ainda está em BH. Há meses você não liga para seus pais. — ele comenta e vem até onde estou, olhando para a enorme janela de vidro onde se pode observar toda a movimentação dos hóspedes e dos cavaleiros montados em seus cavalos nas arenas.

Irresistível Cowboy (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora