CAPÍTULO 5

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                   RAMON FABBRI

Porra, estou mesmo ficando louco. Tentei me afastar de Laura, lutei contra meus desejos por ela. Droga, tenho 37 anos, como posso ter me deixado levar por uma garota de 19 anos? Já faz mais de duas horas que estou nessa maldita pista tentando clarear minha mente. Não deveria ter tirado a virgindade de Laura daquela forma, parecia que estava agindo como um animal. Ela não é apenas mais uma conquista, Laura é pura e inocente, não pode ser comparada a qualquer outra mulher com quem já estive. Errei ao ceder, ao deixar meus instintos me dominarem. Bato na minha cabeça, tentando recuperar o controle de alguma forma.

Caralho, o que eu fiz? Onde estava com a cabeça? Não pensei na hora, deixei o tesão me dominar. Passo as mãos pelos cabelos, fazendo uma bagunça.

Bato com força na grade da pista. Sou um imbecil, aproveitei de uma menina inocente. Deixei o desejo e a atração que sinto por ela me levar, nem vou culpar a bebida, a culpa é toda minha.

Não quero nem pensar que ela ainda está nua na minha cama, ou seria capaz de voltar lá dentro e continuar fodendo seu corpo safado e receptivo. Ela me recebeu tão bem, satisfez todos os meus desejos e até sentiu prazer se entregando completamente. Sei que estou agindo como um canalha ao sair de casa e deixá-la sozinha depois de ter tirado sua virgindade. Mas estou confuso pra caramba. Minha cabeça está latejando, pesada de culpa, vergonha e medo. Estou cheio de sentimentos conflitantes.

Recebi uma proposta irresistível de Andrew Smith. Ele me ofereceu um salário exorbitante, o que me deixou tentado a aceitar. Quando mencionou que eu teria direito a moradia fixa em uma de suas casas em sua propriedade, além do contrato de um ano com alguns dias de folga durante a semana, fechei o negócio sem pensar duas vezes. Ainda não conversei com meus pais, nem pedi demissão para Osvaldo. Sinto uma relutância em encerrar esse ciclo da minha vida. Essa oportunidade é o meu maior sonho, pois serei reconhecido mundialmente. Com esse trabalho, em alguns meses, terei a possibilidade de comprar minha tão desejada fazenda e abrir um centro hípico, treinando cavalos não apenas da região, mas também de outros estados. Sei que é um passo grande, mas acredito que está na hora de encontrar meu caminho.

No entanto, meu pau complicou tudo. Agora, tenho que lidar com Laura. Como vou dizer a ela que estou partindo?
Como vou explicar que já havia decidido isso antes mesmo de começarmos aquele jogo de provocações?
Que já havia assinado o contrato e não tinha mais como voltar atrás?
Gosto de Laura e sempre quis manter as coisas entre nós de forma platônica. Não sou um cara bom, não posso me envolver emocionalmente com ninguém, especialmente com Laura, que merece alguém melhor. Jamais serei o que Laura deseja, nunca poderei ser... Sou 17 anos mais velho, diacho, vi essa menina crescer. Eu simplesmente a fodi duro. Sou mesmo um bastardo desprezível! Esfrego as mãos no rosto.

Além de velho, sou apenas um peão no haras do pai dela.
Não mereço Laura.
Não mereço ninguém.
"Nunca vou repetir a mesma história", jurei a mim mesmo.
Jurei jamais me envolver emocionalmente com alguém.
Não posso...
Não consigo...
O que estava pensando?
O que fiz?
Droga... o dia está amanhecendo, e preciso tomar uma atitude. Sei que Laura vai me odiar para sempre. Mas estou fazendo isso para o bem dela. Preciso me convencer disso.
Não há outra solução, certo?
O que mais poderia fazer?
O que posso oferecer a Laura se não posso dar o que ela mais deseja?
Eu gostaria de poder fazê-lo, juro que gostaria. Eu não queria ser assim... Gostaria de poder amar...
“O amor tira a sanidade,” eu não posso me perder, não posso amar...
“ela não vai vencer,”
“ela não vai destruir minha vida”...
E se eu conversasse com Osvaldo, se eu contasse a ele sobre Laura e eu?
Eu não posso amá-la, mas prometo cuidar dela, nunca traí-la.
Talvez ele aceitasse, e eu poderia levá-la comigo.
Sei que Laura aceitaria vir comigo, não acho que Andrew se importaria.
Poderia ser um bom arranjo.
Não tenho planos de ter uma família, não posso me dar esse luxo... uma vez... quando ainda existia inocência em mim, eu sonhei com uma família, sonhei em ter uma esposa, em ter alguns filhos. Pena que foi roubado de mim tão cedo esses sonhos, esmagando-me como um verme arrancado tudo que eu possuía de bom e deixando apenas o amargor e a solidão.
O certo e o errado duelam dentro de mim, guerreando entre qual escolha seria mais sensata.
Laura aceitaria viver com uma pessoa que não poderia amá-la como ela merece?
Eu conseguiria manter minha sanidade?
São tantas perguntas sem respostas...
“o amor faz você se perder,” essa voz me acompanha como um maldito fantasma ela se instala em minha mente sempre que eu vago por caminhos perigosos, me lembrando da minha sina.
“Quando você enlouquecer me procure,” minha mente me trai novamente, isso jamais vai acontecer, ela não vai vencer, eu sempre venço.
Perco a noção do tempo pensando em qual escolha tomar, quando dou por mim, vejo Osvaldo se aproximando da Pista.
— Bom dia, Ramon, vejo que madrugou aqui. — Eu sorrio sem graça para ele.
— Ah, sim, Osvaldo. Estava pensando na competição de ontem. — Minto.
— Você é o melhor, Ramon. Sabia que Ringo e Edison estavam em boas mãos. Agora vão chover ofertas de trabalho para você. — Tento sorrir sem sucesso.
— Com esse prêmio, o haras também terá seu reconhecimento. — Mudo de assunto.
— Graças a você, meu amigo. — Meu pai aparece e estava sorrindo todo orgulhoso.
— Vejo que vocês madrugaram. Estão emocionados pela competição de ontem? — Meu pai brinca.
— Claro, Tião. Sabe como é bom ter nosso Haras sendo reconhecido. — Meu pai dá um tapa nas costas de Osvaldo o cumprimentando.
— Tem razão, Osvaldo. — Meu pai olha para mim e depois encara Osvaldo.
— Eu ouvi você conversando com o Geraldo Cosme. Parecia sério. — Meu pai comenta e não sei onde ele quer chegar.
— Ah, sim. Caio, o filho dele... — Osvaldo para, coçando o queixo, pensando se falaria ou não.
— Ele gosta muito da minha filha Laura, eles são inseparáveis, e bem, eu e Geraldo somos amigos de muitos anos, e eu deixei claro que faria muito gosto da união dos dois. — Eu escutei tudo aquilo engolindo em seco, não acreditando, mordi em meus lábios até sentir o gosto metálico de sangue, eu não gostei da forma que Osvaldo disse. Mas talvez, só talvez, fosse o melhor, Laura poderia ser feliz, não tenho certeza se eu poderia fazer alguém feliz.
— Eu acredito que Laura goste de Caio. Eles têm quase a mesma idade, se entendem bem, o garoto é de uma família muito boa, e eu até brinquei com Geraldo que assim nossos filhos uniriam nossas fortunas e poderíamos fazer uma boa parceria. — Osvaldo falava aquilo cheio de orgulho como se o dinheiro fosse mais importante que tudo. Não resistindo à pontada de decepção que senti, me vi falando antes mesmo de pensar.
— Dinheiro não é tudo, Osvaldo. Laura poderia se apaixonar por um simples peão. Você não acha? — Minha pergunta sai ácida sem que eu tenha controle. Ele se vira para mim e sorri com escárnio.
— Não acho, Ramon. Não querendo ser esnobe, mas minhas filhas têm uma vida estável. E eu sempre falo que dinheiro atrai dinheiro. Tenho como exemplo minha Eloá e Corrado. O herdeiro de uma das fazendas mais ricas da região, um empresário de sucesso e CEO, se casará com minha primogênita. E tenho certeza que minha Laura seguirá pelo mesmo caminho, namorando um engenheiro agrônomo, filho de um dos homens mais ricos de todo o Estado de Minas. O futuro das minhas filhas será incrível, como eu sempre sonhei. — Sorrio com escárnio, ácido e amargo.
— Então o senhor acha que ela nunca se interessaria por um peão? Que ela pensa como você? — Minha pergunta sai ríspida.
— Se pensa ou não eu não sei, mas que eu não aceitarei menos do que minhas filhas merecem, isso nunca. Me fale, rapaz, o que um simples peão poderia oferecer à minha menina? Nem você, que tem um salário um pouco maior aqui na fazenda, conseguiria dar tudo que minha Laura precisa. Algumas pessoas precisam saber do lugar delas, Ramon. Pessoas pobres ficam com pobres, e peão da minha fazenda jamais se aproxima da minha filha, com intenção errada, só por cima do meu cadáver. — Eu tenho que me segurar e meu pai percebe que estou para explodir, ele nega com a cabeça, e eu baixo a cabeça, derrotado. Se eu pensei que tinha alguma chance de ter, pelo menos um arranjo bom, foi para o ralo. Depois dessas palavras de Osvaldo, deixando bem claro que ele nunca aceitaria um peão namorar sua filha. O que ele pensaria se, além de um peão, fosse alguém que serviria para ser o pai dela? Onde eu estava com a cabeça? Eu saio de lá sem falar com ele.
— Uai, Tião, o que aconteceu com Ramon? — Eu não sei o que meu pai respondeu e nem quero saber, eu apenas preciso me acalmar e pensar em como resolver a confusão que eu causei. Quando acho que estou no controle, vou para a casa dos meus pais. Encontro minha mãe na cozinha.
— Bom dia, mãe. — Eu falo enquanto procuro por café.
— Bom dia, Ramon. A menina Laura chegou aqui agora pouco com uma de suas camisas enrolada em uma manta. — Eu fico calado e ela olha para mim com indignação.
— O que você fez com a menina Laura, Ramon? — Eu engulo em seco, retiro meu chapéu e bagunço meu cabelo, desviando o olhar da minha mãe.
— Nada.
— Você sabe que essa menina é apaixonada por você há muitos anos, não sabe? Espero que você não tenha feito nada para comprometer a integridade dela. Ou eu mesmo e seu pai vamos cuidar de você. — Eu engulo em seco e não respondo nada. Minha mãe solta um som de lamentação.
— Ramon. O que você fez? — Eu soco a porta da cozinha, e ela olha para mim assustada.
— Tudo está me engolindo vivo, eu estou tão perturbado, mãe... — Ela vem até onde estou e me abraça, eu não mereço abraço ou compaixão de ninguém, não quando eu que fui um maldito bastardo. Ela olha para mim, vendo meu agitamento.
— O que houve com você para parecer tão agitado, Ramon? — Ela me analisa. Eu saio de perto dela, pego um pouco de café e tomo.
— Desembucha. — Eu olho para ela, decidido a dar a ela a notícia.
— Mãe, eu aceitei o trabalho que Andrew Smith me ofereceu. Eu já assinei o contrato onde eu ficarei um ano morando no exterior. — Ela coloca a mão na boca e lágrimas se juntam em seus olhos. Ela procura o banco da ilha para se sentar.
— Você está dizendo que está indo embora, meu filho? Você vai abandonar sua família. — É nessa hora que Laura resolve aparecer, entrando pela cozinha quase desmaiando. Preocupado, corro para segurá-la. Ela está chorando, e meu coração retumba.
— O que sua mãe disse é verdade, Ramon? — Ela pergunta chorando, e eu tenho vontade de abraçá-la, mas me contenho. Eu nunca poderei ser bom o bastante para ela.
Queria dizer a ela que seria apenas um ano, mas me recuso a fazer promessas vazias. Eu não posso comprometer um ano da vida de Laura, não quando não tenho o que oferecer a ela, nada além de algumas noites de prazer. Não posso pedir para ela parar no tempo e me esperar retornar, não seria justo com ela. Seu pai tem planos para ela, e será um futuro muito melhor do que comigo, que não tenho dinheiro algum para mantê-la, e nem posso amá-la, não como ela merece. Eu tenho vontade de soltar uma risada amargurada, lembrando das palavras de Osvaldo. No fim, ele não passa de uma pessoa fútil que só pensa em dinheiro. Eu sei que tenho que deixá-la livre para viver, mesmo que isso destrua o que resta de sentimentos bons em mim, aquela pequena fagulha que eu sei que nunca poderia emergir à superfície, ela terá que ser arrancada mesmo que isso doa os ossos. Eu não sou merecedor do amor de Laura, eu não mereço o amor de ninguém. Ela com certeza será mais feliz com Caio. Esse pensamento me faz sentir dormente, e a dormência vem em um bom momento, o momento em que farei Laura me odiar para sempre.
— Me responda, Ramon. Diga que eu ouvi errado. — Ela segura a minha mão que estava em sua cintura.
— Negue, por favor... — Ela sussurra, e a pequena fagulha de sentimentos se revira em meu peito, e eu a empurro de volta para a escuridão. “O amor enlouquece.” É isso que estou causando em Laura? Loucura? Ela não é igual a mim... ela não enlouqueceria, mas por que esse pensamento não me faz sentir melhor? Por que saber que estou a destruindo me dói a alma?
— O que quer que eu diga, Laura? — Minha voz sai embargada, me traindo. Me recomponho, eu não posso arriscar a vida de mais ninguém, eu não posso colocá-la em perigo... não é justo trazê-la para minha loucura. Ela ficará melhor com sua família.
— Que eu ouvi errado. Que você não vai me abandonar. — Ela diz com o rosto banhado em lágrimas. Minha mãe havia nos deixado a sós e eu agradeço por isso ou talvez ela teria me espancado aqui mesmo, porque sei que não se parte o coração de pessoas inocentes e boas como Laura.
— Por favor, Ramon, negue. Não faça isso comigo, não depois de eu ter me entregado a você... Eu te amo, Ramon, sempre amei... — Porra... Eu solto sua cintura como se tivesse sido queimado e cambaleio para trás. Eu fico sem palavras e desvio os olhos dos dela e me viro de costas para ela. Ela passa para minha frente e abraça minha cintura e encosta a cabeça em meu peito. Uma maldita lágrima cai dos meus olhos, me lembrando que ela me faz sentir. E isso é perigoso. Isso é devastador para mim, pois eu não posso me dar a esse luxo.
Eu sinto um nó em minha garganta que me impossibilita de falar qualquer palavra coerente. E ela parece entender porque fica calada. E tudo que eu tenho vontade de fazer é pegá-la em meus braços e sair com ela dali. Fugir pra longe, onde que por algum milagre as palavras que tanto me atormentam me abandonem e me deixem viver. Mas eu terei que ser forte pelo bem de nós dois.
Eu não mereço Laura.
Eu não a mereço.
Ela será mais feliz sem mim.
“O amor faz você fazer coisas inimagináveis”
— O que tivemos foi um erro, Laura, e não pode se repetir, eu sinto muito. — Não suportando vê-la desabar na minha frente, saio de casa, mas ainda posso ouvir o grito de dor que ela solta. Não sabendo que esse grito ficará para sempre em minha mente e marcará minha alma como uma tatuagem, lembrando do meu pecado. O pecado de destruir uma menina inocente. Pois foi nesse momento que eu perdi o que restava de puro em mim, o que o meu eu de 18 anos perdeu quando descobriu o estrago que os sentimentos fazem na vida das pessoas.

Encontro meu pai no meio do caminho e ele me para.
— Você sempre soube, filho... — ele começa.
— Nunca havia conhecido esse lado arrogante do Osvaldo, pai. — Falo amargurado. — Como pode? O dinheiro é tão importante assim? — Meu pai bate com a mão em meu ombro; nunca tivemos demonstrações de afeto ou algo do tipo, eu nunca me importei com demonstrações de amor, apesar da minha mãe ser uma mulher muito amorosa.

— Eu percebi os olhares de Laura para você, vi que você resistiu bem à menina, sabia que uma hora você acabaria caindo. Mas nós dois sabemos que não tinha a mínima chance de dar certo, filho. Vocês têm vidas totalmente diferentes.

— O senhor tem razão, pai, e eu me decidi. Eu partirei ainda esta semana. É o melhor a se fazer.

— Eu sinto muito, filho. Mas você é maduro e encontrará alguém que vai valorizar o grande homem que você é. — Eu não digo nada; ninguém jamais terá esse poder sobre mim. A única que poderia, me odeia para sempre. Pego minha caminhonete e vou para minha casa.

Irresistível Cowboy (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora