PRÓLOGO

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 Lorenzo Alarcón/Koa Salazar, 12 anos, ano de 2002

11:23 PM

Lorenzo Alarcón desfrutava de uma noite normal com sua família.

A atmosfera carregada por uma entediante calma na sala de estar de sua enorme mansão. Natalia, sua irmã mais velha, apoiava um livro entre seu peito enquanto lia um livro deitada, seu corpo afundava no sofá macio, enquanto suas pernas estavam levemente cruzadas e relaxadas.

O garoto concentrava-se em seu jogo de lego, como se não o consertasse fosse gerar graves consequências.

Ele estava sentado ao lado contrário da TV, onde o som perpassava por todo o local da enorme sala de estar, sentia o macio carpete enquanto tentava corrigir sua postura, o garoto estava sentado com as pernas cruzadas em formato de índio.

Contanto, a mente do pequeno foi interrompido por uma vontade imensa de saborear uma colherada de sorvete de baunilha com pitadas de chocolate guardadas na geladeira.

Ele faria qualquer coisa por um deleite do sorvete cremoso gelado italiano, feita por sua cozinheira.

Seu olhar foi sorrateiro ao largar os brinquedos e seguir em direção a cozinha, em passos lentos carregados de expectativa, como um espião ele esgueirava-se pelos móveis, escondendo-se de dona Maria. A cozinheira se distraiu, por um momento, pelo estalo do borbulhar do macarrão cozinhando.

A criança aproveitou para abrir a geladeira e ergueu a ponta dos pés para alcançar o freezer, seus dedos pequenos protestaram pelo frio intenso. Mesmo com dor ele alcançou o pote caseiro de sorvete, e deu uma colherada, sentindo o sabor incendiar em seu paladar.

Mal podia esperar para correr o máximo que seus pulmões aguentasse, e ir até a irmã oferecendo a ela. A adolescente adorava sorvete de baunilha.

Quando correu para fora conseguiu escutar a italiana gritando seu nome

— Lorenzo é para a sobremesa, pare!

Claro que o garoto ignorou.

Já prestes a virar o corredor para ir até onde sua irmã estava.  A mesma parou de ler e virou o olhar em sua direção, e quando viu o sorvete seus olhos brilhavam de alegria, e um sorriso sorrateiro surgiu em seus lábios.

Mas algo interrompeu, ele se assustou com um barulho imenso, vindo de cima da casa. O segundo andar da casa. O garoto congelou no meio do caminho para a sala, pelo choque repentino do barulho. Seus músculos se tencionaram pelo som estrondoso que reverberou através de toda a casa.

O sorvete que segurava em suas mãos, com tanto gosto e vontade, foi soltado pelo peso do pote, o frio de suas mãos e o susto.

Além de acompanhado pelo som característico do gelo caindo, criou, assim, uma cacofonia desarmônica no ambiente anteriormente tranquilo. Confuso, ele olhou de relance para as escadas, o coração martelava ainda pelo susto do assustador barulho.

Avançou rapidamente em direção de onde o som veio. E correu escada acima. Os sons exteriores pareciam sumir cada vez mais, a voz de sua irmã sumia engolidos pelo peso da curiosidade, e nervosismo enquanto subia degrau por degrau.

Um calafrio intenso percorreu por sua espinha, mas ele reprimiu seu impulso inicial de fugir. Lorenzo se lembrou da frase da qual seu pai nunca cansava de lhe repetir:

"Se você ceder ao medo, nunca será um homem de verdade".

Ele engoliu em seco reprimindo sua autodefesa, no qual sussurrava ao seu ouvido para correr. O garoto empalideceu-se ao perceber rastros de sangue na porta de seu pai, no chão, no inicio do carpete e no corredor.

Um grito desesperado formou-se em sua garganta, entrecortado e mudo, como em um pesadelo onde não conseguia emitir sons nos piores momentos. Sua mãe saiu do ensanguentado cômodo, suas roupas elegantes tão familiares para ele agora manchadas de vermelho.

Lorenzo prendeu a respiração por um momento, sua mãe sangrava muito, e viu suas forças saindo dela a cada passo em sua direção. Sua expressão era de terror. Com dificuldade a mulher se aproximou dele, segurando seus ombros, e o manchando de sangue por suas mãos ensanguentadas.

Ela sussurrou perto dele: "Não gritem, não se apavorem, não façam barulho, é uma ordem. F-fujam..." Sua voz falhou na última parte.

Lorenzo lançou um ultimo olhar a mãe, os olhos obscurecidos pelo medo e pelo pavor. Sem proferir nenhuma palavra sua mãe arrastou-se de volta ao cômodo, onde viu, por um instante, o corpo de seu pai jogado na enorme cadeira do escritório.

A mulher fechou a porta, tentando impedir uma pessoa de sair, mesmo que não durasse muito.

Ele sentiu a mão quente da irmã entrelaçar a sua, e juntos, os dois irromperam uma corrida para fora do que um dia foi seu lar. Embarcaram no carro, o coração dos dois ainda estavam a mil, ambos se abraçaram o máximo que podiam.

Lorenzo não se lembrava muito o que seu motorista falou naquela madrugada. O motor roncou e eles partiram pelas ruas vazias de Barcelona a meia noite, as lembranças do ocorrido ainda frescas em sua memória, o menino se encontrava aterrorizado e com medo.

Contudo, ele se lembrava das palavras do motorista ao chegar no aeroporto. 

— Prometi que protegeria vocês  — O motorista falou assim que estacionaram em frente ao enorme aeroporto. Ele entregou duas identidades novas aos irmãos — Seu pai fez em uma medida de emergência, e ao menos isso eu vou cumprir...por ele...  — Sussurrou o homem

O menino passou os dedos na sua nova identidade, e prendeu a respiração por alguns segundos. Seu nome agora era Koa Salazar

Não era para um menino entender a gravidade da situação, mas vendo o choque estampado no rosto de sua irmã entendeu que teria de ser mais forte que imaginava. Ele olhou de relance, com dificuldade pela escuridão, para o id da irmã. Agora ela se chamava  Nami, Nami Salazar.

— Por isso  vocês vão a américa, é perigoso ficar em contato com qualquer conhecido. Então prestem atenção!  — Disse o homem severamente.

 Koa se recusou a chorar em frente a sua irmã. Não iria ser fraco, e não iria mais deixar ninguém que amava morrer. Iria obedecer aquele homem até a morte. 

— Você é o homem da família agora. Cuide dela —Avisou — Não se aproximem de ninguém, parentes ou amigos. Ninguém!  — Avisou o homem, como se fosse uma ordem de sobrevivência. 

A despedida da cidade amada, onde cresceram e brincaram, onde as pessoas  quem mais amaram estavam. Sentiu a solidão, raiva, tristeza e ódio transformarem-se em um único sentimento dentro dele.  Koa observava a cidade ficando cada vez mais distante, enquanto sua irmã chorava no assento do avião. 

O pote gelado de sorvete era a última centelha de felicidade genuína, na qual ele provaria por muito tempo.

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