𝗔𝗨𝗥𝗢𝗥𝗔
Navegar pelos recantos sombrios da imaginação pode ser perigoso. Mas para mim, que já estava morta por dentro, essa escuridão transbordava para fora.
A indiferença e a tristeza eterna me envolviam.
Não tinha valor. Tudo que me sustentav...
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Asas de anjo Costuradas nas minhas costas com fita preta Eu sei que você sabe que machuca minha pele Eu estava apenas tentando entrar no céu Eu estive me matando para me encaixar
Era como se cada manhã fosse mais uma batalha árdua que eu tratava com a minha própria resistência. A relutância de abrir os olhos e confrontar com a desolação da parede branca do meu quarto era uma demonstração palpável da minha angústia interna e externa. Aquela atmosfera estéril ainda estava presente no meu quarto, ainda consigo sentir. E aquilo parecia ecoar a minha tristeza como um espelho implacável e distorcido das minhas emoções. A familiaridade do meu quarto, que outrora foi reconfortante, parecia uma prisão tanto mental quanto física.
Me sinto suja todo santo dia.
A noite anterior foi a prova contundente do meu real tormento. O meu sono fugiu de mim como se fosse um fantasma zombeteiro, deixando-me à mercê dos meus pensamentos sombrios. Na quietude da madrugada, enquanto a lua ainda estava sobre o horizonte negro da pequena cidade adormecida, quase sucumbi o meu desejo de me perder nas águas do chuveiro gelado para tirar toda a sujeira que tinha no meu corpo. Não sei quanto tempo estava ali, mas o frio da água gelada no meu corpo conseguia apagar quase tudo. Era um alívio fugaz, limpo, como um abraço escaldante na água do chuveiro.
No entanto, sempre havia aquela pequena fagulha que acendia dentro do meu peito, aquela força inata que surgia no meu peito sempre nos momentos mais difíceis, nas profundezas do meu ser, no ímpeto de proteger meus irmãos mais novos. Era como uma promessa silenciosa. Um compromisso que eu iria cumprir até o fim.
Eu sou de uma família de seis irmãos. Sou a terceira irmã mais velha e a maior parte do tempo eu fico cuidando dos meus irmãos mais novos. Somos uma família desestruturada.
Meu pai tinha uma mão bruta. Era um falso moralista que sempre se manteve intacto diante de toda a nossa infância. Ele me ignorava porque eu era uma menina e que eu era mais uma boca para alimentar naquela família bagunçada e abusiva. Por mais que eu tenha 15 anos de idade, eu tento construir uma vida boa no máximo possível para Icarus e os gêmeos. A infância e a adolescência de Riven e Zayan foram horríveis assim como a minha estava sendo destruída em frangalhos até não restar mais nada.
