Capítulo 6: Eu sei quem você é

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cada um de nós nasce de forma diferente

mas somos todos batizados pelo sofrimento

eu ganhei consciência ainda não-formado

em um casulo frio com milhões de irmãos

.

a única comida era a carne

e nos devoramos um a um

até que apenas eu restei

.

nasci com cicatrizes velho e cansado

a inocência perdida antes de provada

A luz solar desaparecia rapidamente do céu, como se o astro tivesse se impacientado. Era mais tarde do que o grupo imaginava e eles agora apertavam o passo ladeira acima para chegar no apartamento de Paula. Diego chegou a sugerir que eles entrassem no primeiro prédio que encontrassem e arrombassem a porta de algum lugar, mas a sua amiga seguia na frente a passos largos como um cavalo retornando à cocheira e em breve eles chegaram no prédio.

A escadaria tinha janelas grandes que iluminavam bem a passagem, mas foi só então que descobriram que Paula morava no maldito 19° andar. João suou feito um porco na subida e se arrependeu amargamente das dezenas de vezes que largou a academia. Tiveram que parar umas quatro ou cinco vezes para que o editor não enfartasse, mas chegaram.

Acenderam muitas velas para entrar, duas para cada um, pois a noite já estava praticamente feita. A porta aberta estava balançando devido à corrente de ar que subia das escadas, sem sinal de arrombamento. Paula entrou correndo gritando pelos pais e irmão, mas apenas o uivo do vento respondia aos seus chamados.

A sala estava relativamente arrumada salvo o tapete abarrotado e um abajur caído. Foi quando entrou no corredor que viu que a porta do seu quarto estava derrubada ao lado e rachada ao meio. Ela colocou uma mão sobre a boca e começou a tremer, seus olhos arregalados deixando lágrimas escorrerem, sem coragem de avançar. Marco colocou uma mão no seu ombro.

- Fica calma – disse – deixa que a gente entra.

Marco havia deixado a mochila na sala e entrou no cômodo com uma vela e a pt 380, com Diego seguindo em sua cola com outra pistola e outra vela. Ficaram lá dentro apenas por alguns e saíram cabisbaixos.

- Não tem ninguém – Marco contou – Mas parece que foi ali que eles escolheram pra se esconder.

Paula passou por Diego e entrou no cômodo.

O armário havia sido empurrado para bloquear a porta, mas estava caído do lado. A cama estava quebrada, o colchão rasgado e havia marcas de garras na parede. A estante com a coleção de bichos de pelúcia estava derrubada, e os bonecos adquiriram um aspecto macabro à luz das velas. Paula tinha a sensação que eles a olhavam, talvez a acusando de ter deixado aquelas pessoas que ela tanto amou, talvez tentando contar o horror que testemunharam.

- Paula, vem com a gente, não adianta ficar olhando pra isso agora. Vamos ficar todos juntos que é melhor.

Ela seguiu para a sala abraçada pelo amigo, mas estacionou na porta da sala com um olhar fixo em algo. Paula olhava uma panela vazia suja de brigadeiro. Foi quando entendeu. Ela nunca mais ia ver nenhum deles.

* * *

Encheram a sala de velas e pegaram o que encontraram na geladeira. Havia um filé de frango, arroz e feijão prontos no freezer. O fogão funcionava normalmente. Esquentaram tudo e se sentaram na sala para comer.

Quando os Pesadelos AcordaremOnde histórias criam vida. Descubra agora