Até que a morte nos separe

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Anna andava devagar, o assoalho rangia abaixo de seus pés. A casa com o silêncio cortado por sua respiração ofegante e coração que palpitava com força, quase a machucando.

Aquele silêncio que preenchia o ambiente de terror, o escuro consumia seu lar. Devagar e com o maior cuidado possível para que o silêncio fosse constante, Anna andava para fora de seu lar. Seu rosto machucado fazia sua pele arder, braços inchados e quase dormentes. Olheiras escuras e profundas, seu corpo marcado por constantes cortes.

Aqueles que haviam cicatrizado e agora eram só manchas que traziam péssimas lembranças. O homem que dizia que a amava só a machucou, "Como um amor pode se tornar tão violento?". Essa era a pergunta que a rondava a semanas.

Ela não tinha medo antes, mesmo ouvindo ele sussurrar enquanto dormia, pareciam ameaças vindas de alguém que não estava em capacidade de mentir. Mas a ignorância de um amor perfeito a fazia relevar até a mais clara ameaça.

Anna olhava as paredes, tons pastéis. Ela gostava de cores fortes, mas entrou em acordo com ele, ela deixou pequenas coisas para trás. Não eram difíceis, somente fatores básicos que talvez não mudassem muitas coisas.

Nas belas paredes azuis haviam quadros e mais quadros do casal, de viagens e de seus amigos. Dias bons com lembranças agora confusas, no dia foi tão divertido, mas agora pensava se ele já tinha ódio de si. Se ele já gostaria de machucá-la naquele momento.

Barulho, ele havia se levantado da cama. Anna congelou, as lágrimas começaram a descer, só queria ir embora. O pavor congelou a pobre moça, os olhos encharcados de angústia e pavor, os pés cravados no chão e as mãos cobrindo a boca. Não gostaria que sua respiração pesada pelo choro fosse ouvida e que o homem que tanto temia chegasse ao andar de baixo.

A casa de três andares dificultava que os passos seguissem sem um único som, ou que ele não a alcançasse com facilidade. O choro abafado e um coração desesperado, ouviu outro som. Um ronco leve, ele somente se mexeu, a respiração voltou aos seus pulmões.

Os passos seguiram pela grande casa, o suor escorria por suas mãos e pescoço. O medo a deixava gelada, a moça que antes era tão feliz agora se encontrava desorientada e apavorada, os lábios finos tremiam conforme sua respiração pesada. Mesmo com os pés tremendo a moça seguia, confiando que o homem permaneceria a dormir.

Era puro arrependimento do dia que havia aceitado o relacionamento com ele. O homem que havia prometido puro amor e compreensão, eles passaram por tantas coisas juntos, alto e de sorriso gentil. Talvez nem tão gentil assim.

Passos se apressaram descendo as escadas, sons que mostravam raiva vinda de cada estrondo dos pés do homem que já sabia o que Anna tentava fazer. Medo, foi o que Anna sentiu. Correu o mais rápido possível caminho a baixo, mesmo de corpo dolorido a adrenalina a motivava a correr por sua vida.

Uma força levou-a ao chão, seu corpo inchado batendo contra a madeira fez um grito doloroso abandonar seus lábios.
— Qual o seu problema? Já mandei você deitar e dormir! — gritou Carlos

Não conseguia responder, apenas se culpava por não conseguir ser mais rápida. Seus cabelos longos a deixaram vulnerável, eles foram agarrados e puxados. Mas se culpar não adianta, ele agora garantiria que ela não visse por uns dias a luz do sol.

Foi o que ele fez, jogou-a no porão. Trancou-a onde seus gritos e movimentos não poderiam ser ouvidos pelos vizinhos.

Sozinha em meio a tanta escuridão novamente, apalpou as paredes procurando o interruptor. As luzes voltaram ao ambiente, ambiente este que desejava não voltar a ver, mas lá estava ela de novo. Não tinha mais lágrimas em seu rosto, somente sentia raiva. O maldito havia a pego tantas vezes que já nem sabia se teria um dia a esperança de sair do ambiente sujo de sangue.

Naquele chão haviam diversas marcas de sangue e arranhões de facas, uma caixa repleta de fotos e arquivos de cadáveres. Machucá-la não era exclusivo, ele machucava diversas mulheres que já haviam se encontrado em seu caminho.

Todas mortas, ele a obrigou a ver foto por foto. Ela sabia o que aconteceria consigo caso revelasse seu segredo sujo. Não cometeria o mesmo erro.

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