Vingança

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Ângela entra na sala.

— Oi  Ângela, como passou seus últimos dias?
Perguntou o psicólogo.

— Bem, eu acho. Só meio perdida.
Respondeu com uma voz cansada e confusa.

— Entendo. Bom, gostaria de me contar do seu ponto de vista os últimos ocorridos?
Perguntou ele com uma voz gentil.

— Claro. Bem, como havia comentado antes, descobri minha gravidez faz 20 anos. O pai do meu filho foi embora assim que soube, nada de novo sobre isso, mesmo que na época isso tenha machucado bastante.

— Entendo, e como você lidou com isso?

— Não é como se as opções fossem muitas, mas decidi criar meu filho sozinha. Eu realmente tentei, mas as contas a pagar me deixavam aflita, tive que pedir ajuda a minha mãe. Minha mãe me ajudou muito, cuidava do Matheus para que eu pudesse trabalhar. O senhor tinha que vê-lo quando criança, era tão adorável.

— E as coisas prosseguiram bem?

— Infelizmente nem tanto, ele não passava quase tempo comigo por conta do trabalho. Porém, um dia minha mãe me chamou em particular para termos uma conversa que eu sinceramente não sabia do que se tratava, e podemos dizer que ela se encontrava em um estado de choque tremendo. Não sei expressar corretamente, mas eu sentia o medo transbordando de seu corpo.

— O que ela lhe disse?

— Falou que tinha algo de errado com meu filho, que não cuidaria de um menino tão problemático. Eu fiquei muito confusa, ele sempre agiu tão bem perto dela, e não somente isso. Eles se davam bem de verdade, ela amava ele, dizia isso o tempo todo. Então derepente ela o odeia e tem nojo do meu filho, medo talvez.

— Ele expressou mudanças de comportamento ao não visitar sua mãe?

— Não, ele não me disse nada, nem questionou o fato de ela ter falado coisas ao seu respeito. O questionei sobre ele ter feito algo que a tenha irritado ou magoado, mas ele não me falou nada que me levasse a acreditar nas coisas que descobri depois, na verdade ele só me disse que tinha quebrado um vaso de vidro. Foi somente o que ele me disse, não chorou, não me perguntou. Somente falou que iria se despedir dela, me disse apenas que iria pegar sua mochila e dar tchau.

— E como foi?

— Não sei dizer ao certo, mas minha mãe apareceu na porta com raiva, porém permaneceu calada. Com o passar dos anos eu entendi que tinha algo errado com meu filho, ele gostava de ter pássaros ou pequenos animais, mas não era como as outras crianças, ele não brincava com os animais e ficava feliz. Na verdade, com o tempo passei a encontrar os animaizinhos mortos no nosso porão.

— Não quis levá-lo ao psicólogo?

— Eu pensei nisso, mas eu tinha medo. Medo de meu filho ser alguém que eu não conhecia, medo de ele me matar também. Sei que é ridículo, mas aquele garoto tinha os olhos do pai dele, olhos de um assassino, um maluco, maníaco e obcecado por sangue. Eu tenho pavor dos olhos, do jeito que ele fala e do jeito que ele anda. Ele matou pessoas, eu sei que a culpa é minha, foi por isso que vim pra cá. Ele matou pessoas, ele nem se importou com elas ou suas famílias, pensei que com ele em outra cidade por já ser um adulto, eu poderia me manter segura. Eu não pensei nos outros.

— Não é sua culpa, a senhora sabe que os assassinatos não são culpa sua. Ele vai ser sentenciado à morte. Eu sinto informar, mas essa é a decisão do júri.

— Entendo, posso dar um adeus?

— Claro.

  Ângela chega perto da sala em que seu filho está, coloca a mão no vidro e sorri. Um sorriso que diz: "Eu ganhei', eles eram cúmplices, ela o traiu. Os olhos assassinos vieram dela.

A morte dolorosa que viria sobre ele, foi causada por ela. Ela era uma manipuladora de primeira, ele até tentou entregá-la, mas ela escapou disso com suas palavras seguras e quase irrefutáveis.

Ele sentiu ódio do sorriso vitorioso em seus lábios, bom, pelo menos ele já tinha providenciado de que alguns de seus amigos entregassem as provas. Já havia previsto que isso poderia acontecer, e já estava pronto para isso.

Talvez sua vingança não seja algo tão impossível assim.

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