O couro emitiu um rangido melodioso quando Ellie se mexeu ao despertar, imediatamente sentindo o toque do cobertor macio e aconchegante sobre si. Seus olhos semicerrados se ajustaram à claridade que invadia lentamente o ambiente, filtrada pelas cortinas brancas que dançavam com a brisa suave da manhã. A luz revelava as prateleiras repletas de livros, trazendo à tona o inconfundível aroma de páginas antigas e madeira recém-trabalhada, reacendendo com intensidade a memória do lugar onde ela havia adormecido. Ellie se sentou com movimentos lentos, coçando suavemente a bochecha enquanto examinava o ambiente à sua volta. Percebeu que Bucky havia deixado uma pasta e uma escova de dentes ainda lacradas sobre a mesa de centro, ao lado de uma toalhinha de rosto branca e um copo de água.
Ellie suspirou profundamente. Tinha memórias vagas de ter degustado o vinho tinto português, e sob a influência da bebida, havia desejado intensamente o homem que a acompanhava naquela noite. Os resquícios desse desejo refletidos na umidade entre suas pernas. Como teria resistido ao Sargento Barnes no meio daquela atmosfera repleta de livros, com uma taça de vinho nas mãos e sobre o elegante Chesterfield que ele tinha adquirido de sua loja favorita? Ellie grunhiu, mergulhando em memórias que a envolviam como as páginas antigas que a cercavam, as lembranças a assombrando. Ela fechou os olhos e esfregou as têmporas com as pontas dos dedos, lutando para afastar os pensamentos.
Descendo as escadas vagarosamente, guiada pelos vestígios sonoros e pelo aroma inebriante de ovos sendo preparados, café recém coado, torradas frescas e um sutil perfume floral que a envolvia, ela avançou em direção à cozinha.
Bucky não percebeu a aproximação de Ellie, que estava completamente absorto na preparação dos ovos mexidos do outro lado do balcão. Isso fez com que um sorriso se desenhasse no rosto de Ellie.
— Bom dia, James — sussurrou com timidez, inclinando-se sobre o balcão. Seus olhos estavam fixos na frigideira onde os ovos eram delicadamente mexidos, enquanto notava um papel de seda dobrado à beira do balcão. Entre algumas pétalas brancas dispersas, descansava um pequeno cartão em branco.
Bucky franziu as sobrancelhas por um breve instante antes de abrir um sorriso, surpreendido por sua distração ao ponto de não ter ouvido os passos de Ellie ou notado sua presença antes.
— Bom dia — murmurou, deixando escapar um sorriso tímido.
— Você trocou as cortinas... — Ellie observou, virando-se para apreciar as belas cortinas brancas que emolduravam as janelas da frente, as quais havia notado pela primeira vez na biblioteca ao acordar, algo que passara despercebido na noite anterior. — Bonitas.
Bucky assentiu agradecido pelo elogio, seu sorriso se alargando ao transferir os ovos cuidadosamente para o prato.
— Dormiu bem? — Ele perguntou, mantendo seu olhar em Ellie, que reagiu timidamente à pergunta.
— Dormi... — ela murmurou, soltando uma risada tímida. — Me perdoe por isso, aliás — disse, deslizando os dedos pelo balcão branco enquanto mordiscava o lábio inferior. — E eu deixei a escova no banheiro lá em cima — acrescentou, pronuncioando as palavras rapidamente.
— Não tem problema — ele disse com um sorriso. — E a escova é sua, estará lá quando precisar — acrescentou, salpicando uma porção de orégano sobre os ovos com a ponta dos dedos da mão direita, evitando encontrar o olhar de Ellie.
"Estará lá quando precisar". Essa simples frase reverberava em diversos cantos da mente de Ellie. Primeiramente, seus pensamentos alçaram voo para um futuro próximo, vislumbrando os momentos seguintes de pizza e vinho no magnífico sofá na maravilhosa biblioteca de Bucky. Em seguida, suas memórias da noite anterior começaram a se insinuar novamente, relembrando a eletrizante onda de desejo que havia sentido por Bucky, que agora estava ali diante dela, com seus braços e mãos expostos, revelando cada veia, músculos e detalhes dourados do vibranium sob efeito da luz natural.
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TIMELESS: Bucky Barnes
FanfictionApós o conflito com os apátridas, Bucky Barnes se vê no limiar de uma vida comum - uma possibilidade que jamais ousou imaginar. Entretanto, a liberdade o deixou desorientado, à deriva em um mundo que lhe parecia estranho após anos de lutas intensas...