Capítulo um

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As ondas rugiam ao redor de nós, como feras famintas em busca de presas indefesas, enquanto o barco sacudia violentamente sob o comando de nosso único remador experiente. Eu estava lá, com meu irmão Sigurd e dois rapazes da aldeia, Erik e Olaf, junto com a esposa deste último, Ingrid. A bordo, a atmosfera era sombria, carregada com a pesada carga da perda que todos compartilhávamos.

Lembrávamos vividamente das cicatrizes profundas que a morte havia deixado em nossas vidas. Todos nós tínhamos enterrado nossas famílias devido à terrível febre que assolou nossa aldeia. A dor daquela despedida silenciosa ainda ecoava em nossos corações, como uma ferida que teimava em nunca cicatrizar completamente.

Meus pais, que haviam sido pilares de força e sabedoria em nossas vidas, foram arrancados de nós pela cruel mão da doença. A imagem de minha mãe, com seus cabelos dourados e olhos gentis, ainda estava gravada em minha mente. Meu pai, um guerreiro corajoso e um líder respeitado, havia ensinado a mim e a Sigurd os valores dos vikings, a honra, a coragem e a lealdade.

Ao meu lado, Sigurd olhava fixamente para o horizonte, sua mandíbula tensa e olhos cheios de tristeza. Ele também havia perdido muito. Nossos pais haviam sido modelos para ele, e a falta deles deixara um vazio profundo em sua alma.

Erik e Olaf haviam crescidos juntos comigo. A morte de suas famílias os havia unido a nós, formando uma espécie de irmandade de sobreviventes. Ingrid, a esposa de Olaf, segurava-se com força a seu marido, seus olhos também cheios de tristeza, como se estivessem prestes a derramar lágrimas que haviam sido guardadas por muito tempo.

Enquanto as ondas continuavam a nos desafiar, eu sabia que aquele momento no barco era mais do que uma viagem. Era uma jornada de recomeço, uma tentativa de curar nossos corações partidos e encontrar um novo lar, longe das memórias dolorosas de nossa antiga aldeia. O oceano diante de nós era vasto e misterioso, mas a esperança de um novo começo queimava em nossos corações, alimentando nossa determinação de seguir em frente, apesar das perdas que havíamos sofrido.

A decisão de partir para Kattegat, o lendário centro de oportunidades e perigos, não foi tomada de ânimo leve. Mas o que mais havia para nós na aldeia desolada? A esperança queimava em nossos peitos, a esperança de um novo começo, de recomeçar nossas vidas. Juntos, decidimos lançar-nos nas águas traiçoeiras em busca de um destino incerto.

Meu irmão e eu éramos diferentes em muitos aspectos. Sigurd, com seus cabelos escuros lisos e olhos castanhos, era uma imagem sóbria da força viking tradicional. Em contraste, eu tinha cabelos ruivos, ferozmente rebeldes como o fogo selvagem, e olhos cinzentos que muitas vezes me valiam elogios. Meu pai, quando me deu o nome Freyja, afirmou que minha beleza lembrava a da deusa. Ele sempre viu em mim algo especial, uma chama interna que queimava intensamente.

Enquanto o barco enfrentava as marés revoltas, eu me segurava com força no banco de madeira, pensando em nossa jornada incerta. Sigurd era a única família que eu tinha agora, e, apesar de nossas diferenças, nosso laço era inquebrável. O oceano diante de nós era um espelho das incertezas que aguardavam, mas, por dentro, eu sentia a determinação crescer.

Estávamos velejando por dias a fio, enfrentando as fúrias das águas revoltas do mar. As ondas quebravam contra o casco do nosso barco com uma violência implacável, ameaçando nos engolir a qualquer momento. Cada embate era como um desafio direto dos deuses, testando nossa determinação e coragem. Eu olhava para as águas turbulentas, sentindo que estávamos dançando com a própria ira deles.

Meu irmão, era uma criança de apenas oito anos, mas sua determinação era notável. Seu rosto, adornado com sardas típicas de nossos genes, estava sério e concentrado. Agarrando-se aos mastros do barco, ele não mostrava medo. Em seu olhar, eu via a promessa de que ele se tornaria um guerreiro digno de respeito e fama. Como sua irmã mais velha, eu faria de tudo para protegê-lo, para moldar aquele jovem coração em um líder destemido.

Trovão de Sangue: Ivar o DesossadoOnde histórias criam vida. Descubra agora