Post Tenebras, Lux | Sevmione

Capítulo 22

"Não são as coisas criminosas que são mais difíceis de confessar, mas aquelas das quais nos envergonhamos."
- Rousseau.

Quando ela acordou no meio da noite, Hermione pôde senti-lo tremer. Ao ouvir a respiração instável dele, ela percebeu que ele estava chorando - não as lágrimas lentas e estranhamente pacíficas que aconteciam regularmente durante o sono; ele estava acordado, chorando e se esforçando muito para não chorar. Silenciosamente, ela o abraçou com mais força e beijou gentilmente seu peito - a única parte dele que ela conseguia alcançar sem se mover - e percebeu que ele estava realmente sofrendo quando se agarrou a ela em vez de se afastar.

"Você está pensando em quando era Diretor, não está?", ela perguntou suavemente e o sentiu assentir enquanto lutava para se controlar.

"Foi pior do que qualquer outra coisa", disse ele, roucamente, com a respiração presa por um momento. "Até mesmo matar exigiu menos de mim. Jurei proteger os alunos e não consegui, não pude. Em vez disso, eu..." Ele gemeu baixinho, um som torturado, e estremeceu violentamente. "Você sabe o que eu fiz. Alguns de seus amigos ainda têm cicatrizes. Eu os torturei, os traí e permiti que outros os machucassem. Eu mesmo fui uma vítima, sabia exatamente o que estava infligindo a eles e fiz isso mesmo assim."

"Eu sei, Severus", disse ela suavemente, soltando-se de seus braços apenas o suficiente para olhar para ele. Os olhos dele estavam vazios de horror e ela suspeitava fortemente que ele estivesse observando aquelas lembranças, que na verdade não podia vê-la naquele momento. Ela também não tinha certeza de que ele pudesse ouvi-la, mas continuou falando mesmo assim. "Era a única maneira. Conversei com Luna, Ginny e Neville até certo ponto. Eles entendem. E eu sei que você fez o que pôde para bloquear o pior - você tentou dar castigos mais benignos, nunca colocou toda a sua força nas maldições, não deixou os Carrows irem longe demais, até mesmo manipulou as memórias quando pôde. Não foi o suficiente, mas foi mais do que você precisava fazer. Poderia ter sido pior. Isso não faz com que seja certo, mas se você tivesse tentado desafiar o Lorde das Trevas, ele o teria matado e tudo teria sido em vão. Ouça-me, Severus".

Afastando-se dele, ela se sentou e enroscou os dedos em seus cabelos, forçando-o a virar a cabeça e fazendo-o olhar para ela. Por um momento, ele entrou em pânico, pegando a varinha por reflexo, antes que seus olhos se abrissem e ele a olhasse atordoado. Ela sustentou seu olhar ferozmente. "Você não é um homem mau. É um homem bom que foi forçado a fazer muitas coisas ruins. Há uma grande diferença."

Ele desviou o olhar, o máximo que pôde quando ela manteve sua cabeça imóvel. "Eu sei disso, intelectualmente", disse ele, cansado, parecendo mais com o seu eu habitual. "Mas eu não sinto isso. Nunca senti." Ele suspirou, parecendo completamente esgotado, e esfregou os olhos. "É tudo psicológico, eu sei disso. Tenho lido muito ao longo dos anos, tentando ser meu próprio médico. Transtorno de estresse pós-traumático; transtorno de estresse pós-traumático complexo; transtorno de amargura pós-traumática - esse poderia muito bem ter recebido o meu nome. Conhecer as razões e reconhecer os sintomas não muda nada."

Profundamente perturbada, Hermione soltou o cabelo dele e permitiu que ele rolasse, observando-o se enrolar no travesseiro de costas para ela. Mordendo o lábio, ela pensou furiosamente e, de repente, teve uma inspiração louca. "Severus, você está esquecendo de alguma coisa."

"Oh?" perguntou ele, sem graça. "E o que poderia ser?"

"Você acha que os Carrows perderam um segundo de sono entre eles por causa do que fizeram? Você acha que Bellatrix Lestrange pensou em alguma de suas vítimas? Você acha que o Lorde das Trevas teve algo que se aproximasse de um momento de consciência em toda a sua vida? O simples fato de você estar se preocupando com isso prova que você não é como eles".