Espurgo

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Isso não pode ser verdade, não, não faz sentido, como isso aconteceu? Como eu não vi isso acontecer?

- Manu, como isso aconteceu?

Estou diante a meu melhor amigo: Manuel, seu rosto paralisado de medo, suas mãos trêmulas, em sua direta uma faca suja de vermelho, sangue eu sei que é sangue, mas me obrigo a acreditar que estou enganado me obrigo a perguntar:

- Você estava cortando morangos?
- não.
- beterraba? Diz que estava cozinhando, por favor.
- Desculpe, eu não estava cozinhando.
Ele então olha para a grande porta atrás de mim, me viro há diversas manchas vermelhas na porta branca, algumas sem forma definida, e outras com o formato de uma mão humana, um arrepio percorrer minha coluna, dou um passo direção a porta e paro.
- Manu, cara já deu, pode parar com a brincadeira
-....
- Sério! Eu tô ficando com medo cara...
- Me desculpe! Me desculpe, eu não queria... juro que não!

Ele começa a dizer frases sem sentido repetidamente, me viro para a porta e dou mais um passo, os pelos do meu pescoço se arrepiam, tem alguma coisa errada, não quero acreditar que ele realmente... não ele não fez isso, tem que ter outra explicação, tem que ter! Dou mais três passos paro segurando a maçaneta, minha mão treme como nunca antes, estou suando frio, Manu continua a falar, é possível identificat pedidos de desculpas em meio a confusão que é sua suplica. Eu tenho que abrir essa porta, sei disso mas, todo o meu corpo manda dá meia volta e sair daqui, Não! Eu consigo, tenho que conseguir. Giro a maçaneta e ouço um clek, está aberta, retiro minha mão e o vento faz o trabalho, a porta se abre por inteiro. Uma poça de sangue se destaca no piso de madeira, meus olhos seguem o rastro até chegar a uma silhueta creio eu que feminina, me aproximo do corpo, está de bruços para baixo, não consigo ver seu rosto, nesse ponto lágrimas rolam pela minha bochecha. Não preciso de um rosto para saber que se tratar de minha irmã mais nova. Ele matou minha irmãzinha, derrepente todo o medo sai do meu corpo e dá lugar a uma raiva sem tamanho. Eu não quero acreditar nisso, não quero acreditar que meu melhor amigo matou minha tão preciosa irmãzinha. Me ajoelho sem ligar se vou me sujar de sangue, viro minha irmã para ver seu rosto. Meu maior erro, sua face dilacerada, sinto que vou vomitar, mas não o faço, meus dedos tocam a face delicada de Marta, infeliz seja o maldito que lhe tirou a vida, infeliz seja o dia que conheci ele e o convidei para nossa casa. Isso não vai ficar assim, não mesmo. Passo meu braço ensanguentado no meu rosto, numa tentativa frustrada de cessar as lágrimas, a minha frente há uma lareira e ao seu lado um taco de basebol, que conveniente. Agarro o cabo do taco com tanta força que sinto como se fosse o quebrar, me ergo e caminho lentamente até o cômodo do lado, a escoria que um dia chamei de amigo sentado no chão, devastado, em seu olhar não há vida, apenas dor e desespero. Imagino que o meu não esteja muito diferente agora. Berro com tanto desprezo que minha garganta queima a cada palavra proferida:

- PORQUE?! ANDA ME DIGA, DIGA TUDO DE UMA VEZ! PORQUE VOCÊ MATOU A MINHA IRMÃ!

– Ela estava possuida Lucas, eu não tive escolha... eu tentei espussar o demônio mas não deu certo, ele me atacou, e eu precisava me defender, fiz o que qualquer homem faria

Possuída? Como um flash de memória lembro-me de um momento meses atrás, eu e Manuel bêbados, sentados no meio fio de uma rua qualquer,  ele me disse por palavras arrastadas " sabe... toda essa gente que se diz gay, bi e o resto do alfabeto tão tudo possuído pelo diabo, nossa sociedade precisa ser espurgada! Se eu vejo um sapatão jogo água benta e se não funcionar, faço Ela virar mulher do jeito antigo" eu não me importei com tais atrocidades na hora, mal pude me lembrar delas no dia seguinte. Faz uma semana que minha irmã me confessou está apaixonada pela melhor amiga. Me viro abruptamente, meu olhar passar pelo corpo no chão, blusa rasgada, calça aberta. Travo ele... ele... ele vai pagar pelo que fez. Me viro e lhe encaro


  –LEVANTA!! LEVANTA E ME ENCARA COMO HOMEM, mas não, você não é  homem, é um pedaço de merda, a escoria da sociedade é você! Você a  abusou e mesmo assim não satisfeito seguiu e matou

– Eu queria salvar-lá, eu fiz um favor para sua família, livrei vocês do mal, antes que ele se espalhasse

– Ah, sim, sim! Muito obrigado! Que tal em troca, eu retribuir o favor!!!

Não espero que ele levante, ou sequer dou tempo para que ele se defenda. Acerto com o taco em sua cabeça, depois outra vez, e outra, e outra, incontáveis vezes. Não sei ao certo quanto tempo fiquei ali o golpeando sem pausa. Fui obrigado a parar quando o taco se partiu no meio. Olhei bem para o estrago que tinha feito, não era possível reconher um rosto, seu crânio partido ao meio, seus miolos espalhados pelo chão. Não me sinto satisfeito. Pego a faca e retiro lhe as calças, corto fora o brinquedo dele e enfio em sua goela. Agora sim estou satisfeito. Não me dei o trabalho de esconder o corpo o deixei largado no chão, levei minha irmã até o aquecedor da casa, queimei seu corpo até se reduzir a cinzas. A levei comigo em um colar, que carrego em sempre perto do meu peito. Cogitei me entregar a polícia nos dias que se passaram, porém optei por me mudar de país e começar uma nova vida.

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