Digão
Quinta 13/08
Ontem de madrugada teve troca de tiro aqui no morro e morreu dois moradores, um menino chamado Lucas de 7 anos e uma garotinha de três anos, os dois foram vítimas de bala perdida. A polícia subiu o morro atirando, bem na hora que as crianças foram baleadas, mas isso a Globo não vai mostrar
Nós já até sabe, se os preto entrar aqui, vai morrer polícia, vai morrer bandido e o crime não vai para, porque se sair nós vai entrar outros e a bala vai comer do mesmo jeito
Não tô querendo passar pano pra bandido, gente rouba, tráfico e mata sem dó, mas matar criança nunca fazemos, muito menos ficamos arrumando confusão com os cu azul. Eles que quebraram o arrego e subiram o morro atirando em qualquer um.
O menino Lucas estava dormindo e a bala atravessou a janela do seu quarto, a pequena Laura estava chegando do hospital com sua mãe que também foi baleada.
O grito da mãe da Laura surge no meu ouvido mais uma vez, a imagem dela chorando em cima do corpinho de sua filha aparece na minha cabeça, me fazendo fechar os olhos forte.
Corolla:qual foi, Digão?- bateu no meu ombro, abri os olhos encarando ele e neguei com a cabeça respirando fundo- fica pensando nisso não pô, não foi culpa tua
- mas o pau no cu que atirou ainda tá vivo e pode matar mais pessoas - passei a mão na cabeça respirando fundo- vai sair agora?
Corolla:Tenho que ir na minha baronesa, tu pode ficar suave ai- balancei a cabeça levantando do sofá da salinha e sai, subi na minha moto e fui andar sem rumo-
As vezes quando eu tô muito pensativo, fico andando sem rumo conversando sozinho, sempre tenho respostas pras minhas dúvidas.
Passei pelo beco estreito vendo algumas crianças brincando, desacelerei e fui devagar, sorri vendo uma menininha pretinha só de calcinha em uma piscininha rosa, ela deu tchau com a mãozinha pequena e eu sorri acenando de volta
Ela mandou beijo sorrindo e eu sorri, virei o pescoço olhando pra frente e decidi ir ver minha mulher, ela tava meio puta porque não dormimos juntos ontem, e porque na hora do confronto eu não mandei mensagem dizendo se estava bem ou não
Parei a moto na frente do salão, olhei pela porta de vidro, ela sentadinha na cadeira com o celular na mão, desci o descanso com o pé e tirei a chave a da ignição saindo da moto, enfiei a chave no bolso e abri a porta vendo ela me olhar
-Nao adianta fica putinha e me mandar embora, já falei contigo que eu não vou, e expliquei o porquê eu não mandei mensagem - falei logo de uma vez vendo ela fazer careta-
Viviane:Mas também não mandou quando chegou em casa, ou ao menos pediu alguém pra me avisar - cruzou os braços se sentindo a dona da razão -
-Eu tava resolvendo as coisas das crianças que morreram, duas crianças morreram nessa madrugada e eu fiquei ajudando uma das famílias, a moça da menina tava passando mal- respirei cansado e ela ficou em silêncio me olhando -
Ela levantou vindo me abraçar e eu suspirei sentindo um peso sair do meu corpo, fechei os olho sentindo ela fazer carinho na minha cabeça e relaxei o corpo
Viviane:Desculpa, eu juro que não sabia - falou com voz de choro e eu ri levantando a cabeça - duas criancinhas, amor?