Ethan
- Talvez devêssemos fazer uma pausa. - ouvi alguns risos e comemorações. Cory veio na minha direção retirando os fones de ouvido. Ele tinha a mesma expressão paternal que usava quando queria ditar quais atitudes eu deveria tomar.
Antes que ele pudesse iniciar qualquer discussão, eu já tinha me levantado e colocado a mochila nas costas. A passividade com pequenos toques de ironia o deixavam ainda mais aterrorizante, e impossível querer estar perto.
- Eu sei que, no fundo, você entende que apenas quero o seu bem. - qualquer conversa que não tomasse o rumo desejado por ele partia para apelação emocional.
Eu já tinha ouvido alguns alertas a respeito do meu empresário, mas havia da minha parte uma gratidão que talvez devesse ser reconsiderada.
- Preciso sair! - saí do estúdio as pressas, ainda tendo que ouvir os chamados que eu sabia que só cessariam quando ele de fato se desse conta de que ninguém era um fantoche nas mãos calejadas, como ele mesmo costumava dizer.
Num meio tão difícil, Cory tinha conseguido muitas coisas para mim, mas a forma como ele conduzia o trabalho nem sempre tinha minha aprovação. Além do fato de ser preconceituoso.
Pela centésima vez encarei o papel arrancado de um bloco de notas, havia as inicias do meu irmão na parte inferior do papel e a letra era quase ilegível. Um endereço e um número de telefone.
Talvez eu devesse ser sensato e apenas tentar um contato mais distante, tendo o cuidado de não ofendê-la ao pedir que resguarde aquela informação para si. Ou seria prudente da minha parte tratar daquilo pessoalmente e impedir que virasse noticiário logo?
Era uma sexta, aquela hora da noite não deveria haver tantos carros no meio da rua. Mas com as festas de final de ano se aproximando, era como se todos lembrassem do que havia de ser feito. Encostei a cabeça no banco do carro e as lembranças de duas noites atrás vieram como uma enxurrada, levando toda a minha sanidade naquele tsunami perigoso.
- Ainda falta pelo menos vinte pessoas para tirar fotos. - Marcus espreitou pela porta do camarim e veio com os olhos em agonia. Apesar de ser grato por haver fãs, aquela hora era sempre tão exaustiva que tudo o que precisávamos era de cama e uma boa noite de sono.
- Ótimo! Podem ir, eu fico com os seguranças. - os olhos pularam de felicidade, e os dois saíram rapidamente pelo outro lado. Cory ainda estava ao telefone com o organizador do show que tinha ligado para agradecer pela preparação do evento e toda a receita que tinha gerado. Eu não fazia ideia que teriam tantas pessoas mesmo sendo num espaço fechado.
- Certo, Sr. Malcolm. Nos vemos em breve. - quando este desligou o telefone, a maioria das pessoas já tinha ido embora e só restava o pessoal da limpeza e desmonte das estruturas.
- Eu tenho que ir! - me despedi vendo como ele estava eufórico com o sucesso de tudo. A ambição que pairava sobre aquele homem chegava a ser assustadora.
Cory não mediria esforços para passar por cima de quem quer que fosse para conseguir alcançar os objetivos.
- Oh, merda! - ouvi um gemido de dor e voltei alguns passos até os banheiros. Aquela parte do local já tinha sido esvaziada e limpa. - Eu deveria deixá-la para trás, mas como sou uma boa amiga, cá estou eu procurando-a como uma idiota.
Havia uma mulher andando de um lado para o outro na frente dos banheiros a falar com alguém pelo telefone. Estava tarde, e ela não parecia preocupada em sair, mesmo sendo aquele um local privado que tinha deixado de ser uma festa.
- Com licença. - ela levantou o olhar preguiçosamente para me encarar, e quando me viu apenas deu um breve sorriso, desligando o telefone e o guardando no bolso. Estava escuro sem as luzes das estruturas do palco.
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Cicatrizes - Evan Maddox
Short Story"- Demorei até perceber que estava envolvido numa história de amor intensa, e quando o fiz nada mais parecia fazer sentido. Além dela, só o que construímos juntos conseguia ser mais incrível."