Ficamos nós dois sozinhos pela primeira vez. Sentei no sofá com ela no colo e a vi abrir os olhos. Eram escuros, como os da mãe. Mas a pele ainda era tão clara que conseguíamos ver as pequenas veias. Não houve choro, apesar de saber que ela não podia me enxergar exatamente, o rosto redondo continuou sério. Sem sinais de que choraria por não estar perto da mãe.
Eu jurei naquele momento que a paternidade seria a prioridade da minha vida, que eu daria àquela criança tudo o que não tive e muito mais.
Lexie dormiu por quatro horas seguidas, quando acordou já era quase dez da noite. Sarah tinha voltado a dormir e apesar de saber que era normal, não deixava de estranhar o fato dela sempre dormir ou estar sonolenta. Pelo que eu tinha pesquisado, os bebês dormiam a maior parte do tempo.
- Acho que é a sua vez de dormir. - eu tinha ouvido os passos dela se aproximando, mas o som da voz sempre tinha um poder sobre mim.
- Estou bem. - me levantei, saindo do lado do berço. - Durmo o suficiente durante a noite.
- Não existe sono noturno quando se tem bebês em casa. - ela sorriu, passando por mim. O cheiro dela era terrivelmente excitante. - Quanto tempo quer que eu fique?
Parei ao ouvir a pergunta. Ela sabia a resposta, talvez estivesse me testando.
- Para sempre, talvez. - ela riu. - Poder olhar para você todos os dias tem sido o melhor remédio para todos os meus problemas. Cometi o maior erro da minha vida ao agir daquela forma desprezível. Espero que um dia você conheça essa parte de mim que me perturba tanto e entenda tudo. - havia surpresa nos olhos dela. Eu deveria ter sido franco desde o primeiro momento, e não agido como se o sentimento que tínhamos um pelo outro fosse necessário para justificar qualquer atitude minha. O amor era, sobretudo, uma flor frágil que precisava de cuidados e atenção. E não só de esperança.
- Estou feliz por viver isso com você. - as palavras entraram na minha cabeça como magia. - E tenho certeza que será um bom pai.
Nada havia ficado implícito. Embora parecesse uma luz no fim do túnel, não podia afirmar que ela estava me dando uma segunda chance. Ou uma terceira. Foram tantas vezes em que errei com ela que não a julgava por não me querer perto.
Decidi deixá-la sozinha com a criança e saí. Enquanto me distanciava do quarto pude ouvir os passos lentos se aproximando, e o meu corpo tremia fortemente ao imaginá-la tão perto novamente. Parei no meio do corredor e fechei os olhos ao sentir os braços pequenos em torno de mim. Imediatamente coloquei as mãos nas dela, que se entrelaçavam na frente da minha barriga. O cheiro estava ali novamente. Depois de tanto tempo.
- Eu amo você, Lexie. Você me ensinou a te amar tão bem que eu não consigo imaginar um dia sequer da minha vida sem você, e agora com a Sarah é mais difícil ainda.
Senti as lágrimas molharem a minha camisa. Eu não queria mais fazê-la chorar.
- Eu sentia sua falta todos os dias, queria vir correndo atrás de você. Mas doía tanto lembrar da forma como você falou comigo aquela noite. Jurei que jamais voltaria a me aproximar, mas talvez o nosso destino seja esse. E não importa o que eu faça, o resultado sempre será você, Evan. - ela tinha aquele poder de me deixar sem palavra, e embora sempre tenha sido completamente honesta com seus sentimentos, Lexie parecia receosa naquele momento. E eu percebi que era porque ela estava de fato com medo.
Agir como alguém insensível, indiferente aos sentimentos alheios era só uma capa protetora para me proteger de tudo o que eu já havia passado ao longo da minha vida. Mas as pessoas ao meu redor não tinham como saber disso. E eu nunca fiz questão de me expor a ponto de demonstrar qualquer fraqueza.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Cicatrizes - Evan Maddox
Short Story"- Demorei até perceber que estava envolvido numa história de amor intensa, e quando o fiz nada mais parecia fazer sentido. Além dela, só o que construímos juntos conseguia ser mais incrível."